Preso, Thiago põe família Brennand em disputa por causa de sobrenome

"Se fosse possível, judicialmente, eles tentariam reverter esse sobrenome." A frase, dita em condição de anonimato por um amigo próximo da família Brennand, no Recife, resume o desgosto de parentes em torno da exposição negativa que um dos clãs mais conhecidos de Pernambuco enfrenta desde o final de 2022.

Em agosto de 2022, o nome Brennand passou a estampar manchetes dos principais noticiários do país por causa do empresário Thiago Antonio Brennand Fernandes Vieira, 43, um "primo" acusado de crimes como agressão, estupro e até corrupção de menor.

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"Existem dois principais núcleos Brennand: um artístico e outro empresarial. Thiago tem mais proximidade com o grupo de empresários", explica o amigo, alguém que convive com eles há três décadas. "Entre os dois lados há um constrangimento de falar sobre esse assunto. Todo mundo sempre foi discreto, mas ele colocou o nome do pessoal na pior visibilidade possível."

Oficialmente, Thiago é Brennand desde 2020, quando pediu na Justiça a incorporação do sobrenome materno ao seu registro civil. Desde então, passou de Thiago Antonio Fernandes Vieira para Thiago Antonio Brennand Tavares da Silva Fernandes Vieira. De mudança para São Paulo em 2019, tornou-se conhecido no círculo de bilionários da capital paulista como Thiago Brennand.

Outros Brennands

Em Pernambuco, os Brennand são uma família de prestígio, dona de muitos hectares de terra, usinas e engenhos de açúcar, cuja fortuna é engrossada com indústrias nas áreas de aço, cimento, cerâmica, energia eólica e hidrelétrica.

Nacionalmente, no entanto, são famosos no meio cultural, por causa do artista Francisco Brennand, dono de um monumental museu a céu aberto e ateliês nos galpões da fábrica de cerâmica da família. No mesmo bairro da Várzea, no Recife, foi erguido o Instituto Ricardo Brennand — um castelo com acervo de armas, quadros e esculturas do industrial e colecionador de arte. Francisco e Ricardo eram primos e morreram, respectivamente, em 2019 e 2020.

Francisco, no entanto, foi o mais conhecido dos Brennand. A obra dele marcou as artes visuais do país, com esculturas e pinturas — por isso, manteve-se distante do viés empresarial dos outros parentes, como o irmão Cornélio e o primo Ricardo.

Em 18 de abril, a filha mais nova de Francisco Brennand, a também artista plástica Helena Viktoria, publicou no Instagram um vídeo criticando a imprensa pelo uso indevido, segundo ela, do sobrenome do pai nas manchetes policiais. "Tô indignada com isso", reclamou. "Tá virando um caldo e uma confusão tão grande, mas eu juro que eu ainda vivo para conseguir botar os pingos nos is."

Para Helena, o episódio é mais um de uma série de equívocos que associam seu pai a histórias com as quais ele não tem nenhuma relação. Entre os exemplos citados por Helena, em entrevista ao TAB, estão o Instituto Ricardo Brennand e um edifício residencial em Boa Viagem, zona sul do Recife — ambos pertencentes a outros parentes.

"Papai começou a ter fama de milionário, coisa que nunca foi", lamenta Helena. "Inclusive, nos anos 2000, logo depois da abertura do Instituto Ricardo Brennand, papai escreveu um manuscrito que foi entregue para algumas pessoas no Recife, cujo título era: 'Brennand. Meu nome é um só', em que ele fala justamente nessa confusão por trás do nome. Aí agora vem Thiago."

'Direito indiscutível'

O vídeo de Helena Viktoria recebeu dezenas de comentários, entre eles o de Joana Fernandes Vieira, mãe de Thiago. Ela respondeu à artista, defendendo a legitimidade do sobrenome Brennand no empresário, expondo o cisma familiar sobre a questão.

"Helena: o sobrenome Brennand é tanto seu quanto meu. Consta do meu registro de nascimento. Ao nascerem meus filhos, optei por colocar apenas o sobrenome do pai, Fernandes Vieira, do qual muito me orgulho", disse Joana. "Assim sendo, mesmo tendo retirado o Brennand do meu nome ao casar, não deixei de ser Brennand, e é opção dos meus filhos e netos, agregarem ou não este sobrenome aos seus, quando assim o desejarem. Lamento seu depoimento se apropriando do que é nosso direito indiscutível", completou. O comentário, em seguida, foi apagado.

Ao TAB, Helena explica: "Se a pessoa prestar atenção no que eu tô falando e na legenda do próprio vídeo, vai entender que eu apenas estou me referindo a manchetes de jornal".

A artista nega que deseje recorrer à Justiça sobre a mudança de sobrenome de Thiago, mas critica que ele tenha feito "tudo isso com a identidade nova que escolheu, justamente com o nome famoso".

"Acredito, sim, que muita gente da família esteja incomodada", diz.