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Nazismo entre estudantes do PR: 'Adoro negros, pena que pararam de vender'

Postagem encontrada no celular de um dos estudantes de direito fazia alusão à organização supremacista americana Ku Klux Klan - Divulgação/Polícia Civil do PR
Postagem encontrada no celular de um dos estudantes de direito fazia alusão à organização supremacista americana Ku Klux Klan Imagem: Divulgação/Polícia Civil do PR

Denise Paro

Colaboração para o TAB, de Foz do Iguaçu (PR)

25/07/2023 04h01

Três universitários do curso de direito da UniAmérica, uma instituição privada de Foz do Iguaçu (PR), viraram alvo de uma investigação da Polícia Civil por apologia ao nazismo e associação criminosa. Após postar mensagens preconceituosas em um grupo de WhatsApp que reunia colegas de classe, o trio foi denunciado e passou a ser suspeito de integrar uma célula nazista.

Entre as mensagens compartilhadas pelo trio com os colegas estão frases como "essa aí vai para o gás" e "eu adoro negros, pena que pararam de vender". O delegado responsável pelo caso, Rodrigo Souza, considera preocupante o comportamento dos universitários. "Eles podem não ter coragem [de cometer uma violência], mas ficam estimulando. A gente tem que estancar isso", avalia.

Procurada pelo TAB, a UniAmérica, que encaminhou a denúncia dos estudantes às autoridades, preferiu não se manifestar.

Algumas das postagens faziam menções diretas ao ditador nazista Adolf Hitler em imagens em vídeo. Incomodados com o comportamento agressivo e preconceituoso dos colegas, estudantes da turma chegaram a excluí-los do grupo de WhatsApp, segundo a polícia.

As investigações tiveram início há dois meses, depois que a polícia recebeu uma denúncia da instituição de ensino e cumpriu um mandado de busca e apreensão na casa de um dos estudantes. A partir da análise do celular, os investigadores descobriram a participação de outros alunos nas postagens e deflagraram uma operação para cumprir mais seis mandados de busca e apreensão na casa de outros dois deles, em 10 de julho.

Chamou a atenção dos policiais o fato de um dos universitários investigados usar como protetor de tela de seu notebook uma imagem do Massacre de Columbine, ocorrido em abril de 1999 em um colégio nos Estados Unidos. A imagem passou a ser usada pelo estudante na semana em que ocorreu o ataque a uma escola de Cambé, no norte do Paraná.

Estudantes nazistas em Foz do Iguaçu - Divulgação/Polícia Civil do PR - Divulgação/Polícia Civil do PR
Foto do Massacre de Columbine na proteção de tela de um acusado, incluída na semana do ataque a Cambé
Imagem: Divulgação/Polícia Civil do PR

De tornozeleira

Os estudantes de direito acusados estão sendo monitorados com tornozeleira eletrônica e proibidos de ingressar no estabelecimento de ensino. A polícia suspeita que eles sejam participantes ativos de grupos de disseminação de ódio.

O delegado Souza conta que o comportamento dos investigados gerou um clima de tensão e medo em sala de aula, preocupando colegas, que evitam falar sobre o assunto. Ele informou ainda que, durante a verificação dos celulares dos acusados, foi identificado um outro grupo de WhatsApp intitulado "Partido Nazista", com troca de mensagens sobre o assunto. Uma postagem fazia alusão à Ku Klux Klan, organização supremacista dos EUA.

"Há discursos racistas, homofóbicos, elementos inerentes ao nazifascismo", confirma o Secretário de Direitos Humanos e Relações com a Comunidade de Foz do Iguaçu, Ian Vargas. Ele afirma que está acompanhando a investigação e colocou a secretaria à disposição para organizar palestras e fazer campanhas educativas para combater este tipo de crime.

Contradição

Para a polícia, os universitários acessaram o conteúdo postado em grupos de disseminação de ódio. Dois dos estudantes usavam aplicativos para mascarar o endereço de IP do computador, evitando a identificação.

Ao colher o depoimento, Souza diz que um deles se mostrou contrariado pelo fato de um delegado negro conduzir o inquérito. E afirma que um dos acusados tem "cor parda". Os alunos investigados têm idades entre 19 e 20 anos e não possuem antecedentes criminais.

Segundo Souza, os pais dos garotos disseram desconhecer a participação deles nas postagens. Um dos pais informou ao delegado que o filho ficava muito no celular e no computador, mas que ele não imaginava tal comportamento.

As investigações prosseguem e a polícia aguarda laudos complementares após a finalização das perícias nos aparelhos celulares. É possível que outros integrantes da rede sejam identificados. Nas conversas rastreadas, há contatos dos estudantes com pessoas de Santa Catarina, estado com presença de grupos nazistas e supremacistas.

Se forem condenados, os universitários podem ser submetidos a penas de 2 a 5 anos por crime de apologia ao nazismo (artigo 20 da lei 7716), e de 3 anos por associação criminosa.

A polícia, que diz estar recebendo inúmeras denúncias relacionadas a disseminação de conteúdos de ódio em Foz do Iguaçu, vai encaminhar cópia do procedimento para a instituição de ensino. Os alunos poderão ser expulsos.

A reportagem do TAB fez contato com a UniAmérica. Após a publicação da reportagem, a assessoria de imprensa encaminhou a seguinte nota: "A UniAmérica não tolera e repudia veementemente qualquer tipo de preconceito, violência e discurso de ódio. Ao receber denúncias sobre a atitude de alguns alunos, procurou as autoridades e colabora no inquérito policial em curso. O centro universitário reitera o seu comprometimento com os direitos humanos e abriu um processo disciplinar administrativo para que sejam tomadas medidas necessárias e reforça que todos os investigados estão impedidos de acessar a unidade".