Peritos correm contra o tempo para identificar as vítimas em São Sebastião
Chovia em Caraguatatuba (SP) na tarde de segunda-feira (20) quando o delegado Maurício Freire, 56, reapareceu à frente de uma estrutura armada com lonas brancas e cercada por policiais.
No interior da estrutura, um carro do IML e uma cortina que separa a equipe chefiada pelo delegado: 12 papiloscopistas do IIRGD (Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt), além de investigadores concentrados em descobrir, o mais rápido possível, a identidade de quem perdeu a vida há quatro dias. De longe, o visual da tenda passaria por um posto de vacinação, mas o clima é de morte e o silêncio só é cortado por sirenes e trovões.
A equipe faz inúmeras vezes o caminho entre o IML de Caraguatatuba e o SVO (Serviço de Verificação de Óbito) de Ubatuba. "Se eu sentar eu vou dormir, porque eu tô direto. Prefiro ficar de pé", disse Maurício ao TAB, nesta quarta (22).
A estrutura montada faz parte do Protocolo de Atendimento de Acidente de Massa — quando múltiplas vítimas precisam de atendimento em situações de desastres. No domingo, Freire foi designado a colocar em prática uma delas. Estava em São Paulo e desceu para o litoral para fazer o atendimento.
Quem mora por ali foi orientado a não filmar e fotografar os movimentos constantes de carros do IML e da Polícia Civil que entram e saem, a cada 30 minutos. A lona da estrutura é coberta 100% para não chamar a atenção. O cheiro, apesar de controlado, é forte.
Segundo o médico-legista Enrico Andrade, 55, diretor do centro de perícias do IML, os corpos já chegaram em estágio de decomposição. Quanto mais destroços, mais complicado identificar.
O processo de identificação
A estrutura foi montada no domingo à tarde, e recebia os corpos encontrados pelo helicóptero da Marinha que já passaram pelo IML. "Fazemos a necropsia aqui em Caraguatatuba. Depois, eles são levados por carros funerários para a funerária de São Sebastião. Os corpos identificados são então entregues para as famílias lá", explica Enrico. Esse é o trâmite, e não é simples. Por ser uma situação de calamidade, esse processo operacional inicialmente era feito na Santa Casa de São Sebastião.
"A impressão digital vai sumindo, conforme o tempo passa. Aí é que entra nosso pessoal especializado em fazer a chamada 'luva cadavérica'; eles conseguem recompor o tecido e fazer a impressão digital. Qualquer um dos fragmentos de um dos dedos pode determinar a identificação. Se houver determinado número de pontos, já identifica."
Segundo boletim da Defesa Civil, até a noite de quinta-feira (22) 38 corpos já tinham sido identificados e liberados para o sepultamento. São 13 homens adultos, 12 mulheres adultas e 13 crianças -- cinco do estado de São Paulo. O desastre contabiliza, até agora, 49 mortes. "É outra dificuldade que a gente tem. Num acidente aéreo no qual se tem a identificação de quem embarcou, compara-se um a um. Agora estamos comparando uma digital para 60 milhões. Multiplica por 10: são 600 milhões de impressões digitais", diz Enrico.
Os dados digitais coletados são enviados para o suposto estado de origem e lá uma outra equipe cruza os dados. "Por exemplo: você é minha vizinha, sei que você é do Piauí e que foi para o litoral de SP", explica o delegado, com 45 anos de experiência. "Se lá não bateu, vamos mandando para outras cidades." Todas as vítimas, até agora, foram identificadas por meio das digitais.
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