'Inimigos Públicos': MBL pede Pix, faz caravana e 'vai pra cima' da UFSC
Considerado o maior núcleo do movimento no Sul, o MBL-SC (Movimento Brasil Livre - Santa Catarina) escolheu a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) como sua "inimiga pública" de olho em 2024, quando pretende disputar uma cadeira na Câmara de Joinville, a maior cidade do estado. Isso colocou os campi em alerta e gerou um clima de insegurança entre estudantes no retorno às aulas nesta segunda-feira (7).
"Tudo o que pudermos fazer contra a universidade vamos fazer", declarou Alisson Pacheco, 32, líder do MBL-SC em uma reunião virtual com pouco mais de 30 pessoas, em 20 de julho, dias depois de o movimento ter protagonizado uma confusão na UFSC, em Florianópolis.
Na ocasião, em 13 de julho, integrantes do movimento foram pintar paredes pichadas no campus. João Bettega — que lidera o MBL no Paraná — alegou ter sido agredido por estudantes enquanto gravava vídeos em um centro de convivência desativado na universidade. Segundo ele, os alunos portavam uma faca e uma arma de fogo, o que ainda não foi comprovado.
Bettega estava com Mateus Batista, Matheus Faustino e Gabriel Costenaro. Nenhum dos quatro filmou as agressões para confirmar o relato, ainda sob investigação pela Polícia Civil.
O caso ganhou repercussão nacional e colocou o MBL-SC de volta ao radar da política local após não conseguir emplacar nenhum candidato em 2022 e ficar "órfão" politicamente no estado.
"A gente está juntando um dossiê sobre a UFSC e isso vai ser levado à Justiça. A gente vai pra cima da UFSC", afirmou Alisson na reunião virtual à qual o TAB teve acesso.
Questionado pela reportagem sobre o tom adotado contra a universidade, Alisson confirmou que o MBL vai mirar a universidade, considerada a 9ª melhor do país pelo ranking global QS World University Rankings: "Não vamos recuar e ninguém vai parar o MBL".
Universidade alvo
A UFSC foi a segunda instituição visitada pelo MBL no que o movimento chama de "Inimigos Públicos", caravana que quer percorrer universidades públicas e privadas até o fim de 2023.
Antes da catarinense, Bettega, Costenaro e Faustino visitaram a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Depois, foram à PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Também teve confusão.
Cinco dias depois da intervenção em Florianópolis, o líder nacional do MBL, o ex-deputado Arthur do Val, visitou o campus acompanhado do lutador de MMA Marcelo Brigadeiro, ex-diretor de esporte no governo Carlos Moisés (Republicanos) em SC, político simpatizante do MBL.
"Estamos aqui na UFSC. Falaram que não ia ter fascista aqui e não sei o quê. Estamos aí, velho", disse Do Val em um stories.
Ações do MBL contra universidades não são exatamente novidades, diz o pesquisador Luan Brum, membro do Grupo de Pesquisa em Estudos Estratégicos e Política Contemporânea. Antagonizar um governo de esquerda é uma das formas que o movimento usa para tentar se fortalecer — foi assim com Dilma Rousseff, em 2013, e agora com Lula, acrescenta.
"A UFSC ser alvo passa muito pela representação dela. Além de ser federal, é reconhecida em âmbito nacional e é lá que se concentram os principais movimentos. É um espaço propício para os interesses do MBL", avalia Brum.
Alisson Pacheco, líder do MBL-SC, reforça esse idealismo do movimento contra a UFSC.
"Universidade pública é não apenas da esquerda, mas de quem é de direita, do progressista e do liberal. Usar uma área de convivência para promover politicagem e revolução é algo que somos contra, é algo errado. Não adianta depredar um espaço público."
Clima no campus
Fontes do corpo técnico da UFSC ouvidas pelo TAB veem a atuação do MBL como "intimidatória" e lamentam que a universidade esteja "gastando tempo explicando uma situação que absolutamente não faz sentido", referindo-se ao "monitoramento" do MBL.
Já a universidade se diz "bastante preocupada". A sensação é compartilhada por estudantes.
"O clima é de bastante medo porque é uma perseguição", descreve Thomé Martins, membro do Centro Acadêmico de História. A reportagem buscou ouvir outros acadêmicos de movimentos estudantis da UFSC, mas ninguém quis aparecer por temer eventuais ataques, principalmente nas redes sociais.
"Nós, por exemplo soltamos nota repudiando o MBL e recebemos muitas ameaças no privado e xingamentos. Todo mundo de movimento fechou as redes sociais. De fato, o medo ronda, ainda mais pela capacidade de mobilização do MBL", conta Thomé Martins, do centro acadêmico.
O secretário de Segurança Institucional da UFSC, Leandro Oliveira, admite que há o alerta para debates que podem extrapolar o campo das ideias, mas nega que a universidade monitore grupos específicos.
"Esse monitoramento é muito amplo, não é específico ao MBL ou a qualquer outro movimento que pense diferente um do outro. A secretaria cuida das pessoas e do patrimônio. A partir do momento em que extrapola para ameaça e agressão, fazemos uma intervenção para cessar e encaminhamos as pessoas às polícias Civil ou Federal", garantiu.
2024 já começou
Em paralelo às investidas contra a UFSC, o MBL de Santa Catarina tem a eleição de 2024 como prioridade, mas esbarra na falta de verbas.
Na reunião virtual com apoiadores, Alisson Pacheco, que é remunerado para trabalhar no movimento, pediu mais de uma vez doações por Pix e engajamento de voluntários para alavancar o grupo, que conta com um escritório em Palhoça, na Grande Florianópolis.
Depois de eleger Bruno Souza (Novo) para deputado estadual em 2018, o movimento está sem representante em cargo eletivo no estado. O político quis disputar uma vaga na Câmara, mas não se elegeu devido ao quociente eleitoral, apesar de ter sido o 11º mais votado, ficando à frente de outros cinco que conquistaram uma cadeira.
Já o então governador Carlos Moisés, simpatizante do movimento, também foi derrotado no pleito passado, vencido pelo bolsonarista Jorginho Mello (PL) — o MBL faz oposição a ele.
Para 2024, o MBL se mobiliza para tentar eleger Mateus Batista a vereador de Joinville. Com 2.000 apoiadores, 28 coordenadores e núcleos em dez cidades de Santa Catarina, o movimento vê em Batista seu principal ativo para conquistar uma vaga em alguma Câmara no ano que vem por ser o ativista mais conhecido e mais longevo no grupo.
Não é descartada, contudo, aliança com outros políticos, mas com uma condição: ser contra o PT, estratégia conveniente em um estado com maioria dos eleitores bolsonaristas.
"É nas eleições que conseguimos ver a força do movimento. Vamos conversar com quem tiver que conversar e, se tiver que dividir o palanque, vamos dividir, principalmente contra o petismo."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.