'Defesa da democracia não é só nas urnas', diz manifestante no Rio
![Da esq. para a dir., Jonathan Mendonça, Luciano Barbosa, Lyiri Freitas, Winne Freitas e o filho Antônio Manuel saíram de Rio das Ostras (RJ) para o protesto - Daniele Dutra/UOL](https://conteudo.imguol.com.br/c/tab/f7/2023/01/10/da-esq-para-a-dir-jonathan-mendonca-luciano-barbosa-lyiri-freitas-winne-freitas-e-o-filho-antonio-manuel-sairam-de-rio-das-ostras-rj-para-o-protesto-1673354349685_v2_900x506.jpg)
A chuva que caiu durante toda a segunda-feira (9) não foi suficiente para desanimar os manifestantes que ocuparam a Cinelândia, região central do Rio, no dia seguinte aos atos terroristas e antidemocráticos em Brasília. Com palavras de ordem eles gritavam: "Recua, facista, recua, é o poder popular que está na rua".
Centenas de bolsonaristas invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o STF (Supremo Tribunal Federal) no último domingo (8), em protesto à vitória de Lula, presidente eleito democraticamente em 30 de outubro e empossado dia 1º. Em resposta ao ato criminoso, centenas de manifestantes se reuniram no Rio para lutar pela democracia e evitar uma tentativa de golpe.
"Nós elegemos Lula presidente. Demos o primeiro passo para derrotar o fascismo e eles não vão estragar isso", disse uma liderança política, em cima do trio elétrico, para centenas de pessoas que o aplaudiam.
Com sorriso no rosto e vestida com a estrela vermelha, Suzy Keith, 45, usa a mesma roupa desde os 17 anos em manifestações. A tradição veio da mãe e da avó, apoiadoras de Lula.
"Fiquei triste com toda a situação de Brasília. A gente não tem que fazer isso com ninguém. Chorei muito vendo o policial sendo espancado. Quando o Bolsonaro ganhou, ninguém foi para rua bater nos outros", disse Suzy ao TAB. Ela, que está desempregada no momento, foi de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, até o centro do Rio, com a ajuda de amigos.
"Vim aqui para falar de amor, essa violência tem que parar. Já penso pelo lado espiritual. Toda autoridade é constituída por Deus. Lula foi ungido por Deus que nem o Rei Davi", disse Suzy.
Na escadaria da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro), manifestantes e líderes do movimento estudantil seguravam cartazes e bandeiras com frases "Contra a ultradireita golpista, organizar a autodefesa"; " Sem anistia, prisão para Bolsonaro golpista".
A família do ex-presidente também foi lembrada em uma bandeira gigante, segurada por dezenas de mãos: "Punição para Bolsonaro e sua família".
'Não vamos aceitar a barbárie'
Do alto do trio elétrico, a viúva da vereadora assassinada Marielle Franco estava presente e foi chamada para falar sobre os atos de vandalismo do último domingo:
"Estamos ocupando as ruas porque não vamos aceitar a barbárie. Vamos responder com força, mas sem usar a violência. Não vai ter anistia para ex-presidente. Não vamos aceitar o fascismo, a violência imposta pelo bolsonarismo. Queremos saber quem mandou matar Marielle Franco. Não vai ter anistia para ex-presidente cagão", disse Monica Benício, vereadora do Rio pelo PSOL.
Com o guarda-chuva aberto, três amigas tentavam se proteger da chuva. A estudante de ciências políticas Thaianni de Souza, 24, reforçou a importância de lutar contra os atos de vandalismo em Brasília, mas disse que queria mesmo era estar curtindo o Carnaval.
"Estamos aqui para defender e apoiar a democracia, porque o que aconteceu ontem foi vandalismo, uma tentativa de golpe. Agora a ideia é que as pessoas se unam para ir às ruas para lutar. O que queria mesmo era viver o ano novo, o Carnaval, mas a gente está tendo que lutar pela democracia, mesmo depois das eleições", disse a jovem ao TAB.
Para a mobilizadora Taylaine Santana, 27, a tentativa de golpe já era uma tragédia anunciada. "Em momento algum a gente achou que isso acabaria nas urnas. Eu já imaginava que eles [Bolsonaro e eleitores] não iriam facilitar em nada", disse.
Do bebê ao idoso
Em meio a multidão, Paulo França, 73, mais conhecido como "Paulo Cartaz", segurava seus cartazes com a foto do presidente. Em um deles, dizia "tô com o Lula". Sua blusa carregava a frase "Ditadura nunca mais".
Ativista do Complexo do Alemão e criador do jornal Voz das Comunidades, René Silva, 29, foi até a Cinelândia protestar e destacou a importância de presença de moradores de comunidade no ato.
"É importante a gente apoiar e reforçar a democracia no nosso país. A nossa participação aqui, a participação das pessoas de favela, é para legitimar a presidência do Lula e lutar contra esses ataques em Brasília", disse René.
A viagem de quase 170 quilômetros, de Rio das Ostras, na Região dos Lagos, para o centro do Rio, foi por uma boa causa, segundo um grupo de amigos. Acompanhada do filho de sete meses e da filha de 14 anos, a educadora Winne Freitas, 31, disse que cresceu indo a manifestações e agora é a vez dos filhos:
"É imprescindível que as pessoas continuem mobilizadas a defender a democracia e as minorias. Me senti diretamente afrontada pelo que aconteceu em Brasília. Não foi atacado só o símbolo da Justiça, do Legislativo e do Executivo. Foi um ataque direto ao Estado e não houve o menor pudor", disse a educadora à reportagem.
Amigo da educadora, o professor Luciano Barbosa, 40, achou necessário viajar para protestar, já que terroristas de diferentes partes do país foram até Brasília para cometer os crimes. "A sociedade não é construída somente no ato da eleição, mas no cotidiano. Como eles conseguiram invadir o Congresso, me senti na obrigação de me deslocar três horas pra dizer que sou contra isso", afirmou.
O grupo voltaria para Rio das Ostras na noite chuvosa de segunda-feira, em um ônibus fretado. Às 20h40, os protestantes começavam a dispersar, o trio elétrico já havia sido desmontado, mas diversos grupos continuavam ocupando a Cinelândia, com direito à cerveja, churrasquinho e celebração à democracia.
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