O paradoxo da beleza: com tanto 'ritual', estamos mesmo rompendo padrões?
Seja você mesma, mas seja a sua melhor versão. O novo discurso do mercado da beleza tem respondido aos anseios das consumidoras de se sentirem cada vez mais representadas, mas não sem algumas pegadinhas.
O paradoxo da beleza é o tema do episódio de CAOScast distribuído esta semana aqui no TAB. "Por um lado, a gente tem várias narrativas crescendo, emergindo, para poder falar sobre beleza e desconstruir vários padrões onde mulheres podem assumir seus cabelos brancos, onde a gente olha para o corpo (...) e começa a questionar, e se aceitar como é. (...) Mas, por outro, tem tudo isso que a gente falou, dessa dismorfia do filtro do Snapchat e dos Stories, tem essas inúmeras intervenções estéticas sendo lançadas de uma maneira muito mais acessível", reflete a líder de pesquisa da Consumoteca, Marina Roale (ouça a partir de 20:48).
Se antes era preciso marcar uma consulta cara com um cirurgião plástico para entender o que exatamente daria para "melhorar" na sua aparência, de acordo com os padrões estéticos, hoje há uma imensidão de filtros que fazem esse trabalho de graça e ainda por cima permitem ver os resultados de um rosto modificado em movimento, em vídeos.
Com a decisão tomada, as intervenções são cada vez menos invasivas e até mesmo reversíveis, como com a simples aplicação de ácido hialurônico para mudar as feições, em vez de quebrar ossos e encher a paciente de pontos com uma cirurgia plástica.
Fica fácil escolher um lábio que mais agrade, misturado com um nariz de outro filtro e os cabelos que caíram melhor em você com três cliques e swipes de tela. "Esse movimento de desejo de incorporação de determinadas estéticas tem sido cunhado como assemblage. Esse termo, que vem do francês e que pertence originalmente ao território da arte, é baseado no princípio de que todo mundo, todo e qualquer material, pode ser incorporado, criando um novo conjunto sem que perca seu sentido original. É como se a gente pudesse se tornar um pout-pourri de referências visuais comercializáveis para suprir todos os nossos anseios e ambições estéticas, compondo aí uma versão menos biológica e mais inventiva da gente mesmo", afirma o pesquisador Tiago Faria (a partir de 10:34).
O mercado continua respondendo aos anseios do público consumidor lançando produtos e fórmulas que prometem te manter fiel a você mesmo — mas melhorado. Afinal, se não for para mudar nada, o que é que vamos comprar?
"Tem duas narrativas possíveis: em uma, é 'aceite quem você é, seja natural, seja você mesma, você é linda como você é'; e a outra fala para a gente: 'busque sua melhor versão, e sua melhor versão é essa daqui, que você afina a sua bochecha, que seu nariz é desse jeito, que seu lábio é o da Kylie [Jenner]'. E tudo bem, porque isso também é incorporado num discurso de empoderamento, porque afinal, quem não quer ser sua melhor versão?", diz Roale (a partir de 21:41).
Para onde será que vai esse cabo de guerra de discursos? Não perca o episódio completo de CAOScast no player acima para fritar as ideias com essas questões.
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