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Um dia de verão na praia (imprópria para banho) de Balneário Camboriú (SC)

Praia de Balneário Camboriú (SC) - Hygino Vasconcellos/UOL
Praia de Balneário Camboriú (SC)
Imagem: Hygino Vasconcellos/UOL

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o TAB, de Balneário Camboriú (SC)

21/01/2023 04h01

Para nós, ir à praia é fazer farofada. Moramos a duas quadras da Praia Central de Balneário Camboriú (SC) — aquela cuja faixa de areia foi artificialmente alargada — e, quando vamos, levamos tudo: um carrinho, que vira uma pequena mesa, com cadeiras, guarda-sol e um cooler com comida e bebida. Assim fomos, meu namorado e eu, na manhã de 14 de janeiro, um sábado de sol e céu azul beirando os 30ºC, uma surpresa depois de uma sexta-feira 13 de chuva.

A brisa do mar ajuda a amenizar o calor. A areia já estava bem quente, e disputada, com umas três fileiras de guarda-sóis coloridos. O mar estava tomado por banhistas, de crianças a idosos, apesar das notícias informando que os dez pontos da praia estão impróprios para banho desde dezembro, com níveis de coliformes fecais acima do aceitável. Todos também estavam impróprios no sábado, segundo o site do IMA (Instituto do Meio Ambiente) de Santa Catarina, responsável pela análise da água. Entretanto, a atual condição insalubre não estava sinalizada no trecho todo.

"Imprópria, imprópria a água não está. É só tu ver. Dá para entrar, só tem que ficar com a boca mais fechada", disse uma salva-vidas. Dias antes, ela teve gastroenterite com diarreia e dores no estômago, relatou. "Não sei se pode ser da água do mar."

Meu namorado instalou o guarda-sol com um "sugador de areia", o que lembra uma bomba de ar usada para literalmente sugar a areia, abrindo um buraco. Escolhemos um ponto entre duas tendas, onde não tinha caixa de som (ninguém merece passar o dia na praia ouvindo música alheia).

Uma vez instalados, saí para caminhar. Vi várias bandeiras triangulares indicando pontos perigosos para mergulho. Em certos trechos, também foram instaladas fitas de um ponto a outro para isolar "barrancos" que surgiram com a ressaca dos últimos dias, explicou outro salva-vidas.

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Imagem: Hygino Vasconcellos/UOL

'O sal do mar é poderoso'

Do outro lado de uma fita de isolamento, a aposentada Cleusa Jaci, 64, recolhia conchas, com os pés imersos na água. Ela não sabia que dez pontos da Praia Central estavam impróprios para banho. "Com certeza me preocupo com isso, tem muito risco de doença", disse. "Mas o sal do mar é poderoso."

De Tupã (SP), ela veraneia pela terceira vez em Balneário Camboriú. Com um grupo de 54 turistas, está hospedada em uma pousada. "Aqui é muito bom, as pessoas são mais educadas, nos tratam bem. É diferente."

Metros à frente estava a catarinense Thaiana Venturi, 35, que se define como "consteladora familiar". Ela mora em Joinville (SC), mas a família possui uma casa em Balneário Camboriú.

De férias, ela levou o filho, Henrique, 5, à praia. Sabendo da situação da água, disse adotar estratégias para evitar doenças: passa um pano molhado no rosto do garoto e não o deixa dar mergulhos no mar. "É paliativo, não sei até que ponto funciona", ponderou, enquanto o menino brincava em uma poça.

Perto dali, a uruguaia Natalia Lopes, 40, conta que quis passar o verão em Balneário Camboriú, cidade que diz gostar mais que a capital catarinense, Florianópolis, pelas atrações. Ao saber das condições da água, ficou preocupada e comentou que o filho Bautista, 4, tem alergia na pele. Eles continuaram lá, brincando no rasinho do mar.

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Imagem: Hygino Vasconcellos/UOL

A sílaba 'im'

Caminho até o final da praia e, com sede, compro uma água com gás por R$ 7 num dos quiosques no Pontal Norte, onde tampouco souberam informar se o mar estava bom para nadar. A primeira placa que indica a balneabilidade na Praia Central fica ao lado do acesso ao molhe da Barra Norte; a seguinte fica a cerca de 1,5 km, nas imediações da rua 1.001. As duas diziam "imprópria para banho" — a primeira palavra, em letras vermelhas.

Diariamente, contou Raylane Vicente da Silva Lima, 17, os banhistas lhe perguntam se é permitido entrar na água. "Digo que não é recomendado. Mas que vai de cada um querer entrar", conta a jovem pernambucana, que viajou para Balneário Camboriú para trabalhar com os pais pela quarta vez, num quiosque. "Não entro porque não gosto e não sei nadar."

Caminho mais e encontro mais uma placa, em frente à praça Almirante Tamandaré. Para minha surpresa, a sinalização indicava água "própria para banho" (desta vez, a primeira palavra estava em letras verdes). Sigo em direção à Barra Sul e vou encontrando outras. "Como assim 'própria para banho'?", indagou um banhista, intrigado com a marcação.

Dos dez pontos da Praia Central, três sinalizações estavam incorretas. Num deles, perto da rua 2.500, o adesivo vermelho que diz "imprópria" parece ter sido arrancado.

Às vezes, informou-me o IMA depois, só a sílaba "im" é retirada das sinalizações, irregularmente — é crime ambiental, aliás, por omitir uma informação de interesse público que zela pela saúde. "Por vezes, a identificação de balneabilidade pode ser pichada, o adesivo arrancado ou a placa retirada, e assim que toma conhecimento do vandalismo, o IMA imediatamente vai ao ponto consertar a indicação", diz o instituto.

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Imagem: Hygino Vasconcellos/UOL

2 minutos

No alto verão, nem todo mundo parece levar a sério ou se importar com a indicação, porém. No quiosque de Elsa Teles, 42, por exemplo, quase ninguém conversa sobre o assunto. Se os visitantes notam a placa perto dali (que diz "imprópria para banho"), relata, apenas dão passos para um ponto um pouquinho mais distante da sinalização.

"Não entro na água porque não tenho tempo. Trabalho das 7h às 19h", diz ela, que há 20 anos se divide entre Pernambuco, onde nasceu, e Santa Catarina.

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Imagem: Hygino Vasconcellos/UOL

Passava das 13h, eu já tinha caminhado quase 5 km, e decidi voltar para meu guarda-sol. Fizemos a "farofa": uma marmita com arroz integral, frango, salada de alface e cenoura. Tomei um refrigerante zero; meu namorado, umas cervejas. Àquela altura, banhistas à nossa volta foram embora.

Peguei um sol e, por volta das 14h50, decidi entrar no mar para me refrescar um pouco. Pouco mesmo: fiquei não mais que 2 minutos, com a água na altura da cintura. O mar estava morno e não tinha um cheiro tão forte quanto outras vezes em que por lá passei.

Voltei para a areia e, com o tempo fechando, com vento e relâmpagos, decidimos ir embora às 16h. Na volta para casa, começou a chuviscar. Mal sabia eu que os 2 minutos no mar me voltariam como uma lembrança distante no dia seguinte: acordei com dor de cabeça e à tarde tive um mal-estar estomacal.

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Imagem: Hygino Vasconcellos/UOL