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Conheça as Vivis Guedes da vida real e os perrengues dos influenciadores

Produção de foto do influencer Rafael Gonzaga - Letícia Naísa/UOL
Produção de foto do influencer Rafael Gonzaga Imagem: Letícia Naísa/UOL

Letícia Naísa

Do TAB, em São Paulo

22/11/2019 04h00

Com 2,5 milhões de "seguimores", o perfil de Vivi Guedes, influenciadora digital interpretada por Paolla Oliveira na novela "A Dona do Pedaço", que chega ao fim nesta sexta-feira (22), tem tudo que uma influencer de respeito precisa: fotos produzidas, posts patrocinados (os "publis") e os "mimos". Na ficção, a personagem terá um final inusitado longe das redes e ao lado de seu amor, Chiclete (Sérgio Guizé). No mundo real, a vida dos influenciadores é bem diferente.

Estava tudo pronto para a gravação quando um vendedor de banana, daqueles que ficam na rua com um megafone, começou a gritar as ofertas logo embaixo da janela. Entre risos nervosos, Rafael Gonzaga (@rafaaagonz), 28, resolveu compartilhar no Instagram o drama do influenciador brasileiro. Nos Stories, ele e o colega de gravação mostravam o "publi" da banana que poderia entrar no podcast.

A cena aconteceu em pleno feriado, quando, tecnicamente Gonzaga estava de folga. Em paralelo ao trabalho de influenciador, ele bate ponto numa agência de publicidade. "Tem dia que é literalmente jornada dupla, é cansativo", conta. "É uma rotina muito menos fechada do que a do trabalho tradicional, vai depender de demandas, entregas, da quantidade de eventos."

Entre tantos compromissos, os finais de semana e feriados também são usados para fazer um "banco de imagens" a serem postadas no Instagram ao longo da semana. A última viagem da influenciadora Marina Albano (@maalbano), 26, rendeu várias fotos. "Não tenho uma agenda certinha, mas faço Stories todos os dias. Com as fotos, a frequência é menor, mas é tudo mais pensado: a legenda, o filtro. É tudo questão de imagem, eu não tenho uma composição no perfil, mas tem certa direção de postagem", afirma. Assim como Gonzaga, Albano tem outra profissão além das redes: produtora culinária. Apesar de não precisar estar em um escritório todos os dias, ela mantém uma rotina para dar conta dos frilas, trabalhando de um café com aura instagramável.

A influenciadora Marina Albano trabalhando em um café instagramável - Letícia Naísa/UOL - Letícia Naísa/UOL
A influenciadora Marina Albano trabalhando em um café instagramável
Imagem: Letícia Naísa/UOL

Lugares bonitos para fazer fotos em São Paulo, como o bairro do Jardins, criaram um movimento de entra-e-sai nos banheiros de cafés e lojas. Há quem carregue provadores portáteis para trocar de roupa (desde iglus montáveis até bambolês e telas improvisando um vestiário). Há quem se troque no carro. As esquinas da rua Oscar Freire e as fachadas das alamedas vizinhas são a cenografia preferida das influenciadoras.

Apesar de não ser novidade um ensaio de moda composto por vários looks, impressiona que pessoas comuns, sem equipe de apoio, estejam ocupando alguns espaços para produzir imagens para o Instagram. "A diferença é que a revista faz superprodução e hoje se faz o máximo possível com o mínimo possível. Por isso, é tão lucrativo para as marcas. Barateou", diz Gonzaga.

Além de oferecer menos trabalho para as produções das marcas, os influenciadores são um tiro mais certeiro para atingir o público-alvo do que a publicidade tradicional na televisão ou nas revistas. Apesar dos microinfluenciadores não conseguirem se bancar apenas com o trabalho nas redes sociais, esse tipo de publicidade consegue dar um tiro certeiro por meio de peixes pequenos na rede. "O público é mais específico e mais fiel", explica Albano. E também custa menos dinheiro.

Influencer do Instagram - AFP - AFP
Influencer do Instagram
Imagem: AFP

A publicidade de um ser humano só é a realidade dos influenciadores. Quem ajuda de verdade são os amigos e parceiros. "Quem tira minhas fotos geralmente sou eu mesmo. Quem é grande consegue contratar fotógrafo. Mas sem tempo e dinheiro, é preciso ter senso estético", diz Gonzaga. "Hoje meu namorado faz a maioria das minhas fotos, eu dou instruções para ele. E ele consegue fazer, apesar de não ser fotógrafo."

Entre os pequenos influenciadores, quem faz iluminação e fotografia são os amigos e o transporte, um Uber. "Vejo o tipo de look e aí vou pensando em lugares que esses looks 'ornam'. Gosto de fazer foto ao ar livre, porque a maioria das minhas fotos são dentro de casa, então é bom variar", conta Carla Cristina, 27, influenciadora de moda (@notrabalho). "Levo os looks numa mala. Às vezes, está super quente, mas tenho que ficar plena. Já uso aquela make a prova d´água para garantir o close certo. Óculos escuros também sempre à mão, para disfarçar a cara de cansada no final das fotos", brinca.

Bastidores de ensaio da influenciadora Carla Cristina - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Bastidores de ensaio da influenciadora Carla Cristina
Imagem: Arquivo pessoal

No dia a dia, ela trabalha em uma empresa de cosméticos em horário comercial e dá conta do trabalho doméstico. "Meus feriados são sempre usados para produzir e editar conteúdo, já que faço tudo sozinha. Como estou sempre com o celular, tudo vira produção de conteúdo", diz.

Mas, ao contrário de modelos, os influenciadores não vendem roupas e produtos, mas um estilo de vida. "A timeline de um influenciador é uma página de publicidade. As pessoas te seguem pelo que você consome, mas também por quem você é", explica Gonzaga. "Meu feed tem que ser organizado e bonito para as pessoas desejarem ser minhas seguidoras. E não pode ter só publi também. Tudo o que é postado tem uma lógica que é parecida com a da publicidade"

Construir o feed perfeito, no entanto, custa tempo e também dinheiro. Para Albano, é um trabalho como qualquer outro, que exige dedicação e pesquisa. "As crianças querem ser YouTubers, influencers, mas todo YouTuber, todo influencer tem uma profissão anterior. O caminho, a plataforma é só um jeito de divulgar o seu trabalho, a sua profissão", diz. "Meu canal é sobre comida. Eu sou gastrônoma antes de ser YouTuber, produtora de conteúdo. Tem uma formação antes, mesmo que não seja formal, universitária."

Influencer do Instagram - AFP - AFP
Influencer do Instagram
Imagem: AFP

A diferença dos influenciadores para outros profissionais é que eles atingem muita gente. Por isso, é um trabalho de responsabilidade. "A influência é um resultado direto da produção de conteúdo. A gente é bombardeado todos os dias com propaganda e publicidade de todos os tipos o tempo todo, acho que uma das funções do produtor de conteúdo é filtrar essas propagandas", opina Albano.