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'Rinha de pintores' faz sucesso no Twitter e ensina história da arte

"A Captura de Cristo" (Caravaggio, 1602) - Reprodução
"A Captura de Cristo" (Caravaggio, 1602) Imagem: Reprodução

Marie Declercq

Do TAB

15/01/2020 04h00

No oceano de tretas, desafetos, indiretas e informações completamente equivocadas que costumam circular nas redes sociais, uma usuária do Twitter teve a proeza de unir "causos" envolvendo intrigas, sexo, traições e arte bonita em um só lugar. A fotógrafa mineira de 27 anos, Ari Noert, viralizou na plataforma ao apresentar a história de pintores renascentistas italianos de forma engraçada e educativa.

Para quem não sabe, o período do Renascimento na Itália foi mais dramático do que uma novela mexicana. Com a Igreja Católica e patronos riquíssimos despejando rios de dinheiro para produção de obras, os artistas disputavam a tapa pela fama e glória e de serem reconhecidos como os melhores da época. Quem eram eles? Coisa boba. Michelangelo, Raffaello, Leonardo Da Vinci e Caravaggio - um dos maiores influenciadores do Barroco.

Ari teve a ideia de publicar essas informações porque estuda história da arte por conta própria para poder elaborar pesquisas acadêmicas sobre o tema, foi assim que a fotógrafa ficou fascinada com o clima de ódio puro entre artistas renascentistas italianos do século XVI e começou a fazer threads no Twitter narrando as brigas de época.

"Quando comecei a me aprofundar em História da Arte, percebi essa coisa da erudição, por falta de uma palavra melhor, que tem nesse meio. Normalmente, o assunto acaba sendo muito elitizado e só gente que estuda sabe dessas coisas," conta. "Às vezes tem gente que nem conhece o Leonardo da Vinci, um dos artistas mais famosos. Por isso quis contar essas histórias de uma forma bem-humorada."

Ari já publicou na sua conta pessoal mais de 10 threads sobre História da Arte, mas foi a história de brigas, troca de ofensas e um "campeonato" de pintura entre Leonardo da Vinci e Michelangelo que chamou atenção dos tuiteros por ser uma verdadeira "rinha de pintor renascentista".

Quando da Vinci começou a fazer sucesso na Itália, Michelangelo - apelidado por Ari de "Pinschelangelo" por ser pequeno e nervoso que nem um cachorro da raça Pinscher - já era um artista consagrado por muita gente importante da época e detestou a concorrência. A disputa entre os dois, somada ao temperamento irascível de Michelangelo ajudou o artista a ser, de uma certa forma, "cancelado". Ninguém aguentava Michelangelo e por isso muita gente parou de chamá-lo para trabalhos. Até o papa Leo X, um velho conhecido do artista, chegou a confidenciar que achava Michelangelo um homem assustador e impossível de lidar.

Porém, foi a última thread publicada por Ari sobre as histórias de farra e casos de polícia do Caravaggio que coroou o pintor como o mais maluco da época. Nascido Michelangelo Merisi, o pintor assumiu o nome de sua cidade de origem como nome artístico e viveu 37 anos pintando quadros retratando situações extremas de violência, muitos deles usando seu amante, um menino de 11 anos, como modelo.

Sua vida foi tão dramática quanto seus quadros, aliás. Caravaggio gostava de brigas, álcool, farras com prostitutas e andava armado. "A maior parte das informações sobre ele vem de registros da polícia," conta Ari. "Lendo a biografia dele você acha que uma hora ele vai se acertar, ficar de boa e aí ele arrumava outra confusão e tinha que fugir de novo."

Ari pretende continuar suas threads contando histórias de outras épocas, mas ela já aprendeu que são as brigas históricas que chama atenção. "O pessoal gosta de ver o sangue rolando no Twitter. Pegar uma briga das antigas faz o pessoal se interessar mais, mas pelo menos no meio acabam se interessando em história da arte," se diverte.