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Aqui, o agro é pop: feira agropecuária de Goiás retoma shows pós-pandemia

76ª Feira Agropecuária do Estado de Goiás - Théo Mariano/UOL
76ª Feira Agropecuária do Estado de Goiás
Imagem: Théo Mariano/UOL

Théo Mariano

Colaboração para o TAB, de Goiânia

28/05/2023 04h01

O movimento na 76ª Feira Agropecuária do Estado de Goiás começa antes de o galo cantar. Na parte de trás do Parque de Exposições Agropecuário, no Setor Nova Vila, em Goiânia, o vaivém dos caminhões transportando cavalos e bois é intenso desde cedo. Os trabalhadores, com suas botinas, jaquetas e chapéus, carregam os animais para os estandes onde ficam expostos — 21 fazendeiros participaram da exposição, vitrine do agronegócio na região.

Quando a noite cai, contudo, e o véu da via láctea cobre o céu da capital goiana, é que a feira, popularmente abreviada como "Pecuária", realmente acontece. Após três anos sem shows devido à pandemia, a feira reabriu portões para a população em geral. Shows atraíram os quase 500 mil visitantes deste ano, segundo a organização. "A 'goianada' queria a festa de volta", disse ao TAB o presidente da SGPA (Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura), Gilberto Marques Neto, responsável pelo evento, realizado entre 18 e 28 de maio.

De fato, queria. Na sexta-feira (26), era perceptível a euforia dos visitantes, muitos trajados com botas, camisas xadrez e chapéus de caubói.

As milhares de vozes se confundiam entre a fumaça dos cigarros de palha, o cheiro intenso dos animais expostos, do pastel com caldo de cana e da poeira que subia com o movimento nas vias do Parque de Exposições, cuja área tem cerca de 15 hectares.

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Imagem: Théo Mariano/UOL
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Havia estande de bancos, máquinas de cartão, lojas de roupas, comidas, quitandas, ambulantes que vendiam cerveja e cigarro, além das famosas balinhas — afinal, o beijo na boca também faz parte da festa. Enquanto alguns se abraçavam para aproveitar os shows e entoar hinos apaixonados da música sertaneja, outros visitantes buscavam se aconchegar nas cadeiras para comer em algumas das vendinhas que estavam por ali.

Eram tantas pessoas que, por vezes, o sinal de internet deixava de funcionar. Mas não raro os visitantes aproveitam o cenário da feira para fazerem seus registros. "Moço, você pode fazer uma foto nossa? O cenário ao fundo está bonito", pediu uma das visitantes.

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Imagem: Théo Mariano/UOL

Quando a noite cai

O contraste entre dia e noite na Feira Agropecuária é perceptível. De manhã, há principalmente famílias passeando pelo local de visitação. Quando aparecem as estrelas, elas voltam para casa, e a festa vira "point" para a juventude aproveitar a madrugada. É a combinação que mais atrai os jovens goianos: cerveja, chapéu e sertanejo.

Na arena de shows, enquanto o cantor Murilo Huff se apresentava, Júnior Abreu, 29, gerente comercial, e Jafia Martins, 26, analista fiscal, aproveitavam bem agarradinhos, com o traje famoso da pecuária. "Uai, a pecuária é uma tradição em Goiás", definiu ele, para quem o costume é passado "de geração em geração" e mostra a força do agro.

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'O agronegócio é a grande potência no estado de Goiás. Tudo vem desse setor'
Imagem: Théo Mariano/UOL

"O agronegócio é a grande potência no estado de Goiás. Tudo o que está na nossa mesa vem desse setor", disse. "O show tá top, mas agorinha deve melhorar mais ainda."

Para os moradores da região, resta aceitar o som que vem do parque. Entre os shows deste ano estavam Wesley Safadão, Léo Santana, Maiara e Maraísa, e Hugo e Guilherme, com ingressos de R$ 10 a R$ 60.

Outros moradores aproveitaram a festa para ganhar um dinheiro extra. O comércio local estende o horário de funcionamento, e vizinhos do parque reservam suas calçadas para cobrar estacionamento dos visitantes. Segundo os flanelinhas, sempre gritando e acenando para os carros pararem, o preço cobrado para estacionar na área era o mesmo para todos: R$ 40.

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'Hoje estou no show, amanhã estou de volta para ver o gado', disse o agropecuarista Alex de Queiroz
Imagem: Théo Mariano/UOL

Nem tudo é festa

Há também a parte dos negócios. Nos dez dias de exposição, foram apresentados mais de 600 animais nos julgamentos realizados durante a tarde. Os animais são expostos e passam por uma avaliação, que observa sua carcaça, características que permitem reprodução e diversos outros fatores que no fim culminam na valorização financeira dessas criações.

"Hoje, estou aqui para ver o show com a família. Amanhã cedo estou de volta para ver o gado disponível", contou o agropecuarista Alex de Queiroz, 42.

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'O que nós temos é uma vitrine', definiu o cuidador de animais Lucas Henrike
Imagem: Théo Mariano/UOL

Num dos estandes, de olho em diversos bois nelore, estava trabalhando Lucas Henrike. Ele explicou que cada fazenda leva um "time de futebol" com seus melhores animais. Cada um deles, a depender da idade e espécie, passam por avaliação em suas categorias e, posteriormente, um julgamento geral. Ao final, é definido o grande vencedor e o pecuarista vê suas crias valorizarem no mercado.

"O que nós temos aqui é uma vitrine", explicou o cuidador dos animais.

A vitrine não é só dos animais, mas da música sertaneja e de um estilo de vida valorizado pelos goianos. Afinal, aqui, o agro é pop.

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