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A volta badalada do Butantan: instituto atrai visitantes de primeira viagem

Visitando o instituto pela primeira vez, a família aproveitou o início das férias de julho para conhecer o parque, fazer um piquenique e mostrar ao filho, Ramon, como são feitas as vacinas - Fernando Moraes/UOL
Visitando o instituto pela primeira vez, a família aproveitou o início das férias de julho para conhecer o parque, fazer um piquenique e mostrar ao filho, Ramon, como são feitas as vacinas
Imagem: Fernando Moraes/UOL

João de Mari

Colaboração para o TAB, de São Paulo

06/07/2022 04h01

Curvado sobre um microscópio, o estudante José Umberto, 16, cerra os olhos para conseguir observar ovos do mosquito Aedes aegypti, responsável por transmitir diferentes doenças virais, como dengue e chikungunya. "Tivemos muito contato com o assunto 'vírus' durante a pandemia, né? Dá para aprender bastante sobre isso aqui", diz o adolescente, que aproveitou o domingo (3) para visitar pela primeira vez o Instituto Butantan, na zona oeste de São Paulo.

Fechado por mais de dois anos devido à pandemia de covid-19, o instituto reabriu portões aos visitantes no último fim de semana, com estruturas repaginadas e áreas de convivência construídas do zero — e, desde terça (5), todas as estruturas estão acessíveis ao público.

Ouvir o filho discorrer sobre a importância da ciência com certa propriedade parece encher de orgulho a professora de biologia Mônica Lo Monaco Vidile, 59, hoje aposentada. "A pessoa tem medo quando não tem conhecimento. A partir do momento que ela conhece o que é uma vacina, por exemplo, ela não vai temer o imunizante", diz. "É fundamental que a população tenha acesso a conhecimento."

Fundado em 1901, o instituto é considerado o principal produtor de vacinas e soro da América Latina. Na pandemia, ali se desenvolveu a Coronavac, vacina utilizada em mais de 40 países, que teve (e ainda tem) papel-chave no controle da covid. No Museu de Microbiologia, onde José se divertia com os microscópios, a história do imunizante é contada com animações nas TVs.

Primeiro final de semana de reabertura do instituto Butantan - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
Imagem: Fernando Moraes/UOL
Primeiro final de semana de reabertura do instituto Butantan - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
O estudante José Umberto, que visitou o instituto pela primeira vez, no Museu de Microbiologia
Imagem: Fernando Moraes/UOL

Férias no Butantan

A atendente de telemarketing Fátima da Silva Vitorino, 41, quis aproveitar os primeiros dias das férias de julho para levar o filho Ramon, 6, para aprender como se faz uma vacina. "Quando ele voltar para a escola, com certeza vai contar para a professora e os colegas que conheceu um lugar tão importante como esse", diz.

Primeiro final de semana de reabertura do instituto Butantan - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
As filhas de Fernando amam sapos e estavam vestidas de verde; na foto, a família brinca na frente do futuro Museu da Vacina
Imagem: Fernando Moraes/UOL

Moradora de Guaianases, no extremo leste de São Paulo, Fátima percorreu mais de 60 km com a família para visitar o Parque da Ciência. Depois de perambular entre as curiosidades científicas expostas no espaço, eles estenderam uma toalha no gramado do parque para fazer um piquenique. Segundo o governador Rodrigo Garcia (PSDB), uma das ideias da reforma do instituto é justamente ressignificar o espaço, tornando-o mais atrativo para o público.

Também vindo da zona leste, o gerente comercial Fernando Lorentti Ramirez, 45, olha atentamente para a Casa Rosa, o prédio que foi a primeira sede da Fazenda Butantan e que dará lugar ao Museu da Vacina, cuja inauguração está prevista para o fim de 2022. No local haverá uma exposição especialmente dedicada a imunizantes e a importância deles para a saúde pública.

"Minhas duas filhas são fãs de sapos", conta Fernando, que dirigiu 50 km para chegar ali. Ele não está brincando: Catarina, uma das filhas, está ao seu lado usando brincos de sapo, bermuda, camiseta e mochila verdes — e se agacha de repente, imitando a posição do anfíbio. "Por que não juntar o útil ao agradável e passear no Butantan?", diz, contextualizando um pouco o domingo no parque de 725 mil m².

Primeiro final de semana de reabertura do Instituto Butantan - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
Imagem: Fernando Moraes/UOL
Primeiro final de semana de reabertura do instituto Butantan - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
Serpentes, sapos, lagartos, escorpiões e aranhas no Museu Biológico fascinam visitantes
Imagem: Fernando Moraes/UOL

Cobras e lagartos

Catarina se divertiu com sapos e pererecas no Museu Biológico, onde também vive uma variedade de serpentes, lagartos, escorpiões e aranhas.

Movendo-se lentamente, uma serpente atravessa um pequeno lago, camufla-se entre pedras e se aproxima de uma menina de uns 6 anos. Boquiaberta, a criança ensaia tocar em uma das duas cascavéis do Parque da Ciência. Uma parede espessa de vidro separa os répteis da garota, obviamente.

Em frente ao cubo de vidro com as cobras, três rapazes estão com os olhos colados nos celulares; os polegares, digitando freneticamente. "É a naja de Brasília", diz um deles, sem levantar os olhos, referindo-se à serpente peçonhenta da espécie naja de monóculo, que ficou conhecida após ser encontrada em um esquema de tráfico de animais exóticos na capital federal.

Alheio à movimentação das pessoas, que formavam grandes filas na entrada do museu, um homem com cabelo liso e longo se aproxima da reportagem do TAB, sorrindo por trás da máscara. "Vocês estão fotografando pássaros?", questiona. Ao saber que não era exatamente isso, seu olhar muda como se tivesse desapontado. "Eu fotografei um pica-pau branco no parque. Estou indo para o Horto Oswaldo Cruz [apenas a uma faixa de pedestres de distância] para tentar a sorte e encontrar outros pássaros", finaliza, ajeitando a mochila nas costas.

No primeiro fim de semana de reabertura, o museu recebeu mais de 1.600 visitantes. Desde terça (5), o espaço também abriga atividades científicas, histórias das jararacas e trilhas pelos caminhos de mata do Butantan.

Primeiro final de semana de reabertura do instituto Butantan - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
A jornalista Adriana Ataide e o biólogo Reinaldo Amaral estavam pedalando no Butantan no domingo
Imagem: Fernando Moraes/UOL

Uma ilha para 'esquecer' de SP

A jornalista Adriana Ataide, 53, e o biólogo Reinaldo Amaral, 53, buscam sombra para se abrigar do sol e um banco para apoiar as bicicletas. Passa das 13h e o termômetro marca 30º C. "Gosto de pedalar, e aproveitei para dar uma circulada", conta Adriana. "Vamos passar nos museus, as atrações principais para conhecer."

"O Butantan sempre remete a um sentimento de orgulho de São Paulo, pela história. Moro na região, isso faz parte do meu cotidiano também", diz Reinaldo.

Dá pra melhorar, diz Reinaldo. "Senti falta de bebedouros e ainda não tem lanchonete. É importante para nós, ciclistas."

"É o que costumam dizer dos espaços públicos que vão sendo apropriados. A pessoa vê que aqui dá para andar de patins, de patinete, com uma bicicleta, aí vai acontecendo esse processo. Vai além do que é proposto, não é apenas aprazível, é para ficar à vontade. É uma ilha para esquecer de São Paulo."