Catador anda 9km para recolher recicláveis na madrugada de Carnaval em SP
Durante a primeira madrugada oficial do Carnaval de São Paulo, no domingo, Edimar Jesus da Silva, 37, andou cerca de 9 km, do Sambódromo do Anhembi, na zona norte, até as proximidades do Memorial da América Latina, na Barra Funda. Como muitos catadores de recicláveis, Edimar quer aproveitar ao máximo o agito da época do ano para, a partir da venda de latinhas, garrafas PET e papelão recolhidos das ruas, tirar seu sustento.
O empenho não é à toa. Se o Carnaval paulistano de 2023 chegar aos números de 2020, a expectativa é que sejam coletadas mais de 660 toneladas de resíduos nas próximas semanas. O número de catadores deve aumentar bastante.
De acordo com Eduardo Ferreira de Paula, o Dudu, catador há mais de 30 anos e um dos fundadores do MNCR (Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis), chega a 800 mil, em todo o país, o número de profissionais de reciclagem em época de festa popular. Muitas pessoas que, normalmente, não praticam essa atividade vão às ruas para complementar a renda.
A dona de casa Clarissa da Silva, 64, aproveita a época para coletar e vender recicláveis para ajudar no orçamento familiar. Ela aproveitou a passagem do bloco Banda do Trem Elétrico pela rua Augusta para trabalhar. "Faço isso para colocar gás e comida dentro de casa", diz. Apesar das dificuldades do trabalho braçal em meio à multidão, ela diz gostar de ver a alegria dos foliões. Segundo ela, ao fim do dia de trabalho ela leva para casa, em média, R$ 50.
Mesmo com a competição acirrada, Hélio dos Santos, 54, considera o Carnaval a melhor época do ano para o seu trabalho. "Minha meta é recolher 8 kg por dia. No resto do ano, me contento com 5 ou 6", conta. Catador há 12 anos, escolheu os arredores da rua Augusta, conhecida pelos bares e eventos, para trabalhar. Durante o Carnaval, ele diz ficar mais focado no recolhimento e, por isso, acompanha os trios elétricos da região do começo ao fim.
Após coletarem os materiais nos blocos, Clarissa, Hélio e Edimar os vendem em ferros-velhos espalhados pela cidade. Segundo Dudu, vender diretamente é vantajoso para os catadores, já que, ao entregar os resíduos para organizações comercializarem, muitas vezes eles perdem parte do valor que poderiam ganhar com o trabalho.
Além do peso dos sacos cheios com os materiais coletados, Edimar carrega outras sacolas com todos os seus pertences, já que não têm casa para voltar. A maioria dos catadores autônomos estão em situação de rua, segundo pesquisa realizada em 2022 nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte pelo Cataki, aplicativo que conecta catadores com geradores de resíduos.
Outra dificuldade é o preconceito que eles sofrem nas ruas. "Muitos acham que somos ladrões, maloqueiros e não percebem que estamos tirando a sujeira, ganhando nosso sustento e movimentando a economia", afirma Dudu.
Mesmo marginalizados, os catadores e catadoras exercem uma função fundamental para a sociedade e o meio ambiente. Além de serem responsáveis pela coleta de 90% dos materiais recicláveis no Brasil, contribuíram com em torno de 30% na redução das emissões de gases do efeito estufa. Os dados são do Ipea e da Ancat (Associação Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis), respectivamente.
Só no fim de semana de pré-Carnaval, com 1,5 milhão de foliões nas ruas, mais de 240 toneladas de lixo foram coletadas na cidade de São Paulo, segundo a Prefeitura. "O Carnaval tá aí e a sujeira também. Os foliões podem se divertir, mas tem que respeitar o trabalho dos catadores e catadoras", diz Dudu.
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