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Por R$ 197, Whindersson Nunes ensina a 'hypar' e ficar famoso na internet

Whindersson Nunes, durante as aulas do curso para "hypar" na internet - Reprodução
Whindersson Nunes, durante as aulas do curso para 'hypar' na internet Imagem: Reprodução

Marina Santa Clara

Colaboração para o TAB, de São Paulo

06/07/2022 04h01

Whindersson Nunes não promete pouco no site que anuncia o curso "Como Ser Interessante na Internet", à venda por R$ 197 (ou até 12 x de R$ 19,19). As aulas são gravadas e estão disponíveis em uma plataforma digital.

"Mas e eu, que sou chato? Ah, papai, esse curso é pra você também!".

Movida pela curiosidade de descobrir como é que se ensina alguém a se tornar interessante, a reportagem comprou "Como Ser Interessante na Internet" e acompanhou as 47 aulas em vídeo, todas apresentadas pelo humorista. Se o nome do produto e a propaganda no site fazem parecer que estamos prestes a enveredar pela estrada da autoajuda e do discurso motivacional, na prática o curso é mais um entre tantos outros de marketing digital.

No Twitter, o anúncio do lançamento, em abril, dividiu opiniões. Alguns usuários debocharam da ideia do "curso para ser interessante" e outros questionaram o valor. A um que escreveu "Vivi pra ver o Whindersson virar coach e vender curso", o humorista respondeu: "Posso te dar o acesso e se você achar que o que eu falo não tem fundamento ou que estou tomando 140 REAIS [valor que custava no lançamento] das pessoas por todo o meu conhecimento com que eu mudei a vida de toda uma geração da minha família, eu te dou 50 mil reais e peço desculpas públicas". No mesmo dia, tuitou: "Meu curso é bom e barato, e o conteúdo é pica pq eu me garanto no que eu faço, e não é novidade pra ninguém, esqueça tudo".

Ao longo dos módulos, Whindersson ensina técnicas para gerar engajamento em posts que naturalmente não teriam, como os de propagandas de produtos.

Na rede social, uma outra parcela, mais simpática ao humorista, dizia ter vontade de comprar o curso por imaginar que seria engraçado, independentemente do conteúdo. "Além de aprender a ser interessante, a pessoa vai ganhar um stand up gratuito", dizia um. Não há como negar que o know-how do garoto-propaganda faz toda a diferença como atrativo. "Ele começou do nada, sem dinheiro, sem equipamentos, sem acesso ou contatos. Mas, com muito estudo, dedicação e estratégia, se tornou um fenômeno multiplataforma", diz o anúncio no site.

'Quem é você até aqui?'

No curso, Whindersson promete contar as estratégias que usou para construir a própria carreira bem-sucedida. E, ao longo dos seis módulos, é o que entrega, de um jeito descontraído, entre uma piadinha e outra, com linguagem simples e direta, reforçando sempre que seu público-alvo é tanto a pessoa que quer usar as redes para ser influencer quanto a que tem um pequeno comércio. Se dali surgirá um novo Whindersson Nunes, só o tempo dirá. "A diferença do meu curso é que eu vou falar como uma pessoa normal falaria. Eu vou falar de um jeito mais 'normal' pra vocês entenderem", diz ele.

Sentado em uma cadeira, em um cenário de fundo escuro, ele vai relembrando o próprio começo no YouTube, as dificuldades e, de saída, já afirma: "Você vai aprender a ser interessante, eu tenho propriedade pra falar". Em aulas como "O verdadeiro Whindersson", relembra a vontade que tinha de ficar rico e traz à tona reflexões como: "Eu entendi que ser interessante é mais interessante do que ser famoso, ser rico, do que qualquer coisa" e "ser interessante te leva a algum lugar".

Ao longo do módulo 1, chamado "O começo", convida o aluno a fazer lições em aulas como "Quem são as referências das suas referências", falando sobre a importância de acompanhar perfis de quem já aprendeu a ser interessante na internet. No módulo 2, o aluno recebe ensinamentos como "Não seja um sem noção", em que o professor destaca a importância de contextualizar o que posta.

Ele divide, por exemplo, que gosta de dançar no banheiro para "ensaiar" para seus shows. "Eu entro no banheiro e faço aquela performada pra parede". No terceiro módulo, batizado de "Meio", explica o funcionamento de cada rede social, dando dicas que diz usar, como transformar em tuíte um story seu que gerou muitas respostas e compartilhamentos ou iniciar seus vídeos no YouTube dançando por exemplo uma música de Ariana Grande em versão forró para contar com o engajamento do fandom da artista. "A gente tá nesse curso pra ficar bem de vida, ganhar uma graninha", ele segue.

No módulo 4, o "Fim", Whindersson surge em um cenário com fundo mais claro, blusa regata e bermuda também claras, para falar sobre como criar uma rotina de posts para as redes, planejamento, engajamento e erros de iniciante. O módulo 5, "Depois do fim", entrega "Como eu começaria do zero hoje", "Como nunca parar de crescer", "Quanto tempo até ficar grande" e "Não perca seu tempo".

Até a história bíblica do encontro de Jesus Cristo com uma mulher diante de um poço vira exemplo de marketing digital. "Hype, bro, hype", diz o professor. Ao fim de cada módulo, pede nas lições que os alunos respondam à pergunta "Quem é você até aqui?". O módulo bônus, com temas como haters, podcast e monetização, encerra o curso.

Curso de como 'hypar' na internet de Whindersson Nunes - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

O que diz a audiência

Ao longo do curso, fica evidente que as dicas e estratégias se baseiam em técnicas manjadas para quem já tem algum conhecimento de marketing digital, mas possivelmente úteis para quem é iniciante no assunto, o dono da padaria ou a senhora que vende bolos, como Whindersson mesmo exemplifica.

Ensinar a "ser interessante" é, no fim das contas, sinônimo de ensinar ferramentas para usar de maneira prática as redes sociais e aumentar o número de likes, engajamento, comentários e "ganhar graninha". O que o humorista ensina nos vídeos, como a importância de gerar identificação ou de se mostrar autêntico, ele vai aplicando nas próprias falas do curso, com um texto descontraído, com piadinhas, e quando conta a própria história e as dificuldades que enfrentou no começo da carreira.

Parece improvável que a blogueira que quer milhões de seguidores, como diz a propaganda, atinja seu objetivo só graças ao curso. Até porque o próprio Whindersson, na aula sobre TikTok, a rede do momento, admite que ainda não é autoridade na plataforma chinesa e não tem tantas dicas a dar sobre ela.

Nos espaços para comentários de cada um dos vídeos, só há elogios ao curso (não é dito se há moderação dos administradores). Nos primeiros módulos, algumas aulas chegam a ter mais de 80 alunos escrevendo sobre suas impressões. "Massa demais seu jeito de falar! Super didático!", afirma alguém. "Ansiosa e sentindo que encontrei a luz no fim do túnel", diz outra pessoa, logo na segunda aula. "Bicho bruto!" e "top" também estão entre os elogios.

Mais ao final, a média é de cinco comentários a cada aula. Mas quem chega ao módulo bônus não parece se decepcionar. "Adorei o curso, papai, e convido você que fez e finalizou em conhecer meu insta", escreve um. Há até quem diga já ter colocado ideias aprendidas com o professor em prática: "Whind, as vendas aumentaram muito depois do seu curso. Eu sou fotógrafa de ensaios sensuais femininos e não gostava de aparecer tanto no feed, mas agora estou todos os dias nos stories e de vez em quando posto uma foto no feed também. Amando!".

A reportagem solicitou via assessoria do humorista informações sobre a quantidade de cursos vendidos desde o lançamento e uma entrevista com Whindersson, ele próprio uma personalidade que se provou interessante para uma legião de fãs na internet, com mais de 58 milhões de seguidores no Instagram e mais de 43 milhões de inscritos no YouTube. Desde o dia 21 de junho, seu assessor, no entanto, respondeu a apenas um dos vários contatos de WhatsApp, pedindo que a solicitação fosse enviada por e-mail, o que foi feito, e depois não retornou mais, até a publicação deste texto.