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Como a Coreia do Sul criou um exército de K-Pop que rende US$ 3,5 bilhões

Banda BTS se apresentou em São Paulo pela quarta vez em 2019 - Divulgação
Banda BTS se apresentou em São Paulo pela quarta vez em 2019 Imagem: Divulgação

Do TAB

15/07/2021 04h01

A agência de notícias France Presse fala nos "bilhões BTS"; a Forbes comenta a "economia BTS". O grupo de k-pop mais conhecido do mundo não traz sozinho todo esse capital, mas, em conjunto com a onda da música coreana dominando os fones de ouvido ocidentais, o estilo musical incrementa pelo menos US$ 3,5 bilhões anuais no PIB do país asiático, segundo uma pesquisa do Hyundai Research Institute. Há dados que chegam a falar em quase US$ 5 bilhões.

Longe de ser um sucesso espontâneo, o k-pop se desenvolveu como um projeto geopolítico (como contamos em detalhes neste especial publicado em TAB) e até hoje funciona como uma indústria moldada em padrões rígidos. Da escolha e treinamento dos membros dos grupos ao molde dos shows, o k-pop faz jus à expressão "exércitos de fãs" (os armies), conta o antropólogo Michel Alcoforado, que viu essa comoção ao vivo há alguns anos.

"A veneração do público diante do show é impressionante. E eles não curtem esse show como diversão, é quase como exército, sabe? Há uma forma de coreografia que se repete concomitantemente, todo mundo junto, há toda uma lógica meio que programada. As pessoas vão para entrar em sintonia com as outras dentro da mesma lógica de comportamento (...). É justamente por essa lógica de repetitividade e de recorrência que eles constroem esse vínculo com o público", diz ele no episódio mais recente de CAOScast veiculado em TAB (ouça a partir de 19:35).

A febre mundial do k-pop atinge em cheio o Brasil. "Tem um dado aqui do Spotify que mostra que cerca de 300 milhões de usuários ativos no mundo inteiro estão acompanhando o k-pop. Só no Brasil, a indústria musical sul-coreana cresce em média 47% ao ano. (...) O brasileiro gostou tanto de k-pop que nós somos o 5º país que mais consome esse gênero, entre os 92 mercados atendidos pelo aplicativo", conta a líder de pesquisa da Consumoteca, Marina Roale (a partir de 16:20).

Mas não é só a música coreana que vem conquistando o Ocidente. A cultura oriental como um todo— com destaque, além da Coreia do Sul, para Japão e China —, ganhou mais espaço nos últimos anos. "O filme 'Parasita', do cineasta e roteirista coreano de que eu não vou saber falar o nome — Bong Joon Ho, que ganhou o Oscar —, mostra um pouco desse impacto, dessa transformação (...) Com questões que às vezes são muito similares a questões que a gente vive aqui no Ocidente, mas com toda uma pitada oriental", exemplifica Alcoforado (a partir de 10:48).

J-pop, anime, dorama (dramas japoneses) e toda a mudança cultural trazida com a tecnologia chinesa são mais alguns exemplos do que os caóticos chamam de "era pós-ocidental". Como comenta o pesquisador Tiago Faria, isso faz parte dos projetos de governo nesses países, onde ficou claro que a cultura é uma forma de expansão de poder. E, claro, isso gera uma reação do outro lado,

"Quando o ocidente percebe que não é mais o centro do mundo, acaba gerando uma resposta negativa de alguns indivíduos. O fato de o Trump tentar banir TikTok nos Estados Unidos evidenciou um pouco desse desgosto de perder a ideia de poder, perder a ideia de que você é o centro das atenções. Sem contar as inúmeras tentativas de manchar a cultura oriental, falando que covid-19 é uma obra chinesa, aquelas teorias da conspiração que a gente ouve por aí", reflete Roale (a partir de 12:08).

Quer entender melhor a era pós-ocidental e saber para onde vamos? Não perca o episódio completo de CAOScast.