Topo

Na Argentina e no Chile, Lollapalooza limitou cerveja em 'cercadinho'

Lollapalooza 2022 em Buenos Aires - Alive Coverage
Lollapalooza 2022 em Buenos Aires Imagem: Alive Coverage

Amanda Cotrim

Colaboração para o TAB, em Buenos Aires

26/03/2022 04h00

O Lollapalooza 2022 é considerado o primeiro grande evento de música pós-vacina em diversos países da América do Sul. O evento não acontecia desde 2019 — a edição de 2020 fora cancelada.

Mas o que poderia ser um retorno perfeitamente catártico, envolvendo música e celebração, acabou frustrando parte do público — que teve o consumo de cerveja limitado a, literalmente, um cercadinho, como no caso do evento em Buenos Aires, que aconteceu no Hipódromo de San Isidro, no último fim de semana (18, 19 e 20 de março), simultaneamente ao evento em Santiago, no Chile.

Cercadinho da cerveja

O cantinho da cerveja foi um espaço criado pela Budweiser, grande patrocinadora do evento. A área foi divulgada pela marca como um ambiente exclusivo, no qual as pessoas maiores de 18 anos poderiam comprar até duas cervejas, entre 12h30 e 00h.

Nem todo mundo que estava no festival sabia sobre a restrição, o que gerou um princípio de tumúltuo entre o público e os organizadores, como testemunhou a brasileira Fernanda Fonseca, 24, que vive na Argentina e também foi surpreendida pela norma.

Segundo Fernanda, uma pessoa comprou as cervejas e tentou sair com mais latinhas do local, para poder compartilhar com amigos, mas acabou sendo impedida pela organização. "Teve discussão e um princípio de confusão, mas depois tudo se normalizou", contextualiza a jovem, que não aprovou a experiência do "cercadinho". Em suas palavras, além de ser obrigada a encarar o frio, ela teve que tomar a cerveja "super rápido, 'no glute glute', o que me fez passar mal, justamente por essa limitação de espaço e de pessoas", lembra.

A medida foi divulgada na imprensa local semanas antes do evento. O controle sobre o consumo de bebidas alcoólicas na Argentina é uma determinação federal, já que, segundo a legislação, está proibido o consumo de bebidas alcoólicas em vias públicas e dentro de estádios de futebol ou de eventos culturais, educativos e esportivos -- só permitido em eventos que tenham autorização para tal, como foi o caso do cercadinho no Lollapalooza.

Segundo Juan Giovaneli, diretor da Budweiser -- única marca autorizada a vender cerveja no festival portenho --, cerca de 57 mil pessoas passaram pela área exclusiva da marca e, em suas palavras, a ideia era de que o público pudesse ter uma visão privilegiada do evento, já que a área foi projetada com vista ampla para os palcos.

Crianças e muitas famílias no festival em Buenos Aires - Divulgação - Divulgação
Crianças e muitas famílias no festival em Buenos Aires
Imagem: Divulgação

Bebida alcoólica para quê?

"Sou muito fanática e intensa com a música. Por isso, eu amei poder acompanhar as bandas de perto. Meu interesse, honestamente, era curtir ao máximo possível os shows, nem fome ou sede eu senti", contou ao TAB a geóloga argentina Paula Delgado Galvis, 30, que esteve pela primeira vez no festival na última semana. Para ela, o cercadinho da cerveja não foi propriamente um problema.

"Me transportei para os anos 1990, vivi um momento de nostalgia com bandas que, mesmo sem conhecer profundamente, me fizeram aproveitar o momento. Realmente não é preciso usar nenhuma substância para acessar essa emoção", frisa Paula, contextualizando que, na Argentina, é comum escutar das pessoas que frequentam grandes shows sobre uma certa "disciplina" no modo como o público aproveita esse tipo de evento.

"Não vi ninguém usando drogas. Isso se você não considerar a maconha", conta, aos risos. "As pessoas fumam na rua e não foi diferente durante o festival", comenta a geóloga.

Paula definiu o evento como uma experiência "absolutamente tranquila" na capital argentina.

A argentina Paula durante o festival em Buenos Aires - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A argentina Paula durante o festival em Buenos Aires
Imagem: Arquivo pessoal

Venda informal de bebidas

Concomitante à sua versão argentina, o festival também passou por Santiago, capital chilena, entre os dias 18 e 20 de março. Por lá, o público lotou o Parque de Cerrillos para assistir aos shows de suas bandas favoritas.

Em Santiago, o calor tomou conta da cidade durante os dias de festival e, oficialmente, a venda e o consumo de bebida alcoólica também era limitada, mas com uma diferença: na prática, era possível comprar bebida "clandestina" de vendedores ambulantes na pista, como relatou a estilista chilena Antonieta Escalante, 33, que aprovou a limitação da venda de bebidas -- já que, segundo ela, havia muitas crianças no festival.

"Aqui no Chile há uma regulamentação sobre a venda e o consumo de bebidas alcoólicas. Eu trabalho em um bar, e só podemos comercializar álcool se o cliente apresentar um documento que provando que é maior de 18 anos. E não pode tomar bebida alcoólica na rua, apenas em lugares autorizados, como no caso dessa área exclusiva no Lolla", explica. Para acessar o festival, a chilena também teve que apresentar o passaporte sanitário.

Já a venda clandestina de álcool na pista transcorreu sem grandes conflitos. "Não vi nenhuma confusão entre organizadores e público. Até acredito que a organização sabia da venda informal de bebida, mas passou batido porque foram pouquíssimos ambulantes e eles só vendiam durante a madrugada", reforça a chilena Loreto Tapia Diaz, 31, que esteve com Antonieta no festival em Santiago.

Para ela, limitar o consumo de álcool foi uma boa estratégia, principalmente por causa da presença maciça de adolescentes no festival.

As chilenas Antonieta e Loreto no festival em Santiago - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
As chilenas Antonieta e Loreto no festival em Santiago
Imagem: Arquivo pessoal

Público sedento

Apesar da Argentina ter sediado dois festivais de música em 2022, o Lollapalooza foi o primeiro grande evento pós-vacina em Buenos Aires -- e também o mais aguardado, o que fez muita gente se perguntar como seria voltar à experiência de aglomeração.

A resposta foi um público sedento pelos shows. "Não sei se houve superlotação, mas foi um sufoco. Tinha muita gente, e teve um momento que eles precisaram parar o show", conta Fernanda. Numa placa projetada para o público, os organizadores pediam que as pessoas não se aproximassem (tanto) do palco. "Atenção: por favor, dê alguns passos para trás e o show poderá seguir", dizia o aviso.

O festival em Buenos Aires - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O festival em Buenos Aires
Imagem: Arquivo pessoal

No Brasil, a expectativa também é grande, já que o festival será o primeiro deste porte após a flexibilização do uso da máscara em locais abertos e fechados no estado de São Paulo. O Lollapalooza 2022 acontece neste final de semana já com alguns incidentes provocados pelas chuvas fortes na capital — mas o público pode consumir sua bebida em qualquer zona destinada ao público.