Seu Madruga sarado, Kiko galã e bruxa do 71 drag: a festa LGBT+ do Chaves
Chaves sensualizando dentro de um barril, Kiko de top cropped, Seu Madruga bombado usando um cordão chavoso, Chiquinha deixando ceroulas à mostra enquanto faz um espacate e Bruxa do 71 drag queen parecem, a princípio, uma versão "proibidona" de "Chaves", série mexicana que faz sucesso no Brasil desde a década de 1980.
Mas o "Chavesverso" é real, cheio de brilho, com pouco pano e muitos abdomens sarados. O universo paralelo é obra do grupo Guapo, que produz a festa "El Chavo". A última edição ocorreu no sábado (9) na cidade de Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte.
A balada inspirada na série mexicana estreou no Rio de Janeiro, quando produtores da festa eletrônica para o público LGBTQIA+ idealizaram uma atração diferente para inovar o Carnaval.
Maurício Lagrecca veio com a ideia de usar na decoração os pirulitos psicodélicos que o personagem de Roberto Bolaños ostentava durante boa parte dos mais de 300 episódios de Chaves. "A gente queria fugir um pouco do clichê do Carnaval e sempre pegamos elementos da cultura latino-americana", conta o produtor.
A ideia cresceu na conversa com os outros promoters: por que não montar uma festa inteira dedicada à série que ocupa um lugar saudoso na memória de quem acompanhava as aventuras na famosa vila do Senhor Barriga no subúrbio mexicano?
Lagrecca e os sócios Leandro Paes e Eudes Freire já tinham experiência com eventos temáticos — ao longo de dois anos de parceria, fizeram festas inspiradas no Caribe, no Dia dos Namorados e no Dia dos Mortos. Nenhuma delas tão inusitada quanto levar "Chaves" ao universo LGBTQIA+. Calhou com o pretexto carnavalesco, data que deixa o público mais aberto a brincadeiras que envolvem personagens queridos.
'Sem querer querendo'
"El Chavo" aconteceu então pela primeira vez no Rio, uma festa com cenografia, coreografia, direção artística e figurino para dar o clima de cortiço. Sem querer querendo, o que era para ser um único "Carnaval da Vila" já ganhou edições em Brasília, São Paulo e até no Chile. Neste ano ainda há edições previstas em Florianópolis, Fortaleza, Recife e Manaus.
"As pessoas saem toda semana, o que a gente quer é fazer que uma dessas vezes seja algo que elas vão lembrar a vida inteira", diz Paes.
"A festa viralizou de uma maneira positiva, próximo ao mês do orgulho [junho]", lembra. Além do entretenimento, acrescenta o produtor, o evento espera atingir e sensibilizar novos públicos que desconhecem o universo LGBTQIA+.
Atualmente, a produção mobiliza uma equipe de cerca de 200 profissionais, entre dançarinos, DJs, montadores, seguranças e garçons. Dançarino e DJ, Mario Beckman colabora na concepção artística do evento, junto com Amanda Miranda e Rômulo Boratto — eles são os responsáveis por criar danças que consigam combinar características dos personagens com remixes em ritmo eletrônico de músicas pop nacionais e internacionais, de Beyoncé a Pedro Sampaio.
O "corpo de baile" conta com aproximadamente 20 dançarinos. Entre eles há artistas e modelos, como Ailton Oliveira, 31, que se vestiu de Seu Madruga pela primeira vez. Já Klinger Batista, 28, encarnou o personagem de Carlos Villagrán pela quarta vez: "Sou o Kiko original", diz ele, o primeiro da festa a viralizar na internet. "Hoje onde quer que eu vá falam do 'Kiko da Guapo'", conta.
Rubia Furtado, 29, é a bailarina por trás da Dona Florinda "funkeira". Os vídeos dela se popularizaram no TikTok, onde vem recebendo elogios e críticas. "Tem gente que diz que isso 'estragou' a infância", relata. "Mas é uma festa para adultos. É para divertir o público."
Da 'vila' para o TikTok
O line-up conta com sete DJs e atrai o público interessado em música eletrônica, mas a verdade é que a fascinação pelo Chaves "+18" fisga mais atenção que qualquer número musical.
O clímax da festa é por volta das 2h da manhã, quando cinco dançarinos vestidos de Chaves entram no palco e, entre gelo seco e papel pink laminado, fazem uma performance sensual ao som de um mashup de Maluma com Pabllo Vittar simulando trejeitos do protagonista do seriado.
A pista se ilumina pelo brilho da tela das centenas de celulares empunhados ao alto. Quando o resto da turma da vila chega, os telefones já estão a postos para registrar Chiquinha fazendo um "quadradinho" na cara de Kiko e Seu Madruga tirando a blusa para ostentar o peitoral malhado.
Holofotes de luz branca iluminam a vila montada na festa, um cenário pensado para selfies e vídeos que o público, composto majoritariamente por homens entre 20 e 40 anos, possa publicar de imediato nos feeds.
Há também frequentadores da festa vestidos a caráter. O cabeleireiro cearense Carlos Sávio, 29, por exemplo, confeccionou seu próprio figurino de Chaves. Ele já conhecia os eventos do grupo Guapo e viajou de São Paulo, onde mora, só para aproveitar a edição que virou a madrugada mineira no bairro Jardim Canadá, reunindo cerca de 2.500 pessoas, com ingressos vendidos entre R$ 90 e R$ 260.
O público é até tímido se comparado com as visualizações de vídeos e fotos da festa, que chegam à casa de milhões. Não é raro encontrar comentários em espanhol: no TikTok, mexicanos brincam que eliminaram essas cenas festivas do episódio das férias em Acapulco e pedem performances no país.
"Desde sempre" o técnico de enfermagem Cleidimar Reckel, 29, gosta de Chaves. Já fez aniversário com a temática da série e não hesitou na hora de investir em uma fantasia de Kiko só para a festa de Nova Lima. "Sou muito fã e estava superansioso", conta. "Vou guardar a roupa para usar de novo no Carnaval."
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