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CAOScast: 'Tudo bem não estar bem': como novas gerações encaram a tristeza

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Do TAB

28/10/2021 04h01

De Radiohead a Reginaldo Rossi, há música de sofrência para todo os gostos. Filmes, séries e livros também. Identificar nossos sentimentos mais profundos na arte produzida por outras pessoas não é uma forma nova de amparo, mas o jeito como expomos e nos relacionamos com a tristeza parece que vem mudando.

Esse é o tema do novo episódio de CAOScast distribuído por TAB. Nesta semana, os caóticos debatem como as novas gerações usam a arte e a internet para dar uma nova cara à melancolia. "Há uma narrativa que está em alta que enaltece a tristeza, a imperfeição, o que deu errado, tira o fracasso daquele lugar que a gente esconde e enaltece, romantiza essa coisa de 'vamos aceitar que a coisa não está muito boa para todo mundo, que eu não sou essa pessoa brilhante que todo mundo imagina, que a vida está mais ou menos e vamos ver a beleza disso'", define a líder de pesquisa da Consumoteca, Marina Roale (ouça a partir de 6:51).

A Consumoteca vem estudando a "economia do mal-estar" há algum tempo e identifica que esse enaltecimento da fossa se comprova, por exemplo, no tipo de música que consumimos. Roale cita que o Spotify acompanha ano a ano o que os usuários vêm ouvindo e as playlists tristes vêm crescendo, principalmente entre os jovens.

No cinema e nas séries, a tendência parece se repetir. "Grandes clássicos do cinema já abordaram a questão do vazio existencial. Todos os grandes diretores têm seu filme 'fossa'. Tem o Kubrick de 'Laranja Mecânica', o Bergman com 'Morangos Silvestres', o Fellini e 'A Doce Vida', o Woody Allen, que tem esses filmes mais bem-humorados, mas que têm esse componente de auto-depreciação, onde ele elabora com psicanálise as próprias neuroses?", reconhece o pesquisador Tiago Faria. "Mas me parece que a novidade é que a tristeza não precisa mais ser hermética ou intelectualizada nas narrativas. Ela acaba aparecendo com contornos pop, com uma relativa leveza e até uma certa graça, mesmo. As sitcoms [séries de comédia] que vêm fazendo muito sucesso nos últimos anos trazem essa tendência. São histórias carregadas de traços niilistas" (a partir de 12:20). "Fleabag" é o exemplo mais recente citado pela pesquisadora Rebeca de Moraes.

Olhando para a situação atual do país — e talvez até mundial —, não é difícil entender por que estamos mais tristes. Pandemia, perda do poder de compra, desemprego, luto, burnout. Os motivos para não se estar bem são muitos, destacam os caóticos. "A gente está acreditando menos na ideia do progresso, tão cara à modernidade, mas que foi sendo golpeada pelos recentes acontecimentos da história", reflete Moraes (a partir de 15:02).

Numa tentativa de trazer alguma leveza a todo esse mal-estar, a sociedade metamoderna (termo emprestado do filósofo inglês Mark Fisher) tenta encontrar novas maneiras de encarar a tristeza — chegando até a romantizá-la. Mas, onde isso vai parar quando os sentimentos ruins são material até para #publis nas redes sociais? Confira o debate completo sobre o tema no novo episódio de CAOScast no player acima.

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