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Empoderamento feminino: será que supervalorizamos casos individuais?

Case da empresaria Luiza Trajano, do Magazine Luiza, é exemplo positivo segundo os caóticos - Eduardo Knapp/Folhapress
Case da empresaria Luiza Trajano, do Magazine Luiza, é exemplo positivo segundo os caóticos Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress

Do TAB

07/03/2021 04h01

Já faz uns bons cinco anos que a palavra empoderamento vem ganhando interesse ascendente — pelo menos é o que mostram as buscas na internet relacionadas ao termo. Mas, o que pode parecer um conceito totalmente positivo e que faz progredir tem levantado alguns debates. Primeiro: será que empoderamento feminino, por exemplo, significa a mesma coisa para todo mundo, e tem tido o mesmo efeito sobre todas as mulheres?

"O feminismo como se estrutura a partir dessa nova onda é essencialmente burguês e elitista", avalia o antropólogo Michel Alcoforado. "A ideia de empoderamento é ótima, mas ela está completamente alinhada ao discurso neoliberal que valoriza a luta individual frente a uma causa que é infinitamente maior do que cada um de nós. Mudar a sociedade machista ou mudar as relações de poder que desfavorecem mulheres e transformam suas lutas em causas menores é um trabalho para ser feito em grupo, não individualmente", afirma ele (ouça abaixo partir de 19:30).

Esse tipo de fritação de ideias só poderia ter vindo de um lugar: o mais novo episódio de CAOScast. Na véspera do Dia Internacional da Mulher, empoderamento e feminismo entram em debate entre os caóticos, que logo avisam que não pretendem desmerecer ou criticar os temas, mas apenas trazer novas perspectivas sobre eles — reestruturar conceitos.

"Se tem mulheres absolutamente feministas que não usam os termos da moda, ou termos que a gente pode considerar esvaziados, isso de forma nenhuma descredibiliza os avanços dessa pauta. Faz com que a gente pense nessa pauta para outras perspectivas", frisa a pesquisadora Rebeca de Moraes (a partir de 24:26).

Uma das perspectivas levantadas pelos apresentadores é entender se esses temas não estão pautados em torno de poucas figuras de sucesso, calcados sobre um viés neoliberal. Se uma mulher, branca e com boa condição social, virou CEO de uma empresa, qual o reflexo real disso para as mulheres como um todo?

Para trazer avanços reais e para todas, os pesquisadores debatem que sucessos individuais são, sim, relevantes, mas não podem ofuscar o foco do debate, que deve continuar sendo de equidade. Um bom exemplo de caso individual transformado em ação coletiva, segundo eles, é o da presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, Luiza Trajano, que por sinal não costuma usar os termos "feminismo" ou "empoderamento" explicitamente.

"É ação coletiva com a construção de uma referência. Muito do que as pessoas falam dessa quarta onda feminista era de que era uma onda sem líder. O que a Luiza está fazendo é muito interessante. Porque não é nem uma coisa, nem outra, é um caminho do meio entendendo o que pode ser interessante dos dois lados" (ouça a partir de 29:40).

E para não exagerar na palatabilidade — porque mudança que é mudança incomoda, não é mesmo? — o pesquisador Tiago Faria alerta: "Eu acho que a gente tem que tomar um cuidado, que é o risco de a gente esvaziar a complexidade posta dentro do termo e construir a ideia de um feminismo de prateleira, que é asséptico, que é sem confronto, que é em concordância com o status quo", analisa o pesquisador Tiago Faria (a partir de 30:28).

Em vez de dar parabéns à mulher mais próxima nesta segunda-feira, 8, que tal ouvir o novo episódio de CAOScast e refletir sobre feminismo? É só dar o play acima.