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Evento sobre Educação em SP reúne cinquentões, PT e terceira via

Pérsio Arida (à esq.) e Wellington Dias (PT-PI), no evento "Educação Já 2022" do Todos pela Educação, em São Paulo - Gabriela Di Bella/UOL
Pérsio Arida (à esq.) e Wellington Dias (PT-PI), no evento 'Educação Já 2022' do Todos pela Educação, em São Paulo
Imagem: Gabriela Di Bella/UOL

Cláudia Castelo Branco

Colaboração para o TAB, de São Paulo

28/04/2022 08h08

Terça-feira (26), 13h em São Paulo. O tema do encontro é Educação e cerca de 200 lideranças políticas circulam pelo pavilhão da Bienal no Ibirapuera — a maioria é formada por homens acima dos 50 anos. Alguns são figuras conhecidas, mas o nome foge a eles próprios. "Conheço você?", diz um deles a outro, que sinaliza um "sim", olhando para o crachá do interlocutor. Estão meio deslocados, suando dentro de seus ternos, segurando porções do brunch que tem no cardápio "micro-ravióli de burrata ao molho de limão siciliano" e "minicup de romeu e julieta cremoso".

A maioria das testas brilham, mas não a de João Amoêdo. "Sempre gostei muito das propostas do Todos pela Educação [ONG que organizou o encontro 'Educação Já 2022']. Vim pelo conteúdo." Muito asseado, o ex-presidente do partido Novo explica ao TAB o clima atual em Brasília. "Muito ruim. E o país ficando de lado."

O volume da música ambiente — uma versão lounge bossa-nova de "Tiro ao Álvaro" — impede conversas que não as de pé d'ouvido. Numa das rodinhas, Idilvan Alencar (PDT-CE), deputado federal e ex-secretário de Educação, está acompanhado do seu assessor. Já Damiano Neto (PP), o vice-prefeito de Araraquara — a cidade no interior de São Paulo que fechou tudo durante o lockdown —, cumprimenta quem vai passando. Fim do brunch. Todos se encaminham para as mesas redondas, aparentemente sem marcações. As mesas mais disputadas são as localizadas nas duas fileiras da frente.

João Amoêdo (Novo), em evento da Todos pela Educação - Gabriela Di Bella/UOL - Gabriela Di Bella/UOL
João Amoêdo (Novo) e José Alberto Fogaça (MDB), no evento 'Educação Já 2022'
Imagem: Gabriela Di Bella/UOL

Wellington Dias (PT), ex-governador do Piauí, está no evento desde o meio-dia, mas só aparece publicamente vinte minutos antes de o primeiro painel começar, às 14h15. Conversa com o pesquisador Fernando Abrucio, da FGV (Fundação Getulio Vargas). Depois troca ideia com Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda do governo Sarney (1985-1990).

Ao TAB. Nóbrega revela que o tema da conversa era "cenários". "Cenários econômicos... O Brasil enfrentará o maior desafio da história recente e [não conta com] nenhuma das vantagens que tiveram os governos passados, as commodities."

A reportagem é interrompida pela organização do evento, deixando a fala de Nóbrega incompleta. "Senhora, senhora, todos sentados que vamos começar", sussurra a moça.

Wellington Dias (PT) e Marina Silva (Rede), em evento do Todos pela Educação em São Paulo na terça-feira (26) - Gabriela Di Bella/UOL - Gabriela Di Bella/UOL
Wellington Dias (PT) e Marina Silva (Rede) se cumprimentam durante evento do Todos pela Educação
Imagem: Gabriela Di Bella/UOL

Clima amistoso

Na plateia, estavam presentes representantes do PDT, Rede, PSB, Novo, PSDB, Avante, PT, MDB, Solidariedade e União Brasil — que pode deixar a 3ª via e lançar "chapa pura". Sérgio Moro, de situação indefinida quanto às eleições, não foi convidado.

Marina Silva (Rede), a única de máscara, cumprimentou Wellington Dias. Foi quando uma iluminação roxa tomou conta do salão e Priscila Cruz, presidente-executiva da Todos pela Educação, apareceu no palco pedindo uma salva de palmas aos presentes. Subiu então um playback de aplausos muito acima do volume natural, dando início ao evento, cujo objetivo era reunir propostas que seriam levadas aos candidatos à presidência da República e aos governos dos estados.

Cercados pelas mesas com água gelada e café, anunciadas como pontos de hidratação, lideranças políticas de diferentes espectros do campo ideológico observaram Cruz defender um pacto pela educação básica das crianças. "A gente precisa virar de vez essa página horrorosa em que a gente entrou em 2019." Mais playback de aplausos, que subiam por mais tempo quando criticavam o atual governo. Cruz usou termos e expressões — confiança, virar a página, olho no olho, compromisso — que mantiveram o público atento.

Geraldo Alckmin, pré-candidato a vice na chapa de Lula à presidência, em evento do Todos pela Educação em São Paulo - Gabriela Di Bella/UOL - Gabriela Di Bella/UOL
Geraldo Alckmin, pré-candidato a vice na chapa de Lula à presidência, e Fernando Abrucio, da FGV
Imagem: Gabriela Di Bella/UOL

Geraldo Alckmin (PSB) era um deles. Ex-governador de São Paulo, ele apareceu sentado, do nada, sem que ninguém visse como chegou. O pré-candidato a vice de Lula dividiu a mesa com Marina Silva. Pérsio Arida, um dos cabeças do Plano Real, Aloizio Mercadante (PT) e Wellington Dias ocupavam a mesa ao lado.

A aprovação do novo Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) foi celebrada entre os presentes. "Não sei se ele já chegou [Rodrigo Maia], mas quero palmas para ele, que era o presidente da Câmara na época", pede Priscila. Sobe o playback.

O ex-governador do Piauí e um dos articuladores da chapa Lula-Alckmin foi chamado ao palco para falar dos bastidores entre governadores, "protagonistas na pandemia", segundo Priscila, que atuaram para que professores fossem vacinados com prioridade.

Sob o olhar atento de José Alberto Fogaça (MDB) e João Amoêdo, que compartilhavam uma mesa, Wellington encheu de elogios as lideranças dos estados e municípios. "Nunca imaginei ver isso na vida, um governo anti-federação. Na verdade, estados e municípios viraram um posto Ipiranga. Qualquer problema? Estados e municípios. E nada de contrapartida. Foi assim com a vacina. Não foi uma operação simples."

"Se não tivesse o SUS, o que teria acontecido com o Brasil? Governo marmoteiro", criticou Idilvan Alencar, que aproveitou para reverenciar o terceiro setor.

Dep. Idilvan Alencar (PDT), Wellington Dias (PT), Dep. Israel Batista (PSB).... Deputada Rosa Neide - Gabriela Di Bella/UOL - Gabriela Di Bella/UOL
Da esq. para a dir., o deputado federal Idilvan Alencar (PDT-CE), Wellington Dias (PT), e os deputados federais Israel Batista (PSB-DF) e Rosa Neide (PT-MT)
Imagem: Gabriela Di Bella/UOL

Um pacto pela educação

Enquanto lideranças políticas, empresários, pesquisadores e representantes de instituições discutiam educação, o assunto de terça, na imprensa e nas redes sociais, era o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro. Na segunda-feira (25), sua arma disparou acidentalmente no saguão do aeroporto de Brasília, ferindo uma pessoa.

"Fiquei doido para mencionar isso no painel, me segurei. Imagina você ter de usar um colete à prova de balas para se reunir com um ministro da Educação?", disse Wellington Dias à reportagem do TAB, na saída.

Cercado por jornalistas, Dias respondeu a todas as perguntas por uma hora e dez minutos. Todas eram focadas em eleições. "É jogo de paciência", disse, sobre os próximos passos. A respeito de um apoio da terceira via num eventual segundo turno, afirmou que é preciso esperar até julho. "São dois campos. Num campo estão Moro e Bolsonaro. E, no outro campo, uma linha de pensamento que, mesmo com diferenças, tem pontos em comum. O Ciro Gomes tem divergência? Tem. Mas está num campo em defesa da democracia."

O evento prosseguiu, exibindo dados sobre ensino básico (foco do Todos pela Educação) e a devassa na educação nos últimos anos. Parecia ponto pacífico entre todos que as interferências do atual governo no trabalho técnico, seus ataques ao Inep e a Capes, e a troca constante de ministros, são ameaças à educação. Convidada ao palco, emocionada, a professora Cleciane Alves, da rede estadual do Sergipe e da rede Conectando Saberes, disse que dorme pensando em sala de aula, na crueldade desses dias difíceis, "desse desgoverno".

Cláudia Costin, que foi secretária de Cultura do governo Alckmin, em São Paulo, foi na mesma linha. "Estamos entrando num cenário eleitoral que pode confirmar o que estamos vivendo hoje ou voltar, desculpe a palavra tão clara, o processo de avanços civilizatórios. Não há bala de prata."

Segundo a Todos pela Educação, foram convidados a participar todos os pré-candidatos que obtiveram pontuação acima de 1% em ao menos três pesquisas de intenção de voto registradas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Jair Bolsonaro foi o único a não responder ao convite. Quatro dos seis presidenciáveis convidados se comprometeram, em vídeo, com ações para recuperar a educação do país. Lula, que aparece em primeiro lugar nas pesquisas e, na terça-feira, aparecia nas redes sociais com a celebridade Deolane Bezerra, enviou uma carta de intenções, lida por Aloizio Mercadante.