Xuxa, Rita Lee e as mulheres que querem envelhecer como 'feiticeiras'
Rita Lee já disse mais de uma vez, em entrevistas, que passou dos 60 como uma "feiticeira". Ela usa a expressão em oposição ao que ela batiza de "peruas", para contrastar às mulheres que preferem assumir o envelhecimento com aquelas que procuram incessantemente a fonte da juventude, como lhes é imposto pela sociedade.
É inspirada em Rita Lee que Marina Roale, head de pesquisa da Consumoteca, analisa a chegada das mulheres à tão temida idade dos 60 — que as coloca entre o grupo contemplado no Estatuto do Idoso. No novo episódio de CAOScast distribuído por TAB, Roale conversa com a trupe caótica de todas as semanas — o antropólogo Michel Alcoforado e os pesquisadores Rebeca de Moraes e Tiago Faria — sobre as diferentes pressões do envelhecimento.
"Envelhecer não é igual para homens e mulheres. (...) A mulher sofre uma pressão estética muito maior, ela não pode envelhecer ou parecer velha porque senão perde valor para a sociedade, e mulher tem muito uma coisa não só de ser velha mas é quase como uma vigilância dos dois lados. A mulher não pode ser nova demais para fazer um monte de coisa, e também não pode ser velha demais para fazer um monte de coisa", afirma Roale (ouça abaixo partir de 26:16).
Além de Rita Lee, ela comenta o caso de Xuxa Meneghel, que teve toda sua vida adulta sob os holofotes, e hoje desafia o conceito de envelhecer como perua na "escala Rita Lee". Apesar do dinheiro, do glamour e da fama, a apresentadora preferiu encarar a idade como feiticeira, observam os caóticos.
"Acho que esse conceito de ageful que a gente trouxe aqui é essa reinvenção do envelhecimento, onde uma mulher como Xuxa ou qualquer outra possa exibir seus sinais do tempo sem ter que se preocupar com isso e sem ter que ficar pensando em como compensar esse valor para falar ou simbolizar algo", diz a pesquisadora (a partir de 28:05).
Tiago Faria compartilha no episódio sua própria experiência para falar de outro grupo que tem especificidades ao se enxergar mais velho: o dos homens gays. "Desde cedo foi muito difícil me imaginar como um homem gay velho. A cultura gay é carregada de códigos juvenis, de um apelo erótico corpórero", conta ele. Uma figura que o inspirou foi o ator Raul Cortez (1932-2006). Faria conta que, ainda jovem, viu o ator já idoso num shopping e o enxergou como modelo de envelhecimento com personalidade (a partir de 16:46).
Além dos modelos positivos e plurais do que é ter mais de 60 anos — que, convenhamos, hoje em dia dificilmente reflete aquela imagem de uma pessoa já curvada, fraquinha e de memória fraca —, a equipe do CAOS avalia que o mercado também vem se adaptando aos novos estilos de vida desse recorte demográfico. Não dá mais para inovar só em creme antirrugas e tinturas para esconder os fios brancos.
A chamada economia prateada pensa em produtos e serviços que satisfaçam a uma população cada vez mais velha, e com cada vez mais lucidez para consumir, experimentar e se manter ativa após a aposentadoria. Um nicho ainda pouco explorado é o da usabilidade de tecnologias para os idosos. Cada vez mais eles dependem e se interessam por esses produtos, mas, como não estão acostumados, têm um pensamento mais linear quando vão usá-los. Pensar interfaces amigáveis para os idosos é a dica de ouro dos caóticos para quem trabalha nesse mercado.
Quer saber mais sobre envelhecimento e qualidade de vida? Ouça o episódio completo do CAOScast acima.
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