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CAOScast: nova paternidade passa pela mudança do que significa ser homem

Do TAB

11/03/2021 04h01

Cuidar dificilmente é visto como trabalho de homem. Seja da casa, dos idosos ou dos filhos. Para os homens, a imagem de um bom cuidador costuma ser atrelada ao dinheiro e à capacidade de prover uma vida confortável à família, enquanto que, para as mães, o cuidado está ligado à atenção com os filhos, ao afeto, e à preocupação.

Mas essa mentalidade vem mudando, e o episódio do CAOScast distribuído hoje aqui em TAB (ouça acima o arquivo na íntegra) fala do "pai grávido". Emprestando a ideia da autora Tania Salem, que escreveu "Casal Grávido", os caóticos debatem o que é ser um pai participativo hoje em dia.

"Eu sei que dá um estranhamento aí quando a gente ouve esse termo [pai grávido], mas esse é um conceito que corre em paralelo com essa questão da masculinidade", diz a líder de pesquisa da Consumoteca, Marina Roale. "É o movimento em que o pai assume um lugar de cuidador emocional e social do filho desde os primeiros momentos ali da gravidez, ou do momento em que essa criança chega na sua vida", explica ela no podcast (ouça a partir de 13:11).

Participar igualitariamente da vida dos filhos já não significa mais apenas trazer dinheiro para casa. E isso passa muito pela desconstrução da própria ideia de masculinidade, debatem os caóticos. Acontece que essas mudanças não ocorrem de uma hora para a outra, e a pesquisadora Rebeca de Moraes conta que a reconstrução dos homens costuma ser bem mais lenta que a das mulheres.

Faça um teste: analise a diferença de pensamento e comportamento entre uma avó e suas netas, e depois a diferença entre um avô e seus netos. Muito mais coisa mudou na visão do que é ser mulher, né? E os avanços sociais delas acabam fazendo com que eles também se vejam obrigados a mudar. "[Tem] uma tendência que a gente estudou nos últimos anos que a gente deu o nome de masculinidade afetiva (...). Antigamente a gente tinha um homem — em um universo mais tradicional — que demonstra afeto pela sua família por ser um provedor. Um homem que paga contas, que se responsabiliza pela casa. (...) Conforme eles começam a dividir esse papel com as mulheres (...), os homens são chamados a reconhecer outros lugares de afeto além desse, e mostrar seus cuidados de outras formas", diz a pesquisadora (a partir de 10:28).

De Simpsons e Cristiano Ronaldo a Guimarães Rosa e Jesus Cristo, os caóticos trazem exemplos de pais da realidade e da ficção para entender como os modelos que temos como inspiração influenciam ou refletem a paternidade de hoje. Em uma pesquisa realizada pela Consumoteca, ficou claro como a imagem do pai ainda é muito associada a características como rigidez, falta de paciência, falta de compreensão com os filhos. Influenciadores como Marcos Piangers, entrevistado no episódio, tentam trazer novas referências aos homens e mostrar que o papel de pai é muito mais plural do que eles imaginam.

Essas figuras também abrem espaço para conversas sobre vulnerabilidades, sobre os perrengues que os homens passam e as dúvidas que eles estão dispostos a colocar na mesa. O primeiro passo é, claro, querer fazer diferente. "Quando você é pai, você tem quase uma oportunidade e um convite para rever teus valores, né. Como você tem que repassar alguma coisa para alguém, criar uma conexão e ter que pensar como seu filho vai viver nesse novo mundo, você começa a rever coisas. (...) Esse novo pai, que é esse pai grávido, quando ele é pai de uma menina, se ele nunca teve que pensar em uma situação na pressão que as mulheres sofrem ou em situações de machismo, essa é uma oportunidade que ele tem de repensar e entender que filha é essa que ele vai criar. Ela vai ter direitos iguais ou não?", pondera Roale (a partir de 36:48).

No fundo, a reconstrução do que é ser pai passa pela mudança da ideia do que é ser homem e, mais ainda, do que é ser sujeito, avalia Moraes. "Ser um pai presente, no fundo, é ser sujeito. É entrar em contato com os próprios desejos, é entrar em contato com quem você é, com quem você quer ser, como você quer manifestar esse amor por essa criança. É ser um sujeito, é ser a pessoa que você deseja ser" (a partir de 36:21).

Quer ouvir esse papo completo e ainda conferir a entrevista com Marcos Piangers? Não perca o episódio completo de CAOScast.

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