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Será que a pandemia acabou com a espontaneidade das pessoas?

Chamar um amigo para tomar um cerveja depois do trabalho atualmente parece coisa de um mundo paralelo - Nathz Guardia/Unsplash
Chamar um amigo para tomar um cerveja depois do trabalho atualmente parece coisa de um mundo paralelo Imagem: Nathz Guardia/Unsplash

Do TAB

21/03/2021 04h00

Lembra quando dava para acordar de manhã no domingo, tomar café na padaria, passear pelo bairro, encontrar a família para o almoço e depois bater na porta de um amigo para tomar uma cervejinha à tarde?

Não dá mais para imaginar esse nível de espontaneidade em 2021. Depois de um ano "habituados" a uma pandemia que restringiu nossas escolhas (pelo menos para quem não quer se arriscar nem colocar os outros em risco), parecemos ter que planejar tudo nos mínimos detalhes.

No novo episódio de CAOScast, a trupe de pesquisadores do comportamento humano e de tendências nos faz fritar as ideias pensando em como nossos hábitos mudaram em um ano de pandemia. Para conferir, clique no vídeo abaixo.

O número de divórcios contabilizados no Brasil no segundo semestre de 2020 foi o maior da história, segundo o Colégio Notarial do Brasil; a taxa de natalidade caiu 21% em São Paulo, 20% no Rio de Janeiro e 40% no Rio Grande do Norte; a busca pelo serviço de congelamento de óvulos cresceu 50%. Grandes decisões também ficaram para depois.

"Hiperplanejamento de tudo é essa ideia de que existe uma quebra da espontaneidade das nossas ações e da nossa vida", define a líder de pesquisa da Consumoteca, Marina Roale. "Hoje a gente não pode mais fazer isso. A gente não pode mais aparecer na casa de um amigo sem avisar, você não pode marcar um almoço de família sem antes checar se todo mundo fez PCR, se tem alguém vacinado, se alguém está de quarentena" (ouça a partir de 16:36).

A revista The Economist chegou a publicar um obituário fictício sobre a morte da espontaneidade para a edição The World in 2021, do fim do ano passado. "Um adeus à existência despreocupada do mundo pré-pandemia", diz o subtítulo.

Em texto à NBC News, a psicoterapeuta e escritora Diane Barth faz um alerta e afirma que é importante diferenciar espontaneidade de impulsividade. Enquanto a primeira é benéfica, a segunda é sinal de imaturidade. Ela cita o analista Irwin Hoffman ao dizer que o equilíbrio entre espontaneidade e planejamento é essencial, e torce para que a pandemia nos ajude a fazer esse mix de forma mais natural.

Nesse sentido, é possível até dizer que os caóticos veem certa esperança. "É justamente nesse momento em que está tudo tão bagunçado, (...) que as pessoas, diante desse momento de incerteza, perceberam que a gente não tem controle nenhum da nossa vida, que a gente tinha uma falsa ideia de controle", diz Roale. "E elas começaram a rever esses sonhos e pensar 'caramba, não sei se vou esperar 10 anos para realizar esses sonhos. Por que não agora?'" (a partir de 28:13).

Planos que antes ficariam só no papel começam a se concretizar para aqueles que têm determinados privilégios. A mudança para o interior, casais que decidiram morar juntos, novos caminhos na carreira? E você, teve algum recálculo de rota positivo nesse último ano? Ouça o episódio completo do CAOScast para saber como os brasileiros estão lidando com isso.