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General Heleno sobe em carro de som e fala em 'luta entre o bem e o mal'

General Heleno participa de ato pró-Daniel Silveira em Brasília no domingo (1) - Leo Bahia/Fotoarena/Folhapress
General Heleno participa de ato pró-Daniel Silveira em Brasília no domingo (1)
Imagem: Leo Bahia/Fotoarena/Folhapress

Mariana Felipe

Colaboração para o TAB, de Brasília

01/05/2022 17h11

Às 10h, dois trios elétricos disputavam a atenção dos manifestantes na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. O caminhão comandado pelo Bloco Movimento Brasil pedia que os representantes do outro trio, do grupo Nas Ruas, esperassem até 11h para falar, como haviam combinado anteriormente.

Comandante Winston, oficial da reserva, continuou conduzindo o primeiro trio elétrico. Ele pediu aos manifestantes que levassem tios, avós e bisavós para renovarem os títulos de eleitor, um contraponto às campanhas direcionadas aos jovens de 16 anos. "As gerações que sabem os valores da família estão sendo boicotadas, renovem os títulos", bradava Winston.

Vários representantes bolsonaristas subiram ao trio para defender as pautas do protesto. Um deles foi o cacique Raimundo Carlos Guajajara. "Não podemos mais aceitar quem está destruindo nosso país. Há muito tempo o desgoverno destrói nossas matas, não é culpa do presidente", disse o cacique.

Ato de apoio a Jair Bolsonaro no dia do Trabalhador, em Brasília, no domingo (1) - Wallace Martins/Futura Press/Folhapress - Wallace Martins/Futura Press/Folhapress
Imagem: Wallace Martins/Futura Press/Folhapress

Perdão a Daniel Silveira

As reivindicações se dispersavam em meio à manifestação, mas um grito era comum: a defesa da liberdade, que tem como pano de fundo a confirmação no STF da condenação ao deputado federal Daniel Silveira (PTB) por ataque às instituições e apoio a atos antidemocráticos. No fim de semana após a decisão do Supremo, Bolsonaro concedeu indulto a Silveira.

Os apoiadores de Bolsonaro pediam ainda a criminalização do comunismo, a proibição do aborto, a prisão de Lula, pré-candidato à presidência, e o impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes.

Quando as atenções se voltaram para o segundo trio elétrico, que estava mais próximo ao Congresso Nacional, o assunto era a presença do presidente Jair Bolsonaro. A deputada federal Bia Kicis (PL-RJ) anunciou que o governante chegaria em breve, apontando-o como "a última barreira para que o comunismo não tome conta do Brasil".

Jair Bolsonaro aparece rapidamente em ato pró-Daniel Silveira e em apoio à sua reeleição em Brasília, no domingo (1) - Mariana Felipe/UOL - Mariana Felipe/UOL
Jair Bolsonaro aparece em ato pró-Daniel Silveira e em apoio à sua reeleição em Brasília, no domingo (1)
Imagem: Mariana Felipe/UOL

A chegada de Bolsonaro

Por volta das 11h30, Bolsonaro chegou à Esplanada dos Ministérios, acompanhado do deputado federal Hélio Lopes (PL-RJ), conhecido como Hélio Negão. O presidente caminhou entre os apoiadores por alguns minutos mas não subiu ao trio elétrico para se pronunciar. "O povo quer te ouvir", diziam os manifestantes, enquanto Bolsonaro voltava ao Palácio da Alvorada.

Em transmissão ao vivo para suas redes sociais, Bolsonaro saudou os apoiadores do governo. "Parabéns a todos de Brasília e aos manifestantes de todo o Brasil, que hoje estarão nas ruas. Estamos juntos, o Brasil é nosso. Deus, pátria e família", disse.

"Assistir esse homem caminhar entre o povo é lindo", afirmou Mário Frias (PL), ex-secretário da Cultura e pré-candidato a deputado federal pelo Rio. Declarando-se "radicalmente temente a Deus", Frias disse ao público que "a mamata acabou" em sua gestão e que "os recursos públicos pertencem ao povo e não a uma elite privilegiada que se diz dona do Brasil".

Em sua oportunidade de falar, o General Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, fez um discurso sobre a disputa entre o bem e o mal. "Não podemos desistir do Brasil, os que são do mal não têm o direito de tomar o lugar de quem trabalha para o bem", afirmou.

Wilma Paim, 58, moradora de Brasília, era uma das manifestantes que endossaram o coro. "É Bolsonaro na cabeça! As pesquisas estão erradas, a mídia influencia os números, mas ele vai ganhar. O governo dele foi muito bom, o povo que não o deixa trabalhar", disse ela, frisando que continuará em campanha pela reeleição.

Mário Frias posa com apoiadores de Jair Bolsonaro em ato em Brasília, no domingo (1) - Mariana Felipe/UOL - Mariana Felipe/UOL
Mário Frias posa com apoiadores de Jair Bolsonaro em ato em Brasília, no domingo (1)
Imagem: Mariana Felipe/UOL

Cerveja e pastores

Uma dupla sertaneja animou o público em diferentes momentos. Com o calor de 26ºC, muitos manifestantes aproveitavam o show com latinhas de cerveja na mão. Mas pastores e cantores evangélicos também se revezavam para cantar louvores e orar pelo país.
Entre os grupos religiosos, o discurso predominante era o da proibição do aborto. Beatriz Alves, 25, vendia água com os colegas para arrecadar fundos para a viagem ao evento católico Jornada Mundial da Juventude. "O comunismo é a favor do aborto, mas segundo a Constituição, todos têm direito à vida", afirmou a jovem, explicando por que apoia o governo atual.

A concentração começou a se dispersar antes das 12h. Ainda era aguardada a presença da ex-Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves (Republicanos). Ela, porém, chegou após às 12h30, quando o evento já tinha se esvaziado, e não discursou em nenhum trio elétrico.

Pastor Ângelo Galvão puxa uma oração durante ato pró-Jair Bolsonaro em Brasília no domingo (1) - Adriano Machado/Reuters - Adriano Machado/Reuters
Jackson Santana, pré-candidato a deputado no DF, cantou louvor que falava em 'estar de joelhos', e apoiadores ajoelham durante ato pró-Jair Bolsonaro em Brasília no domingo (1)
Imagem: Adriano Machado/Reuters

Perto das 13h, um morador de Taguatinga subiu no trio, sem se identificar, para reclamar do transporte público. "Teríamos mais gente aqui se não fosse o boicote do governador [Ibaneis Rocha], que proibiu os ônibus para atrapalhar a manifestação. Esperei por horas, mas não passava nenhum ônibus para o plano piloto. É um boicote!", dizia aos poucos presentes.