'Carnaval do povo': 'Sambódromo do subúrbio' tem desfiles de graça no Rio
Perto das 20h de sexta-feira (22), começava o desfile da G.R.E.S Mocidade Unida do Santa Marta. Ansioso, um público que chegava timidamente ficou animado com o anúncio do início da festa mais popular do Rio.
O enredo, em homenagem a Jairzinho, o Furacão da Copa do Mundo de 1970, ganha as gargantas de quem acompanha a letra que fora distribuída em um papel A4 minutos antes. Na arquibancada, duas mulheres, na casa dos 50 anos, conversam: "Que mané Sambódromo. Esse é o Carnaval do povo!".
Enquanto a estrutura da Marquês da Sapucaí acolhe quem pagou ingressos de R$ 15 a R$ 500, a 23 quilômetros dali, na Estrada Intendente Magalhães, as apresentações de escolas das séries Bronze, Prata e Grupo de Avaliação são gratuitas. A avenida liga os bairros de Madureira e Campo dos Afonsos, na zona norte do Rio.
Nas noites de quinta (21) e sexta-feira (22), desfilaram 21 e 12 agremiações, respectivamente. Em 29 e 30 de abril, os desfiles serão da Série Prata.
Aqui não tem camarote
As arquibancadas de madeira revestidas de tecido preto estão enfileiradas no meio da avenida. Só uma das vias é utilizada para o desfile. A outra, nas costas da estrutura, é disputada por vendedores ambulantes acomodados na calçada e na rua interditada. Cadeiras e mesas de plástico improvisadas também ocupam a calçada em direção ao desfile. É só entrar e se acomodar.
Não há camarote nem festas privadas. Separado da via do desfile apenas por grades de ferro, quem assiste às apresentações pode disputar um lugar na primeira fila. Tão perto estão que apenas o bom senso impede que alguém ocupe a passarela enquanto os grupos passam.
A plateia presente é tão animada e engajada em suas escolas favoritas quanto a da Marquês da Sapucaí. Um grupo de sete mulheres grudado à grade canta eufórico o enredo da Mocidade Unida do Santa Marta antes mesmo de ele passar. Na presença do casal de porta-bandeira e mestre-sala, elas sacam o celular do bolso e, sem deixar de cantar, gravam, fazem selfies e se fotografam.
O segundo desfile da noite começou às 21h30. As alas da Acadêmicos de Jardim Bangu assumem o colorido vermelho, verde e branco. Entretanto, o som demorou para ser ouvido. Um problema técnico na estrutura dificulta, mas volta minutos depois, durante o desfile.
Uma banguense, eufórica na multidão, chora emocionada ao ouvir as vozes dos intérpretes que tomam as caixas de som com o enredo "Entre lendas, culturas e mistérios. Jardim Bangu deságua num rio-mar de amor".
Disputa pelas vagas da Sapucaí
As escolas que desfilam são filiadas à Super Liga Carnavalesca do Brasil. Responsável pelo desfile, ela realizou, ainda em novembro de 2021, o sorteio da ordem dos desfiles das séries Prata e Bronze. É o mesmo ritual das escolas que tomam a Sapucaí, da série Ouro.
Em duas cabines, jurados aguardam a passagem das alas para avaliá-las. Em 2022, segundo a organização, as agremiações da série Prata buscarão duas vagas para o acesso ao Sambódromo. Para isso, será definida uma campeã por dia e ambas sobem para a série Ouro em 2023. As três com menor nota cairão para a série Bronze.
Cada escola tem um tempo estimado para desfilar, que pode chegar a 75 minutos. Na sexta-feira (22), quando TAB acompanhou a noite, as escolas, que eram menores, levavam meia hora para atravessar a avenida, em média.
Em clima de evento de bairro, no intervalo, o público ocupava a via e as barracas de ambulantes. As opções para beber e comer são diversas. Espetos de salsichão, frango empanado com catupiry, camarão e coração de galinha fazem fila. O modo de preparo varia entre fritura ou assado. Para beber, cartazes coloridos com pisca-piscas chamativos chamam a atenção para a venda de caipirinhas.
À criançada, churros, batata frita e pipoca. A quem prefere não sair da arquibancada para não perder o lugar, pipoqueiros com caixas improvisadas e vendedores de algodão doce invadem a Intendente Magalhães para oferecer seus produtos. Há quem leve comida de casa e a brincadeira de pular Carnaval fica mais econômica.
Sambódromo do povo
O público é diverso. Famílias, grupos de jovens, mulheres e homens de meia-idade. Pelo sotaque, praticamente todos são cariocas. Além de se acomodar nas arquibancadas e em pé, teve gente que levou cadeira de praia ou se acomodou na janela de casa.
Um grupo de moradores de um condomínio colocou bancos no portão de entrada, e, com um isopor de cerveja, fez sua própria festa particular. "Assim que acabar é só desarmar tudo e partir para a cama", diz uma moradora.
No entanto, ao longo da noite, conforme a Intendente lota, o público muda. Se, antes de 20h, tinha quem estivesse mais disposto a assistir aos desfiles, depois de 22h30 a via lota por quem foi ali mais para curtir o ambiente.
A música alta das caixas de som começa a competir com a bateria das escolas de samba. O desfile simbólico de representantes da G.R.E.S Império de Petrópolis, por exemplo, teve de competir com o falatório. Mas, sob palmas, uma carta foi lida e deixou os atentos emocionados com a homenagem — após as chuvas que destruíram a cidade em fevereiro e março, a agremiação não teve condições de desfilar,
É unânime entre os presentes: aqueles desfiles são o Carnaval do povo. Eufóricos, passistas, público e fantasiados, todos se abraçam ao final de cada apresentação.
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