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CAOScast:44% acreditam mais no que ouvem dizer que no trabalho da imprensa

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06/05/2021 04h01

Em qual canal uma opinião política reverbera com mais força: em um jornal tradicional e respeitado com 300 mil assinantes, ou em um vídeo na página de uma youtuber de moda e beleza com cinco milhões de inscritos, que em determinado momento decide falar mal do presidente?

Querendo ou não, as vozes da internet ganharam espaço em praticamente qualquer debate. Essa polifonia digital — e os problemas e benefícios que vêm com ela — é o tema do episódio de CAOScast veiculado esta semana aqui em TAB.

"Polifonia digital é um conceito, um nome que a gente deu para esse cenário em que novas vozes, produtores de conteúdo e de informação estão a todo tempo disputando por relevância em frente a uma audiência", explica Marina Roale, líder de pesquisa da Consumoteca (ouça a partir de 1:25).

Com a participação do historiador Matias Pinto, do podcast Xadrez Verbal, e da jornalista Caroline Tamassia, chefe de reportagem da rádio CBN, os caóticos observam que tanto a academia como a chamada mídia tradicional vêm ganhando novos papéis ao selecionar dentre essa polifonia as vozes que fazem sentido ouvir.

"Talvez foi a primeira vez que a gente se deu conta real e parou para pensar que toda matéria é um ponto de vista sobre a realidade, só que é um ponto de vista que tem um método. (...) E aí acho que no mundo onde todo mundo começou a falar sobre o que pensa, a gente começou a colocar gente que tem método com gente que não tem no mesmo balaio", reflete o antropólogo Michel Alcoforado (a partir de 6:52).

Em um estudo da Consumoteca, 44% dos entrevistados disseram acreditar em informações vindas de pessoas próximas, nas quais elas confiavam. Enquanto isso, 39% disseram confiar em informações vindas de veículos de comunicação. Mas a mesma pesquisa comprovou que as informações passadas no papo informal, na discussão da internet, estão longe de se basear em fatos ou ter algum método — diferente do jornalismo. 75% dos entrevistados afirmaram que debatem na internet usando experiências pessoais como argumento. Um exemplo: você pode ler esse dado e pensar "duvido, nem eu nem ninguém que eu conheço argumenta usando experiências pessoais, só fatos". Pois é?

"O jornalismo é um método. E por quê? Para você ter um entendimento e compreensão. Claro, ele é falho, mas o mais justo dentro do que é você contar uma história de verdade — você buscar todos os lados, começo, meio e fim, aquele onde, como, por que e quando. (...) A gente tem que encontrar um jeito de lidar com essa nova situação, de fazer um entendimento correto", diz Tamassia sobre a polifonia de vozes (a partir de 6:11).

Ela recorda que, nas eleições de 2018, o jornalismo precisou gastar recursos e tempo lidando com a "não-notícia" que vinha das redes: as fake news. Ao mesmo tempo, reconhece que a internet facilitou o trabalho do jornalista e fez com que ele chegasse a locais onde antes não chegava e com formatos mais interessantes.

Para a pesquisadora Rebeca de Moraes, há espaço para ambos: a chamada mídia tradicional e as novas vozes. Só é preciso saber o que consumir em qual situação. "Não vai dar pra saber de tudo, não vai dar pra ler tudo, não vai dar pra acompanhar tudo. (...) Tem coisas que a gente vai querer e procurar a imprensa. Eu espero que a gente queira, cada vez mais, procurar a imprensa, porque tem um tipo de trabalho em cima de um fato que quem faz é a imprensa. E tem coisa que você vai querer ver só no Instagram Stories dos seus amigos. E tudo bem" (a partir de 29:28).

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