'Vontade de virar meme': quadro 'Vai Dar Namoro' vira fenômeno na internet
Na primeira quinta-feira de junho, Leonardo Pinheiro, 23, estava mais ansioso do que o normal. Saiu de Limeira, no interior paulista, para fazer uma entrevista no estúdio da Record TV, na capital. Não era de emprego. Ele estava lá para participar do "Vai Dar Namoro", quadro de "Hora do Faro", programa dominical apresentado por Rodrigo Faro, que virou fenômeno para além da TV.
"Queria tanto participar que nem chequei o endereço", conta o estudante de administração de empresas. Ele só se deu conta de que estava na emissora quando desceu do carro, no bairro da Barra Funda. "Tô aqui! Que doideira. Não caí num golpe", pensou. Logo se viu frente a frente com uma câmera pela primeira vez, enquanto um dos produtores do programa fazia perguntas como "qual é o seu talento" e "qual cantada pretende usar".
Deu match. "Você consegue vir gravar na terça?", disse o produtor. "Gostei de você."
Léo conta que ficou ensaiando sua performance até o dia da gravação — não podia passar vergonha, pensava. Às 10h30 do dia 7 de junho, entrou no palco, acenou para as câmeras, deu uma estrela e abriu um quase espacate ao cair no chão. Parecia um veterano da TV. "Já chegou fazendo um omelete!", caçoou Faro. "Se faço um negócio desse, nunca mais tenho filho na vida!".
O apresentador pediu então que ele imitasse os efeitos sonoros do programa, uma sonoplastia cômica de palavras-chiclete. "Uuuuiiii. Cavalo!", fez o rapaz, reproduzindo um bordão do quadro. É a "Síndrome do 'Vai Dar Namoro'", meme que surgiu nas redes depois que a sonoplastia (!) do programa viralizou. Léo se voltou então para as seis meninas sentadas na sua frente e disparou uma cantada para cada uma. E ainda caminhou até o outro lado do cenário para entregar um presentinho para Mileide Mihaile, a "conselheira de namoro" do episódio.
A participação bombou nas redes. A soma das visualizações dos vídeos de cortes de Léo no "Vai Dar Namoro" atingiu 17 milhões. Somente o comentário do youtuber Casimiro reagindo ao programa beirou 1 milhão de visualizações. Hoje, o estudante não esconde ter ficado mais seduzido pelos cliques do que pelas candidatas. "Não tinha muito interesse em arrumar namorada", confessa.
Mamãe, quero ser meme
O "Vai Dar Namoro" é uma bagunça organizada de cores, luzes, fantasias, efeitos sonoros e bordões. Em geral, os participantes chegam na emissora por volta das 10h, fazem teste de covid-19 e se dirigem, oito homens e seis mulheres, para camarins diferentes. Eles só se encontram no palco, para manter o suspense e a surpresa.
Uma das grandes sacadas do quadro talvez seja a sua espontaneidade, um clima leve que começa cedo nos bastidores. "Não tem como não ficar descontraído lá", conta o modelo Guilherme Batista, 22, que também fez parte da lista de pretendentes do quadro. Diferentemente de Léo, que se inscreveu por conta própria, foi a agência de modelo de Guilherme que o indicou para uma aparição no dominical da Record.
A espontaneidade do quadro não significa, entretanto, improvisação — o acesso ao programa, aliás, é bastante blindado. Antes de Rodrigo Faro pegar o microfone e começar o episódio da semana, todos os participantes revisam o que cada um planeja fazer e têm direito a um ensaio de palco.
Ainda assim, por volta das 16h, quando as cortinas se abrem, ninguém consegue prever o que vai acontecer. "O coração gela! Pô, agora sou eu! Vou conhecer o Faro, bater papo com ele. E não quero ir pro toco!", diz Guilherme.
Assistindo aos episódios, é fácil lembrar de imediato da TV brasileira das décadas de 1970 a 1990. "Vai Dar Namoro" evoca concursos de calouros, bordões e o pouco pudor dos programas de Chacrinha.
O primeiro "Vai Dar Namoro" foi ao ar em 2005, na própria Record. Era uma versão mais moderna e bem-humorada do clássico da década de 1980 "Namoro na TV", de Silvio Santos, apresentada por Marcio Garcia no programa "Melhor do Brasil" aos sábados à noite.
O quadro foi parar nas mãos de Faro em 2008 e ficou no ar até 2013. Nesse período, foi um fenômeno e alçou o apresentador ao posto de mestre de programa de auditório da TV brasileira, mas entrou em decadência quando "Melhor do Brasil" foi cancelado. O apresentador acabou escalado para comandar os domingos da emissora. Não fazia mais sentido ter esse tipo de atração e a audiência despencou.
Depois da pausa, a produção voltou em abril de 2022. Trechos do programa começaram a pipocar e viralizar online e a emissora viu uma oportunidade de salvar o "Hora do Faro" — e os domingos da Record — de uma crise de audiência.
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