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Whindersson sobrevive à luta contra Popó e público brinca: 'marmelada'

Final de luta entre Whindersson Nunes e Popó, em Balneário Camboriú - Ricardo Franzen / Divulgação FMS
Final de luta entre Whindersson Nunes e Popó, em Balneário Camboriú
Imagem: Ricardo Franzen / Divulgação FMS

Maurício Frighetto

Colaboração para o TAB, de Balneário Camboriú

31/01/2022 11h27

Quando conversava sobre a luta de boxe contra Acelino Freitas, o Popó, o humorista e influencer Whindersson Nunes costumava ouvir: "Não vá, não. Você vai morrer!".

Na madrugada desta segunda-feira (31), depois de oito rounds, nariz sangrando, rosto inchado, avaliação médica no meio do combate e um empate duvidoso, Whindersson voltou a ressaltar o perigo que correu. "Imagina lutar com um tetracampeão mundial e sair vivo!".

O Fight Music Show, em Balneário Camboriú (SC), estava em seu auge festivo pouco depois da meia-noite. Enquanto Wesley Safadão cantava no palco, o público dançava e o filmava com celulares. Àquela altura, máscara para proteção contra covid-19 era raridade — para entrar no evento era necessário apresentar a carteira de vacinação ou fazer um exame rápido.

"Recebi a notícia que estão todos esperando", anunciou Safadão, entre versos como "Aí eu bebo, aí eu bebo, bebo pacarai…". "Os caras estão aqui atrás prontos para começar a luta."

Wesley Safadão, no Fight Music Show de Balneário Camboriú (SC) - Ricardo Franzen / Divulgação FMS - Ricardo Franzen / Divulgação FMS
Wesley Safadão, no Fight Music Show de Balneário Camboriú (SC)
Imagem: Ricardo Franzen / Divulgação FMS

Os caras eram Whindersson e Popó. Mas até o início da atração principal, as cerca de 2,5 mil pessoas que pagaram entre R$ 250 e R$ 2.500 para entrar no evento viram lutas, DJs, duelo de guitarras e o comediante, Tirullipa, que vestia blazer roxo e calça justa e imitava o conhecido locutor de lutas de boxe Bruce Buffer.

Até aquele momento, um dos pontos altos da noite tinha sido a vitória de Rogério Minotouro sobre Leonardo "Leleco" Guimarães, por decisão unânime dos juízes — aperitivo para o que viria depois, a luta entre o medalhista olímpico Esquiva Falcão e o ex-BBB Yuri Fernandes.

Assim como Whindersson, Yuri desafiava um atleta consagrado, mas a luta foi interrompida por decisão médica, depois de o ex-BBB beijar a lona, dando a vitória para Esquiva Falcão.

Whindersson surgiu com trancinhas coloridas no cabelo e se dirigiu ao ringue, em frente ao palco. Em volta, o público parecia assistir a tudo pelas câmeras dos celulares. O humorista entrou sorridente, fez uma dancinha tímida, mas estava menos performático que de costume. Popó chegou depois com um séquito, ostentando os quatro cinturões de campeão mundial. A luta estava programada para durar até oito rounds de dois minutos cada.

Popó, durante a luta contra Whindersson Nunes no Fight Music Show, em Balneário Camboriú (SC) - Ricardo Franzen / Divulgação FMS - Ricardo Franzen / Divulgação FMS
Popó, durante a luta contra Whindersson Nunes no Fight Music Show
Imagem: Ricardo Franzen / Divulgação FMS
Whindersson Nunes - Ricardo Franzen / Divulgação FMS - Ricardo Franzen / Divulgação FMS
Whindersson Nunes
Imagem: Ricardo Franzen / Divulgação FMS

Onde tudo começou

Publicamente, a história começou em dezembro de 2020. Whindersson negociava uma luta contra Logan Paul, youtuber norte-americano que lutaria contra o boxeador Floyd Mayweather, 12 vezes campeão mundial. Paul e o irmão Jake são considerados os precursores desse tipo de entretenimento.

Popó compartilhou a reportagem do UOL sobre as negociações de Whindersson e desafiou: "Se você quiser fazer uma luta de verdade, como o outro YouTuber fez na preliminar do Mike, me desafia, pô! To há 3 anos parado... Vai que vc consegue acertar nem que seja um jab em mim? Cai p[ra] dentro campeão". Whindersson respondeu com um vídeo. "Me diga quando você quer, onde você quer e vamos botar ao vivo no meu canal no YouTube. Bora?".

No mesmo vídeo, Whindersson falou sobre a importância do boxe em sua vida. "Quando foi que surgiu esse negócio? Cara, surgiu porque o esporte mudou minha vida de uma forma muito massa, sabe? Em vários momentos da minha vida que eu tava meio perdido da cabeça o esporte me colocou no lugar." O humorista já havia declarado publicamente sofrer de depressão.

Luta e entretenimento

A luta chegou a ser anunciada em outubro de 2021 e ocorreria nos EUA. Nesse meio-tempo, entrou em cena outro personagem: Mamá Brito, que se define como "treinador comportamental" e "master coach". Ele treinou, por exemplo, seus primos Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro, ídolos do MMA. "Vi uma janela de oportunidade. Eu ia fazer este evento daqui a três, quatro meses", disse ele, que é CEO do Fight Music Show.

Brito conversou com TAB por telefone, dias antes da luta. Contou ter falado com Whindersson em dezembro, antes de fechar o acordo. "Quando conversei com ele, disse: a única coisa que peço é o seguinte: não vai ser demonstração, você vai ter que ir até dar nocaute ou pontuação. Ele disse: 'Tudo bem! Concordo contigo, desde que você faça esta luta no final de janeiro'."

"Acho que vai ser mais comédia que luta", especulou o militar da reserva João Carlos dos Santos, 57. Ele, a esposa e três filhos vieram de Cabo Frio (RJ) para Santa Catarina curtir o Beto Carrero World e souberam do evento pela televisão. Resolveram assistir — pagaram cerca de R$ 900 nos ingressos. Mário Mota, 43, e a companheira Cleidiane Oliveira, 39, vieram de Itapipoca (CE), só pra ver as lutas. Ele apostava que o combate seria duro; ela, que seria mais diversão.

Além dos riscos para Whindersson, pairava no ar a dúvida sobre se a luta seria para valer. Popó, em uma entrevista coletiva, revelou viver um dilema. "As pessoas perguntam: primeiro round? Elas se acostumaram aos 34 nocautes no primeiro round. Se eu derrubo rápido, vão dizer que é porque o cara é humorista e não lutador de boxe. Se passo do quarto round, vão dizer: está velho, lascado, não derruba mais ninguém. Tenho que ter um meio-termo para colocar a mão."

João Carlos dos Santos, a esposa e os três filhos vieram de Cabo Frio (RJ) para visitar o Beto Carrero World e foram assistir à luta de Popó e Whindersson - Rogério Friguetto/UOL - Rogério Friguetto/UOL
João Carlos dos Santos, a esposa e os três filhos vieram de Cabo Frio (RJ) para visitar o Beto Carrero World e foram assistir à luta de Popó e Whindersson
Imagem: Rogério Friguetto/UOL

Treinamento e piada

Whindersson, 27, tem uma luta amadora no currículo — vitória por pontos, em setembro de 2019. Popó, hoje aos 46 anos, já foi medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos de Mar del Plata, em 1995, e tetracampeão mundial. Contando só a carreira profissional, tem 43 lutas — 41 vitórias, 34 nocautes.

O humorista treina há cinco anos na Capital da Luta, em São Paulo, e há quase dois começou sua preparação para enfrentar Popó. "Ele é muito talentoso. Treina tudo o que todos os meus atletas profissionais treinam. Ele corre, bate saco, faz musculação, faz gelo, fisioterapia. É um cara talentoso e muito dedicado", avaliou Lucas Mineiro, 33, lutador de MMA, proprietário da academia e treinador de Whindersson. "Quando está treinando é muito focado, mas nos bastidores ele solta uma piada ou outra e a gente não para de rir. Depois é foco total nos treinos."

A preparação física foi comandada por Caio Franco, 31, especializado em treinos de alto rendimento no MMA e em treinar famosas, como Isis Valverde, Ana Hickmann e Ticiane Pinheiro. Um dos principais desafios foi baixar o peso de Whindersson, que deveria ter até 75 kg no dia anterior à luta. "Inicialmente, o Whindersson estava com 83 kg, por isso intensificamos seus treinos na esteira, restringimos a quantidade de sal e aumentamos a quantidade de água consumida, para perdermos 8 kg até a pesagem final". O humorista bateu em 74,3 kg — ele já chegou a pesar 106 kg.

Whindersson Nunes e Popó, no Fight Music Show de Balneário Camboriú (SC) - Ricardo Franzen / Divulgação FMS - Ricardo Franzen / Divulgação FMS
Imagem: Ricardo Franzen / Divulgação FMS

Socos e satisfação

No início da luta já era possível notar a diferença entre os dois. Popó era mais rápido, incisivo, elegante. No fim do primeiro round, o rosto de Whindersson já estava ficando marcado. No fim do segundo assalto, Whindersson acenou para a torcida, que vibrou. No quarto, seu rosto sangrava. Cada etapa que passava parecia ser uma vitória para o comediante.

No sexto round, o árbitro abriu contagem, após Popó acertar um golpe em Whindersson. Um médico o avaliou e o liberou para voltar ao combate. Os dois se abraçaram antes do último assalto. Parte do público vibrou, mas uma pequena parte vaiou. Fim da luta. Os árbitros anunciaram o empate. "Era óbvio que isso ia acontecer", disse alguém na plateia. "Foi marmelada", cravou Cleidiane. "Mas a luta foi pra valer, o show foi bom."

Em diversos momentos Whindersson tentou explicar o que o levou a lutar. Mas nem para ele os motivos estavam muito claros. "Por que, Whindersson, lutar com Popó? Também não sei, não. Acho que estou indo em busca de respostas. O porquê das coisas é uma das coisas que me move para ser quem eu sou", refletiu, um pouco antes de ressaltar que é um artista, que vive para se expressar. Talvez a luta tenha sido mais uma forma de chamar atenção, ganhar likes e views, entreter, fazer rir, emocionar. Aquilo para o que está talhado para fazer.