CAOScast: Tênis, calças de moletom e blusas largas viram itens de luxo
Se você estiver lendo este texto em home office, há grandes chances de estar vestindo pelo menos uma peça de moletom. O tecido saiu do fundo do armário e virou uniforme do dia a dia para quem procura conforto em casa, e há quem aposte que ele vai sobreviver ao fim da quarentena e sair para passear pelos escritórios.
É sobre roupas aparentemente casuais e confortáveis, mas cheias de história, política (e muitos zeros no preço) de que trata o mais novo episódio de CAOScast.
"Acho que é legal a gente pensar o streetwear como um movimento de cultura mesmo, que nasceu e cresceu fora da órbita da moda, com uma comunidade própria, com uma estética própria, com regras próprias", diz a pesquisadora Rebeca de Moraes. "Mas eu acho que a gente também pode pensar nesse movimento como uma tendência, a partir do momento em que as outras marcas, as marcas de luxo, vão se apropriando de características que têm a ver com essa cultura para trazer algo de novo agora" (ouça a partir de 18:47).
Os caóticos citam a Gucci como um exemplo de marca que procura conversar com o público jovem, incluindo elementos do streetwear. Marina Roale,líder de pesquisa da Consumoteca, explica no episódio que as marcas perceberam que essa era uma forma de atrair os millennials. "Tem até um nome que o mercado dá, que são os rich millennials, que contextualiza um pouco esse movimento que chega a ser um pouco paradoxal. (...) Essa geração sempre foi associada àquela geração que não queria ter bens, que não dava muito valor às coisas, e valorizava as experiências", lembra ela (a partir de 24:27). Correr atrás do que fazia sentido para esse pessoal — com parcerias, por exemplo, entre Beyoncé e Adidas, cria um novo apelo.
Mas não foi sem percalços que os tênis, as calças de moletom e as blusas largas ganharam status no mundo da moda. "A origem do streetwear é creditada aos praticantes de surf e de skate na Califórnia. Essa galera começou a produzir peças diferentes, mais folgadas, fáceis de usar, feitas também para resistir à prática do esporte nas ruas e nas pistas. Depois disso, as pautas e a expressividade do punk, do heavy metal, do hip-hop também começaram a ganhar espaço e trazer uma proposta diferente de vestuário", conta o pesquisador Tiago Faria (a partir de 15:58). Depois de décadas de preconceito, o estilo começa a ganhar espaço com marcas como a Supreme, a partir dos anos 1990.
"O luxo desceu do salto e fez a gente entender que quando a gente fala em moda de rua, a gente está falando menos de tribo e mais de identidades que não eram vistas e que agora são", resume Roale, que apelida o movimento de luxo comfy (a partir de 11:42).
Para quem quer arranjar uma desculpa para levar a calça de moletom para dar uma voltinha no escritório após a quarentena ou simplesmente entender melhor o que as novas gerações entendem por moda, o CAOScast desta semana está completinho no player acima!
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