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'Cadê a turma do Bolsonaro?': entorno do debate tem gritos de 'tchutchuca'

Militantes reunidos em frente ao estúdio da Band, minutos antes do início do debate - Luciana Bugni/UOL
Militantes reunidos em frente ao estúdio da Band, minutos antes do início do debate Imagem: Luciana Bugni/UOL

Colaboração para o TAB, de São Paulo

28/08/2022 23h23

Na tarde ensolarada de domingo (28), a professora Luciana Moreira da Silva e o comerciante Marivaldo Aleixo da Silva saíram cedo de Guarulhos, onde moram, com destino ao Estádio do Morumbi, em São Paulo, onde ocorreria a partida entre São Paulo e Fortaleza, pela 24ª rodada do Brasileirão. No carro, o casal levava bandeiras do time mandante, que venderiam nos arredores da avenida Giovanni Gronchi, na entrada e na saída do jogo.

Durante a partida, o tempo virou: fazia 28ºC, mas a temperatura caiu para 16ºC rapidamente. O Tricolor paulista perdeu o jogo para o time do Ceará por 1 a 0. Na saída do jogo, às 18h, os torcedores corriam para fugir da chuva que estava por vir. O casal, então, foi para a segunda parte do expediente, rumo à Rede Bandeirantes de Televisão. Logo mais, às 21h, começaria o primeiro debate com os presidenciáveis na emissora. O debate foi organizado e transmitido pelo UOL, em parceria com Band, Folha de S.Paulo e TV Cultura.

No carro, Luciana e Marivaldo traziam, além das sobras do jogo, bandeiras do Brasil que eles mesmo fabricam, além de bonés e camisetas de Jair Bolsonaro. Num canto da rua Carlos Cyrillo Júnior, olhavam o movimento intrigados: "Cadê a turma do Bolsonaro?", perguntavam-se.

Os arredores da Band, no Morumbi, foram fechados com grades e fitas de isolamento. As três ruas que davam acesso à entrada principal da emissora tinham policiamento e seguranças que impediam a entrada de qualquer pessoa que não fosse funcionário ou não tivesse credenciamento de imprensa. Em cada uma dessas ruas fechadas, pequenas aglomerações de diferentes movimentos começavam a pipocar.

Luciana Moreira da Silva e Marivaldo Aleixo da Silva, em frente ao estúdio da Band, em São Paulo - Luciana Bugni/UOL - Luciana Bugni/UOL
Luciana Moreira da Silva e Marivaldo Aleixo da Silva, em frente à Band
Imagem: Luciana Bugni/UOL

Deu samba

De fato não se viam eleitores de Bolsonaro por ali. Bandeiras do Brasil foram empunhadas por volta das 19h pela militância de Pablo Marçal, candidato do Pros (Partido Republicano da Ordem Social), e podiam confundir um pouco os desavisados, já que a campanha do atual presidente usa as mesmas cores como símbolo.

Os gritos da turma, no entanto, deixavam claro: "Chega desses dois / É Pablo Marçal", diziam, enquanto colavam adesivos grandes com o nome e o número do candidato nas costas de quem passava. A reivindicação era para que Marçal fosse chamado para o próximo debate. "É uma injustiça o que estão fazendo com nosso candidato", gritavam. A chuva começava a apertar.

Do outro lado da rua, o pessoal da UP (Unidade Popular) começava a chegar. Eles reivindicavam a presença de Leonardo Péricles. "Entendemos como racismo que não haja candidatos negros no debate", disse Vitória Magalhães, da UP de São Bernardo do Campo. Ela atua na coordenação do Movimento de Luta dos Bairros, Vilas e Favelas.

Samba de Pirituba para Soraya Thronicke, candidata do União Brasil - Luciana Bugni/UOL - Luciana Bugni/UOL
Samba de Pirituba para Soraya Thronicke, candidata do União Brasil
Imagem: Luciana Bugni/UOL

Destoando da sisudez dos policiais armados — alguns portavam até metralhadoras —, um grupo de sambistas festivos apareceu por ali. Diego Bruno se apresentou com o "cara que empunha a bandeira, canta e bate palma" para o Vovô Bolão de Pirituba, que faria um som com o Movimento Salve Periférico, para a candidata Soraya Thronicke, da União Brasil.

"Como chama a candidata, mesmo?", perguntou um dos músicos. "É Soraya alguma coisa", respondeu outro colega, distribuindo latas de cerveja "para esquentar" e ansioso para começar o samba. Bruno queria saber como estava a outra entrada, onde se aglomerava a militância do PT. "Esquerda é quem? É o Bozo?", alguém soltou. Bruno caiu na risada: "Tá vendo como ele está sabendo?".

Militantes pedem inclusão de Leonardo Péricles, candidato da União Popular, no debate - Luciana Bugni/UOL - Luciana Bugni/UOL
Militantes pedem inclusão de Leonardo Péricles (UP) no debate
Imagem: Luciana Bugni/UOL

Cerveja, churrasco e 'tchutchuca'

Quatro homens de camiseta amarela onde se lia "Meu partido é o Brasil" desceram a rua. "Ali, gente, tem um bolsonarista", disseram, ao ver as bandeiras empunhadas pela militância de Marçal. Marivaldo e Luciana ficaram de olho. "Será que tem mais?", perguntaram, sem achar mais clientes.

O casal demoraria ainda 1h10 de carro para chegar em casa. Como não havia clima para tirar as camisetas com o rosto do presidente do carro, estavam tentando emplacar capas de chuva. "Aqui não vai vender nada do Bolsonaro, mas essa chuva também está fraca", analisava Luciana.

Ambos não sabem ainda em quem vão votar. "Vamos analisar propostas e ver quem é melhor. O importante é vender bastante e faturar", disse Marivaldo, que estava surpreso com a ausência de eleitores. "No Rio, no dia do Jornal Nacional, a porta da Globo estava cheia. Bombou."

Militância do PT minutos antes do início do debate - Luciana Bugni/UOL - Luciana Bugni/UOL
Militância do PT minutos antes do início do debate
Imagem: Luciana Bugni/UOL

Repórteres engravatados tentavam fugir da chuva. Na outra entrada, um carro de som com telão era o point dos eleitores de Lula. Bandeiras eram distribuídas e o clipe oficial da campanha passava em looping nas duas horas que antecederam o debate.

Camelôs vendiam cerveja (Heineken a R$ 8 e Colorado Ribeirão Lager a R$ 10) e espetinhos de churrasco (três por R$ 10). Os organizadores pediam que abaixassem as bandeiras no início do debate e que se fizesse silêncio. Porém, quando Lula aparecia no telão, o público entoava "Olê Olê Olê, Olá, Lula, Lula". "A gente vai voltar a comer churrasco", dizia uma eleitora com um espetinho na mão.

As aparições de Bolsonaro eram acompanhadas de gritos de "fora" e "tchutchuca" — recentemente, o presidente foi xingado de "tchutchuca do centrão", em referência a seu relacionamento com o chamado centrão, grupo político formado por parlamentares de diversos partidos, sem uma linha ideológica comum, mas com muito apego ao "toma lá, dá cá" do poder.

Marivaldo e Luciana já não estavam mais nas imediações. Se não pegassem trânsito na Marginal Tietê, poderiam chegar em casa a tempo de ver o segundo bloco.

Militância do PT minutos antes do início do debate - Luciana Bugni/UOL - Luciana Bugni/UOL
Imagem: Luciana Bugni/UOL