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'Vovós' atiram ovos em caminhão de protesto contra Bolsonaro em Los Angeles

Caminhão traz mensagem de protesto contra Jair Bolsonaro, na Cúpula das Américas, em Los Angeles, nos EUA - Eloá Orazem/UOL
Caminhão traz mensagem de protesto contra Jair Bolsonaro, na Cúpula das Américas, em Los Angeles, nos EUA Imagem: Eloá Orazem/UOL

Eloá Orazem

Colaboração para o TAB, de Los Angeles

09/06/2022 22h12

Com uniforme e grito de guerra, as "vovós poderosas de Las Vegas" eram as únicas "torcedoras" à espera do presidente Jair Bolsonaro, que desembarcou pela manhã em Los Angeles, nos Estados Unidos, para participar da Cúpula das Américas, e seguiu rumo ao centro da cidade, onde fica hospedado. Ali foi recebido pelas sete mulheres que foram de van de Las Vegas, no estado norte-americano de Nevada, até a cidade californiana, percorrendo em pouco mais de 5 horas uma distância superior a 400 km.

"Começamos a dirigir ontem de manhã e foi uma viagem muito divertida; as vovós são muito agradáveis", disse Miriam Meyer, 58, que trabalha no aeroporto de Las Vegas. A experiência ao lado das companheiras, junto da emoção de ver de perto seu "mito", foi tanta que Miriam pretende repetir a dose, acompanhando a comitiva brasileira que deve seguir para a Flórida, próxima parada de Bolsonaro.

As "vovós" ficaram famosas. Sem timidez para falar com a imprensa ali presente, elas se dividiam e se alternavam para dar entrevistas, mas repetiam um discurso bastante parecido de "amor" a Bolsonaro.

Outra querida era a Jovem Pan, rede de comunicação. O nome de Rodrigo Constantino, um dos apresentadores da casa, foi trazido à tona em diferentes oportunidades, por mais de uma participante do grupo. Constantino foi demitido da Jovem Pan em novembro de 2020, mas foi recontratado dois meses depois — para a alegria dessas senhoras brasileiras radicadas há anos nos Estados Unidos.

O amor às vezes não se explica. Da mesma forma como não conseguiram expressar os motivos para amar o economista, as "vovós poderosas de Las Vegas" também foram um pouco evasivas na hora de explicar o amor incondicional por Bolsonaro. "Ele vai salvar o nosso país, a nossa família", dizia Miriam, "e, se preciso for, nós damos a nossa vida por ele".

Para Estela Cajueira, 72, que mora há mais de duas décadas nos EUA, o governo Bolsonaro é admirável "por tudo": "O direcionamento da água, as estradas que ele faz, o respeito pela família, a gente adora tudo o que ele faz, e nós torcemos por ele".

Questionada sobre a questão econômica brasileira, Estela acredita que o emprego está em alta e afirma que o presidente não pode fazer milagres — "ele tá tentando fazer o melhor, e o melhor já está bom".

As sete "vovós", que de fato se mostraram poderosas para apoiar Jair Bolsonaro, se mostraram "superpoderosas" para defendê-lo: quando um caminhão com uma tela multimídia exibindo mensagens "Jail Bolsonaro" começou a circular pela região, as senhoras prontamente fizeram do veículo um alvo, e atiraram ovos contra ele.

O motorista do caminhão chegou a estacionar o veículo para confrontar as brasileiras, mas os ânimos foram acalmados pelos seguranças no local. Antes disso, circularam caminhões questionando o paradeiro do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, desaparecidos na Amazônia.

Acompanhando a movimentação atípica, o cinegrafista norte-americano Jamie Heinrich só queria saber o que estava acontecendo. Bolsonaro estava hospedado naquele hotel, explico — "quem é esse?", ele devolve.

"Ah, ouvi coisas controversas a respeito do presidente do Brasil", continua Heinrich, entendendo então "porque o trânsito na região está tão caótico".

Apoiadora brasileira do presidente Jair Bolsonaro, integrante do grupo 'Vovós Poderosas', nos EUA - Eloá Orazem/UOL - Eloá Orazem/UOL
Imagem: Eloá Orazem/UOL
Apoiadora brasileira do presidente Jair Bolsonaro, integrante do grupo "Vovós Poderosas", nos EUA - Eloá Orazem/UOL - Eloá Orazem/UOL
Apoiadora brasileira do presidente Jair Bolsonaro, integrante do grupo "Vovós Poderosas", nos EUA
Imagem: Eloá Orazem/UOL

Bolsonaro e Biden

De fato, a cúpula não tem despertado grande interesse na cidade norte-americana. Na porta do hotel de Bolsonaro, nenhuma mídia internacional aguardava o presidente brasileiro, na tentativa de fazer uma pergunta ou de saber mais sobre suas investidas no evento.

Mesmo na porta do Convention Center, o espaço onde o encontro entre os líderes acontece, são poucos os manifestantes que ali se aglomeram. Além das "vovós", os pequenos grupos que se formam nos arredores são compostos por imigrantes latino-americanos, sobretudo mexicanos, que carregam a bandeira de um partido ligado à esquerda.

Os poucos que falam com a imprensa trazem à tona pautas referentes à imigração. Sem dar sobrenome ou posar para fotos, a mexicana Monica diz que está ali para cobrar de Joe Biden algumas de suas promessas.

O presidente norte-americano, por exemplo, tinha como bandeira de campanha a suspensão da lei sanitária conhecida como Título 42, evocada por Trump, durante a pandemia, para restringir a imigração.

"Essa lei foi evocada pela primeira vez para questões migratórias graças a um cara chamado Stephen Miller, que é tipo um arquiteto das políticas anti-imigrantes de Trump", contou a advogada Ana Maria Rivera-Forastieri, que trabalha como Diretora Jurídica da ONG Community Justice Exchange.

"O argumento usado pelo governo para lançar mão do Título 42, uma regra sanitária, era que estávamos no meio de uma pandemia e, portanto, era preciso fechar as fronteiras para evitar que estrangeiros entrassem aqui contaminados."

Com o Título 42 em vigor, cerca de 1,7 milhão de pessoas foram impedidas de entrar nos EUA, e colocadas em situação de risco.

"Com essa lei ativa, os imigrantes não têm direito a qualquer defesa ou argumentação. Não há nenhuma maneira de pedir asilo, e os policiais da fronteira podem mandá-los de volta ao seu país de origem ou ao México, porque, se essa pessoa não puder ser deportada imediatamente, ela é mandada para o México de ônibus ou avião", diz a advogada.

Biden tentou suspender a lei para cumprir com a sua promessa de campanha, mas viu um juiz de Louisiana entrar, em maio deste ano, com uma ação para bloquear sua decisão. O Título 42 continua em vigor nas fronteiras norte-americanas.

Do lado de cá da fronteira, Bolsonaro e Biden se encontraram pela primeira vez. Depois de uma breve apresentação bilateral, em que se falou de Amazônia, processos eleitorais e economia, a conversa entre os líderes foi a portas fechadas.

Apoiadoras brasileiras do presidente Jair Bolsonaro, integrantes do grupo "Vovós Poderosas", nos EUA - Eloá Orazem/UOL - Eloá Orazem/UOL
'Welcome to fabulous Las Vegas', diz a faixa das apoiadoras, à espera de Bolsonaro noutro lugar: Los Angeles
Imagem: Eloá Orazem/UOL