Para atrair clientela brasileira, lojas parisienses começam a aceitar Pix
Quando vai a Paris, a advogada Tayanna Delgado, 40, costuma incluir, além de museus e cafés, farmácias em seu roteiro de viagem. Os atrativos são cosméticos e produtos para a pele de marcas europeias nem sempre fáceis de se encontrar no Brasil, com preços mais baixos. Assim como ela, outros brasileiros chegam à capital francesa com uma lista de compras. E, com o Euro a quase R$ 6, algumas lojas do comércio parisiense já começaram a aceitar Pix como forma de pagamento.
A ideia, segundo os lojistas, é atrair mais visitantes e oferecer uma alternativa ao cartão de crédito ou dinheiro em espécie. O sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central do Brasil já é aceito em cerca de 30 estabelecimentos na França, entre eles uma das farmácias mais conhecidas entre os turistas: a Citypharma, na região de Saint-Germain-des-Près, no centro de Paris.
A divulgação da loja, antes feita boca a boca, agora conta com um cartaz na porta anunciando o Pix, o que chama a atenção dos brasileiros que passam pela rua. O lugar recebe até 200 brasileiros por dia em épocas mais movimentadas, segundo os vendedores.
Tayanna e o marido, o também advogado Thiago Campbell, 40, conheceram a farmácia por indicação de uma tia que mora na cidade e se surpreenderam ao saber que a loja aceita Pix.
'Mais uma opção'
"Trouxemos euros para evitar pagar as taxas do cartão de crédito, mas descobrimos que muitos lugares só aceitam cartão. Achamos maravilhosa a ideia do Pix porque evita que a gente tenha que andar com tanto dinheiro e acaba sendo mais uma opção", diz Tayanna. Entre as compras do casal estavam cremes e protetores solares, além de cosméticos masculinos.
"A variedade aqui é muito maior. No Brasil é mais difícil achar produtos para homens", completa Thiago.
A França recebe por ano cerca de 1,2 milhão de turistas brasileiros, volume que corresponde a apenas 0,6% dos turistas globais, mas que tem nas compras uma das principais motivações de viagem.
Um levantamento da Agência de Desenvolvimento Turístico da França (Atout France) feito em 2019 revelou que o consumo vem em segundo lugar na programação de férias dos brasileiros no país, atrás apenas do turismo urbano, mas na frente de um dos carros-chefes da França, a gastronomia.
Padrão de consumo
Sommelier na loja de vinhos Divvino, o franco-brasileiro Gabriel Durand, 29, conta que os clientes brasileiros têm um padrão de consumo mais elevado em relação aos turistas europeus, que correspondem à grande maioria (87%) dos visitantes que a França recebe por ano.
"O europeu vem à loja e compra uma garrafa de vinho, enquanto o brasileiro compra 12. É uma questão de distância, já que o brasileiro está mais longe, então aproveita para comprar mais em cada visita, mas também uma questão de status. O consumo toca o brasileiro e o europeu de formas diferentes", diz o sommelier.
Fundada pela brasileira Marina Giuberti em 2013 e especializada em vinhos raros, artesanais e orgânicos, a Divvino também oferece degustações de vinhos em diversos idiomas, entre eles o português, o que atrai muitos clientes brasileiros.
Segundo Marina, a loja recebe entre 30 e 50 clientes brasileiros por semana, entre turistas e residentes na França e na Europa. A loja começou a aceitar o Pix no fim do ano passado e hoje cerca de 30% da clientela brasileira já usa essa forma de pagamento.
"É um pagamento rápido, fácil e com segurança, e tem vantagens para o cliente por não ter a cobrança do IOF", afirma a empresária.
A maioria dos clientes brasileiros, de acordo com Marina, busca os vinhos franceses pelo prestígio e pelo preço mais baixo, resultado de um sistema tributário francês que considera o vinho como um produto de necessidade básica, e não de luxo, como no Brasil.
Perfil cultural
A fama de bons compradores dos brasileiros fez com que muitos estabelecimentos começassem a investir na atração da clientela brasileira. É o caso da perfumaria Fragrance de L'Opéra, próxima à Ópera de Paris, onde os brasileiros correspondem a cerca de metade dos fregueses.
Comandada por duas francesas de origem chinesa, a loja começou a aceitar Pix há cerca de cinco meses. Além de ter vendedores que falam português, uma das donas também começou a aprender o idioma e contratou como gerente a brasileira Poliana Palhano, 26, para facilitar a comunicação com os visitantes.
O perfil dos clientes é variado, vai desde brasileiros aposentados com alto poder aquisitivo, que viajam a Paris mais de uma vez ao ano, até casais e grupos turísticos de classe média, mas que querem realizar o desejo de comprar um perfume na capital francesa.
"Os brasileiros e os latinos, em geral, compram muitos perfumes, mais que os europeus. É cultural. E as perfumarias parisienses têm contato direto com as marcas, então o cliente sabe que comprando em Paris terá acesso ao perfume original, direto da fábrica", explica Poliana.
A exclusividade da perfumaria francesa, com atendimento em português e alternativas de pagamento variadas foram os motivos que levaram o microempresário Leonardo Almeida, 34, a virar cliente da loja. "Eu sou apaixonado por perfume, essa é uma das coisas que nunca vão faltar na minha casa, na minha mala, na minha vida. Costumo comprar os perfumes clássicos franceses e gosto de comprar aqui pelos preços e pela qualidade dos produtos, que é incrível. Além disso, as vendedoras sempre me ajudam, sugerindo novidades", conta ele.
Taxa ainda alta
As formas de pagamento mais usadas pelos brasileiros nas lojas ainda são o dinheiro em espécie e o cartão de crédito, como no caso de Leonardo. Mas o Pix surgiu como mais uma alternativa, sem custos extras para os lojistas.
O problema, segundo Poliana, é que a taxa cobrada aos clientes ainda é muito alta. "Em alguns casos, sai o preço de um perfume, então os clientes acabam optando por outras formas de pagamento", explica a gerente.
O pagamento com Pix é feito através de uma plataforma, chamada VoucherPay. A taxa de serviço cobrada é de 3% após a conversão do Euro para o Real. Há uma cobrança de mais 3% caso o cliente opte pelo parcelamento em até 10 vezes.
Ou seja, em uma compra de alto valor, por exemplo, de mil euros, o cliente teria que pagar 30 euros apenas de taxa para pagar com Pix. Para efetuar o pagamento, ele utiliza o aplicativo do próprio banco e na hora de fazer o Pix, seleciona a opção de pagamento por QR Code. A loja gera então um código com o valor da compra.
A plataforma começou a oferecer o sistema de pagamentos instantâneos em Paris em 2020, em parceria com o banco brasileiro BS2.
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