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CAOScast: Que bom que o mundo está chato; sociedade precisa de uma DR

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Do TAB

25/11/2021 04h01

De um lado, a defesa do politicamente correto. De outro, os que dizem que o mundo ficou muito chato, que não se pode mais fazer piadinha das coisas, que até a liberdade de expressão acabou cerceada. No meio disso tudo, o contexto. Já está mais do que na hora de respeitar a diversidade e agir e falar de modo responsável.

No episódio desta semana, a equipe do CAOScast debate como os limites da convivência humana na sociedade atual implicam reconhecer a necessidade de medir bem as palavras. Não é fácil, mas é necessário.

Para a pesquisadora Rebeca Moraes, o mundo ficou mais chato para quem "está fazendo piada com alguém" para ficar rindo sozinho. "Isso acabou sendo traduzido no diálogo público como um certo conflito entre o que seria o politicamente correto e o incorreto. No humor isso aparece para caramba", comenta (ouça a partir de 2:00).

"Isso só acontece", prossegue ela, "porque antes podia racismo, porque antes podia homofobia, porque esses grupos que não tinham condições de falar que aquilo não era legal, magoava, violentava, agora estão falando."

Para o pesquisador Tiago Faria, o mundo está chato "para quem sempre teve salvaguarda para oprimir". "E essa desconstrução precisa começar pela linguagem mesmo, que é o alicerce, o sintoma da formação da cultura de violência", ressalta (a partir de 5:05).

Ele argumenta que as pessoas se valem de uma suposta liberdade de se expressar para proferir discursos de ódio e fomentar, de maneira indireta, a violência. E lança mão de um exemplo pessoal para justificar a questão.

"Meu pai me diz até hoje que é para eu parar de 'viadeza'. Eu costumo responder que não dá [pra parar], porque eu sou 'viado'. Ele ri e diz que é força de expressão", comenta Tiago. Em sua visão, mesmo que não haja uma intenção direta de agredir, esse tipo de "brincadeira" não exime ninguém da "responsabilidade em replicar um preconceito".

Por outro lado, quando ele mesmo usa o termo "viado" para se "autoironizar", defende que está em seu lugar de fala — e isso o autoriza a empregar o termo.

Líder de pesquisa da Consumoteca, Marina Roale recorre ao termo D.R. — o famoso "discutir a relação" — para refletir sobre os discursos em constante refação, mas estabelece que, diante desse contexto, é preciso aplicá-lo na sociedade como um todo.

"Muita gente traz até uma conotação negativa para a D.R., mas a verdade é que para entendermos esse mundo complexo, temos que discutir a relação com o mundo. Conversas e acordos precisam ser atualizados a todo tempo para que consigamos dialogar, nos expor, nos relacionar publicamente", diz ela (a partir de 7:55).

Para Marina, só assim o mundo novo pode funcionar, contemplando a consciência maior dos problemas sociais e dos preconceitos. "A gente realmente tem de atualizar nossas conversas", defende.

Convidado para entrar na conversa, o psicanalista Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo), apontou que o problema está na divisão entre quem é "a favor do politicamente correto" e quem "pratica um discurso de ofensa".

"Isso tudo planifica nossas relações e tornam os conflitos muito achatados. O mundo está chato, a Terra está plana, e isso é porque a gente não consegue extrair muito bem o caráter produtivo dos conflitos", comenta ele. É importante reaprender a encontrar o lado bom dos debates (a partir de 22:05).

O papo é bom e a discussão tem muitos argumentos. Não deixe de ouvir o episódio completo de CAOScast no player acima para mergulhar fundo nesse assunto tão fundamental da vida contemporânea.

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