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Caravana de Michelle faz direita atropelar centro e esquerda em eleitas

O fim da eleição de 2024 crava uma virada na participação feminina na política brasileira. Partidos de direita e de centro-direita foram os que mais elegeram mulheres no país.

A liderança era ocupada pelo centro nas duas últimas eleições municipais, de 2020 e 2016, mostra levantamento feito pelo UOL a partir dos dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Mas, neste ano, a curva mudou.

Lideram o ranking dos que mais elegeram mulheres em 2024 MDB, PP, PSD, União Brasil, PL e Republicanos —quatro que se classificam como direita ou centro-direita e dois como centro. O primeiro de esquerda da lista, o PT, só aparece em sétimo lugar.

Essas siglas têm mais candidatos no geral. Logo, é natural elegerem mais mulheres, uma vez que a lei brasileira obriga o cumprimento de cota mínima de 30% de candidaturas femininas.

Mas a proporção entre o total de candidaturas e o total de eleitas também é maior na direita: 8% contra 7% da esquerda.

Na média geral, 41% das eleitas em 2024 são de direita, 39% de centro e 20% de esquerda.

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Imagem: Arte/UOL

Isso significa que, para cada uma eleita de esquerda, entraram duas de direita. Há oito anos, a proporção era um para um.

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No caso do PL e do Republicanos, a ascensão pode ser explicada também pela presença massiva da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, presidente do PL Mulher, e da senadora Damares Alves (Republicanos) nas campanhas.

Outros partidos do mesmo espectro também se beneficiam dessa aliança, como o PP. A vice-governadora do Distrito Federal pela sigla, Celina Leão, também fez parte da caravana da dupla.

Michelle Bolsonaro (PL), a vice-governadora do DF Celina Leão (PP) e a senadora Damares Alves (Republicanos)
Michelle Bolsonaro (PL), a vice-governadora do DF Celina Leão (PP) e a senadora Damares Alves (Republicanos) Imagem: Reprodução/Instagram

Segundo elas, o objetivo sempre foi eleger mais mulheres de direita. Havia até uma brincadeira para saber qual partido elegeria mais candidatas. O PP ganhou, com 1.505 eleitas.

Além das entradas no programa eleitoral gratuito para apresentar candidaturas da própria legenda, Michelle fez pelo menos 42 viagens pelo país nos últimos três meses para apoiar correligionárias em primeiro e segundo turnos.

Uma das primeiras foi em 12 de julho, no lançamento da pré-campanha da candidata a vereadora Zoe Martinez (PL), em São Paulo, eleita com 60 mil votos.

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Michelle no palanque

Michelle participou de comícios de seis candidatas às prefeituras e de outros quatro candidatos com mulheres como vice.

Duas foram eleitas prefeitas ontem: Adriane Lopes (PP) em Campo Grande e Emília Corrêa (PL) em Aracaju. Emília é a primeira mulher a comandar a capital sergipana. Elas foram as únicas mulheres eleitas em capitais.

Em Cuiabá, venceu Abílio Brunini (PL) e sua vice, a coronel Vânia Rosa (Novo).

Adriane Lopes (PP), prefeita eleita de Campo Grande, recebeu Michelle no evento de campanha "Mulheres Transformadoras"
Adriane Lopes (PP), prefeita eleita de Campo Grande, recebeu Michelle no evento de campanha "Mulheres Transformadoras" Imagem: Reprodução/Instagram

A dobradinha com Damares em diversos eventos repete o que fizeram em 2022, no movimento "Mulheres com Bolsonaro".

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Há dois anos, elas visitaram diversas cidades e organizaram eventos em apoio a Jair Bolsonaro, em campanha para reeleição.

Para a doutora em ciência política pela USP (Universidade de São Paulo) Hannah Marucci, é exatamente esse filão que elas abocanham.

"Michelle e Damares criam um inimigo comum, o feminismo, e conseguem mobilizar mais mulheres com um discurso religioso e conservador. Grande parte da população brasileira se identifica com o que pregam e com essa ideia de ameaça de algo que coloque os seus valores em risco."

Na manhã do segundo turno, Michelle postou um story no Instagram com esse tom. "Por muito tempo, nós, cristão, fomos negligentes ao não nos envolvermos com a política. Antes de sermos cristãos, somos cidadãos, e precisamos exigir e exercer os nossos direitos."

Paridade ainda é baixa

A pesquisadora ressalta a diferença de paridade de gênero entre os partidos, ainda maior entre os de direita.

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Enquanto no PL foram 17% de mulheres para 83% de homens, no PSOL foram 48% para 52% e, no PT, 24% ante 76%.

"No geral, continua muito abaixo do que se espera. Há um discurso de maior igualdade nos partidos de esquerda. Mas, na hora de direcionar recursos e fazer investimento político, homens brancos continuam priorizados. Isso acontece nos dois lados."

Pautas em comum

Os discursos religiosos, conservadores e de proteção à família foram entremeados nas campanhas por pautas comuns a outros campos políticos, inclusive os de esquerda.

Muitas candidatas levantaram bandeiras de valorização das mulheres e de combate à violência doméstica e ao feminicídio, além de propostas sobre saúde feminina e até aumento de creches para que mães possam trabalhar.

Uma das apadrinhadas por Milton Leite (União Brasil), atual presidente da Câmara dos Vereadores de São Paulo, a pastora Sandra Alves, do mesmo partido dele, foi eleita vereadora com mais de 74 mil votos defendendo a dignidade menstrual e a garantia de acesso a absorventes pela população de baixa renda.

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Campanhas parecidas costumam ser encabeçadas por políticas feministas.

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