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Grammy: Anitta perde oportunidade de conscientizar fãs sobre racismo
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Racismo é um assunto de todos — e, nesse sentido, tanto faz a cor da sua pele. O que importa, em qualquer circunstância, é ter atitudes antirracistas. É exatamente essa iniciativa que tem faltado a Anitta desde o último domingo (5), quando o Grammy de "Artista Revelação" foi entregue à jazzista Samara Joy, uma nova-iorquina negra de apenas 23 anos e um talento assombroso.
A expectativa da aguerrida "fanbase" de Anitta era de que nossa representante levasse o prêmio conquistado por Joy. Diante do que encararam como derrota (existe o conceito de derrota em uma cerimônia que homenageia grandes artistas?), o que Joy recebeu em suas redes sociais foi uma avalanche de insultos variados — ironizando desde a qualidade de seu trabalho até seu nome artístico, passando por emojis e ofensas racistas.
O que se seguiu a esse linchamento virtual que escalou do vexaminoso ao criminoso foi a mobilização de famosos e anônimos brasileiros com mensagens de carinho nas redes de Joy. Da parte de Anitta, até aqui, nada foi dito.
Ao contrário do que muito se diz por aí, o otimismo é a arma dos fortes — e a gente adora pensar que a Anitta vai, sim, dar algum recado aos fãs sobre o sentido de um evento como esse, da arte, da disseminação de violência na internet, do racismo, do universo e tudo mais. O que choca é ela não ter feito nada disso até agora.
Na segunda-feira (6), Anitta postou uma série de vídeos falando sobre o prêmio, agradecendo o apoio de amigos e fãs, mas não houve qualquer menção a Joy, seu mérito indiscutível como artista ou sobre os ataques atribuídos aos anitters contra a jazzista.
"Estou passando aqui para agradecer todas as mensagens de carinho e de apoio de todo mundo, amigos, fãs, veículos. Foi muito lindo. Algumas pessoas me mandaram mensagem depois me consolando, mas não estou triste. Estou muito feliz. E o resultado é mesmo uma coisa que a gente não consegue prever, e está tudo bem. Mas o mais incrível mesmo era me ver lá", comentou.
É evidente que Anitta não tem como controlar o que seus fãs fazem na internet individualmente, mas qualquer recado de reconhecimento ao mérito de Joy já seria um ótimo exemplo a ser seguido. Mais do que isso, um posicionamento antirracista e antiviolência é o que se espera de qualquer ser humano consciente e bem-intencionado que tem lido os jornais ultimamente. Partindo de uma artista como Anitta — que tem o toque de Midas e amplifica qualquer assunto no Brasil —, a defesa desses direitos básicos valeria ouro, realmente.
No debate sobre que tipo de fã faria esse tipo de ataque a Joy, vemos de tudo. Há quem diga que os seguidores de divas pop andam cada vez mais exaltados, quem defenda que as mensagens contra a jazzista foram publicadas por robôs e até quem crave que isso tudo só pode ter sido obra de pessoas que odeiam a própria Anitta.
Muito se grita, também, sobre o quanto essa reação "passional" dos anitters nas redes sociais poderia prejudicar a carreira internacional da carioca. Em qualquer cenário e supondo que qualquer teoria conspiratória contra Anitta seja verdadeira, ninguém melhor do que ela própria para se defender e contar de que forma gostaria de ser amada e exaltada pelo seu público.
Que esse amor não vire ódio gratuito contra outra artista, mulher e negra, é uma excelente ideia.
Assim como qualquer fenômeno na vida ou no showbiz, tudo é político, e as tretas entre artistas sempre aconteceram. Para citar um exemplo 100% nacional, só os loucos sabem o que rolou entre o finado Chorão, do Charlie Brown Jr. e Marcelo Camelo, ex-Los Hermanos, em 2004, no aeroporto do Recife.
Não faltam exemplos de ódio entre famosos na história do mundo, mas é a primeira vez que temos fãs agindo como milícias digitais e investindo contra desafetos, em grupos imensos, usando discursos criminosos contra artistas como Joy — que estava simplesmente sendo reconhecida por sua obra, mas frustrou as expectativas de um pessoal brasileiro aí.
Lamentavelmente, essa não é a primeira vez que perfis que se identificam como fãs de Anitta disseminam discursos racistas na internet. Durante os anos em que ela e Ludmilla romperam relações, postagens com o mesmo tipo de violência foram compartilhados até pela cantora que, depois, disse ter denunciado o conteúdo. Um papo sério sobre esse assunto com os fãs viria muito a calhar para ela, para o público e para o mundo, de forma geral.
Qualquer admirador ou observador atento da trajetória de Anitta sabe que ela tem uma vida muitíssimo corrida, mas que seus mil e um projetos nunca foram empecilho para que ela controlasse cada aspecto de sua exposição na mídia. Nesse sentido, o silêncio de Anitta sobre os ataques a Joy também são uma mensagem. Nossa "Girl from Rio" já chegou em um estágio da fama em que tudo é declaração — inclusive a escolha de não se pronunciar.
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