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'Sair do armário': como a militância petista se organiza para o 2º turno

Eleitores durante comício de Lula na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte - Alexandre Rezende/UOL
Eleitores durante comício de Lula na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte
Imagem: Alexandre Rezende/UOL

Leandro Aguiar

Colaboração para o TAB, de Belo Horizonte

11/10/2022 04h01

Na manhã de domingo (9), mais de 50 ônibus se concentraram nos arredores da praça da Liberdade, no centro de Belo Horizonte, um ponto que, desde os protestos pró-impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, ficou famoso por manifestações de direita.

Desta vez, porém, a praça foi ocupada por militantes vestindo vermelho. Dali partiria uma caminhada da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com a presença do deputado federal André Janones (Avante) e do músico Chico Buarque, uma demonstração da estratégia mineira da militância petista para o segundo turno das eleições de 2022: "sair do armário" e ocupar as ruas de vermelho, "sem medo".

Foi o que se discutiu dias antes na plenária da coligação dos partidos aliados a Lula, na CUT (Central Única dos Trabalhadores) de Belo Horizonte, no fim da tarde de quinta-feira (6). Embalado por jingles em ritmo de forró eletrônico e um lanchinho (café e pão com mortadela), o encontro não teve as tradicionais saudações a movimentos sociais ou lideranças partidárias.

O recado era outro: comunicar estratégias para o segundo turno e dividir as tarefas entre os militantes mineiros - no estado, Lula teve quase 600 mil votos a mais que o presidente Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno. A ideia agora, segundo se relatou no encontro, é "dobrar a meta" e levantar mais de 1 milhão de votos.

Lula durante comício na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte - Alexandre Rezende/UOL - Alexandre Rezende/UOL
Lula durante comício no domingo (9), na praça da Liberdade, em Belo Horizonte
Imagem: Alexandre Rezende/UOL

'Sair do armário'

Deputada estadual reeleita, a professora Beatriz Siqueira (PT) foi a primeira a tomar a palavra. Destacou que, para engajar uma onda petista em Minas, os eleitores precisam mostrar "que estão aqui".

Devido aos casos de violência política durante a campanha, discutiu-se muito o medo de se expor politicamente nas ruas de diversas cidades brasileiras. "BH parece uma cidade de um candidato só, cheia de jipes importados com adesivo do Bolsonaro", disse a deputada.

É também o que pensa a produtora cultural Aida Neves, 55. Toda de vermelho e coberta de adesivos, ela considera importante que a esquerda "saia do armário" nas semanas que antecedem o segundo turno. "Muita gente da militância está com medo. Às vezes recebo xingamentos, buzinam para mim e fazem 'arminha'. Apenas ignoro. Não podemos cair em provocações. Agora é ocupar as ruas e seguir na campanha - sempre de vermelho", destacou.

A estratégia vai na direção contrária ao que sugeriu a senadora Simone Tebet (MDB), ex-candidata à Presidência que declarou apoio a Lula no segundo turno. Em mensagens disparadas a amigos e interlocutores de partidos, conforme revelou a jornalista Mônica Bergamo, Tebet defendeu "tirar o vermelho da rua" e considerou um erro entoar o refrão "vai dar PT, vai dar, vai dar PT", como ocorreu no ato na capital mineira.

Filha de operários, Aida participa do movimento sindical desde a década de 1980. Diz que não se surpreendeu com o resultado do primeiro turno. "Foi o esperado. Eu estava no corpo a corpo da campanha, distribuindo panfletos. A gente percebia que estava meio a meio", relatou.

O ânimo, assinalou a professora Adriana Souza (PT), deve estar no alto. "Tem de estar lá em cima", disse ela, que foi candidata a deputada estadual, obteve 25 mil votos e ficou como suplente na Assembleia de Minas Gerais. "Nós vencemos, né?", indagou.

Militantes durante comício de Lula na Praça de Liberdade, em Belo Horizonte - Alexandre Rezende/UOL - Alexandre Rezende/UOL
Militantes durante ato de campanha do PT no centro da capital mineira
Imagem: Alexandre Rezende/UOL

'Não é pecado'

Além de intensificar o corpo a corpo em pontos de ônibus, na porta de fábricas e nas periferias, outra estratégia é virar voto onde o desempenho de Lula nas urnas não foi bom no estado - Minas reelegeu Romeu Zema (Novo) como governador e elegeu Cleiton Azevedo, conhecido como Cleitinho (PSC), como senador, e Nikolas Ferreira (PL), como deputado federal, o mais votado do país. Os três apoiam Bolsonaro.

Filiado ao PT desde 2021, Afonso Duarte, 25, quer conversar com outros estudantes de pós-graduação como ele, embora tema possíveis represálias de docentes abertamente bolsonaristas por se posicionar mais duramente contra o governo.

Nas próximas semanas, diz que pretende se esforçar, "sempre que for viável", em desmentir fake news sobre política. "Depois de tudo o que aconteceu nesse governo, principalmente com a pandemia e as mortes, achei que a votação de Bolsonaro seria mais baixa. Esperava uma vitória no primeiro turno. Fiquei decepcionado."

Um dos campos mais agitados no segundo turno, até agora, é o das religiões. No ato de domingo, participaram lideranças evangélicas, como Clécio Dornelas, 46, um dos coordenadores da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, que usava um adesivo dizendo "votar em Lula não é pecado".

Ao longo da campanha, ele distribuiu panfletos na saída de igrejas famosas na cidade, como a Universal - de onde foi expulso por um segurança, relatou. No segundo turno, privilegiará igrejas menores, nas periferias, onde supõe que há muitos indecisos.

Ederson Silva, 40, presidente do Conselho Estadual de Saúde de Minas e evangélico, também tem se posicionado politicamente nos últimos tempos entre seus irmãos de fé. A tática dele, segundo destacou, é evidenciar o contraste entre "o ideal de paz cristão e a agressividade retórica bolsonarista".

Ederson e Clécio estavam na multidão que esperava Lula sair de um cinema nas cercanias da praça, onde o ex-presidente fazia uma coletiva de imprensa. De repente, um tremendo estampido assustou a sala. "Que isso!?", perguntou uma assessora, olhando para a porta. "Bomba?!", aventou um jornalista estrangeiro. Era só uma falha no som.