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Cerveja, ioga, pastel e xadrez: estudantes ficam 48 horas seguidas num bar

Da esq. à dir., Eduardo Alvares, Diogo Neiss e Lucas Chelala, estudantes universitários que passaram dois dias seguidos no bar Rei do Pastel, em Belo Horizonte - Carlos Hauck/UOL
Da esq. à dir., Eduardo Alvares, Diogo Neiss e Lucas Chelala, estudantes universitários que passaram dois dias seguidos no bar Rei do Pastel, em Belo Horizonte
Imagem: Carlos Hauck/UOL

Nina Rocha

Colaboração para o TAB, de Belo Horizonte

17/01/2023 04h01

De férias, os estudantes de 22 anos Lucas Chalala, Eduardo Alvares e Diogo Neiss chegaram determinados no bairro belo-horizontino Savassi, na quinta-feira (12). Eram quase 16h, e logo em breve o cronômetro deles ia começar a correr: os três amigos estavam comprometidos em passar 48 horas ininterruptas no botequim que há 30 anos ocupa a esquina da rua Tomé de Souza com a avenida do Contorno, o Rei do Pastel.

Lucas e Diogo tiraram dias de folga de seus trabalhos. Eduardo estuda psicologia e atualmente está desempregado, mas não se abalou com as críticas e os memes de "vadiagem" que o trio recebeu ao divulgar na internet o desafio que decidiram lançar a si próprios. "Quem quiser me dar um emprego daqui a 48 horas, eu estou precisando", ironizou Eduardo. "Faz parte da vida adulta", acrescentou Diogo, a responsabilidade de conseguir conciliar estudo e trabalho durante o ano todo, "e nas férias poder relaxar e levar uma vida mais tranquila".

Entretanto, encontrar um bar para virar duas noites seguidas não é tão simples em Belo Horizonte. Com quase de 30 mil botecos, segundo os dados da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), a capital mineira viu nos últimos anos diversos endereços encerrarem a saideira das altas horas, por segurança, demanda ou custos para manter as portas abertas depois da meia-noite. Nessa leva, também foram fechadas casas tradicionais da boemia belo-horizontina que operavam 24 horas, como Paracone e La Greppia.

"Tem bares que dá 23h30 e já chegam com copo descartável para você virar a cerveja e ir embora", relata a publicitária Amanda Almeida, 38, que se dedica a desbravar BH em busca de novos botecos para divulgar no perfil Próxima Parada Trip, no Instagram. Há 20 anos explorando a vida boêmia, ela conhece bem a esquina do Rei do Pastel — não é a maior entusiasta, mas se está nas redondezas para lá para beliscar. "Gosto muito dos pastéis."

Foi ali que Lucas, Eduardo e Diogo decidiram maratonar 48 horas, registrando tudo no Instagram, Twitter e TikTok — a ideia do desafio surgiu do impulso de quebrar o recorde de outro grupo de amigos que ficaram 24 horas lá. O trio também seguiu regras: experimentar todos os itens do cardápio (que obviamente tem pastéis, mas também itens como caldo de cana e broa de fubá), não abandonar o endereço exceto diante de condições insalubres dos banheiros, e inventar vocativos criativos para os garçons (por exemplo, "navegador", "Transformer" e "X-Men").

Da esq. à dir., Eduardo Alvares, Diogo Neiss e Lucas Chelala, estudantes de Belo Horizonte - Carlos Hauck/UOL - Carlos Hauck/UOL
Imagem: Carlos Hauck/UOL

Ioga, pastel e xadrez

Gabriel, um dos garçons que trabalha lá há seis meses, achou uma "loucura" os amigos quererem passar tanto tempo no bar: para ele, as 8 horas diárias do turno já são suficientes. Das 14h às 22h, ele pega tipos diferentes de movimento, de frequentadores fixos a entusiastas de um happy hour eventual. Ao todo, o bar-pastelaria possui 138 funcionários, divididos em seis unidades, todas no Savassi. A franquia vende cerca de 4.500 pastéis por dia.

Nas 48 horas em que os três estudantes universitários ficaram ali, atraindo amigos (que se revezaram em turnos para dar "apoio moral"), familiares e curiosos, o movimento aumentou: uma prancheta que rodava o bar com uma "lista de presença" registrou mais de mil assinaturas.

Da esq. à dir., Diogo Neiss, Lucas Chelala e Eduardo Alvares, estudantes de Belo Horizonte - Carlos Hauck/UOL - Carlos Hauck/UOL
Imagem: Carlos Hauck/UOL

Os jovens pretendiam resguardar o corpo (principalmente o fígado) para atravessar as horas no bar, mas na verdade tiveram uma ressaca na véspera, devido a uma balada. Nada que estremecesse os ânimos diante de uma intensa agenda de atividades que foi proposta para passar melhor o tempo até as 16h de sábado (14): show acústico de banda indie, oficina de escultura de balão, partida de xadrez, aula de ioga e massagem oferecida de um amigo fisioterapeuta, atrações celebradas por Lucas. "Se fossem 48 horas da gente só se olhando ficaríamos malucos."

Ao longo da maratona, eles comeram (zerando o menu da casa) e também beberam bastante água e energético. Com o caos da movimentação e a falta de uma contabilidade certinha (de repente, surgia uma garrafa gelada ofertada por amigos presentes, ou pingava na conta uma contribuição via Pix na campanha "adote um pastel", que fizeram no Instagram), eles pagaram R$ 600 (R$ 200 cada), mas não sabem exatamente quantas cervejas tomaram. Não ficaram bêbados a ponto de importunar ninguém.

Depois da saideira oferecida como cortesia pelos proprietários do bar, eles foram presenteados com uma placa gravada com um pastel estilizado e data do recorde. Foram embora de app, cansados para caminhar, mas empolgados com a aventura. No Instagram, após cumprirem a meta, postaram: "O after é onde, família?"