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Por R$ 15, cariocas e turistas se misturam no setor popular na Sapucaí

Chilenas compram ingresso de cambistas e curtem carnaval na Sapucaí, no domingo (19) - Fabiana Batista/UOL
Chilenas compram ingresso de cambistas e curtem carnaval na Sapucaí, no domingo (19)
Imagem: Fabiana Batista/UOL

Fabiana Batista

Colaboração para o TAB, do Rio

20/02/2023 11h42

Um grupo canta alto o enredo da Grande Rio em homenagem a Zeca Pagodinho. No verso "Zeca! Levante o copo para o povo brasileiro", um casal vestido de vermelho e verde, cores da escola, levanta o copo e se abraça. Uma amiga com a camiseta da Mangueira também se emociona.

As arquibancadas da geral, como são chamados os setores 12 e 13 da Sapucaí, estão no final da passarela e acolhem quem paga R$ 15 pelo ingresso. Para garanti-lo, a reserva on-line ocorreu dia 9 de fevereiro, e a compra no Sambódromo, dois dias depois. Cada pessoa podia comprar quatro ingressos.

A área destinada aos ingressos mais baratos tem pelo menos o dobro de tamanho dos outros setores. Um recuo da estrutura dificulta a visão da passarela toda. Para diminuir o incômodo, dois telões, um de cada lado, exibem imagens capturadas por um drone.

Ao longo da noite, luzes projetadas rodopiam e refletem um formato redondo nas nuvens que anunciavam chuva. Apesar do vento frio na madrugada, nenhuma gota d'água atrapalhou a primeira noite de desfiles do Grupo Especial.

Setor 12 consegue ver passagem da escola de samba quase 30 minutos depois do início do desfile, na Sapucaí - Fabiana Batista/UOL - Fabiana Batista/UOL
Setor 12 consegue ver passagem da escola de samba quase 30 minutos depois do início do desfile, na Sapucaí
Imagem: Fabiana Batista/UOL

Carnaval da democracia

Os portões abriram às 19h, mas o povo entrou em peso a partir das 21h. Com direito a duas garrafas de 500ml e dois itens para alimentação, os foliões levaram lanches, salgados, frutas e bebidas alcoólicas para as horas de desfile. Teve até quem levou manta e almofada para se esticar no chão.

Apesar de um grupo seleto de gringos, casais, grupos de amigos e famílias inteiras do Rio ocupavam a geral. A primeira agremiação desfilou às 22h. Dez minutos antes, o narrador Vanderlei Borges listou os destaques da ficha técnica e o público foi ao delírio, como sempre, ao ouvir o nome da rainha de bateria.

Mesmo sem ver a escola por quase 30 minutos, as arquibancadas populares não hesitavam em levantar e cantar os sambas-enredo com paixão. Quem não sabia a letra aproveitava o material distribuído para acompanhar o coro dos apaixonados.

Com o início do cronômetro, a Império Serrano, primeira escola a entrar na avenida, abriu o desfile. Em 19 minutos, um pequeno grupo de pouco mais de 20 pessoas apareceu carregando uma faixa escrita "O Carnaval da democracia". A frase enfeitou toda a Sapucaí.

Atual vencedora, Grande Rio leva Zeca Pagodinho para a avenida

Em 25 minutos, a rainha e o primeiro carro alegórico apareceram e a energia aumentou entre os presentes. Como quem assiste, os integrantes das alas e carros alegóricos não perderam a disposição, mesmo depois de desfilar pela avenida inteira. Neste momento, os apaixonados por suas escolas aproveitavam para tirar selfies e filmar.

A presença de Arlindo Cruz, homenageado da Império Serrano, assustou quem não o esperava, por causa de seus problemas de saúde. Uma garota da Mangueira gritou emocionada: "É o Arlindo?! Assim é covardia com as outras escolas".

Público da geral leva lanche e bebida para a Sapucaí, para economizar e aguentar as sete horas de desfile - Fabiana Batista/UOL - Fabiana Batista/UOL
Público da geral leva lanche e bebida para a Sapucaí, para economizar e aguentar as sete horas de desfile
Imagem: Fabiana Batista/UOL

Não é autorizado, mas vende

No buchicho, além do sotaque carregado dos cariocas, também era possível ouvir conversas em alemão, inglês e espanhol. Com euforia, um grupo de chilenas surgiu no meio do povão. Vieram ao Brasil justamente por causa do Carnaval do Rio e, depois de um dia correndo atrás dos blocos de rua, decidiram assistir o desfile na Sapucaí.

Para garantir o ingresso, elas compraram ingresso de um cambista, que chega a vender o bilhete por R$ 50. Um homem que não quis se identificar disse que conseguiu comprar para revender as entradas por meio de seus familiares. "Cheguei a vender por R$ 100 para um gringo." Já para um carioca, rino, conta que não consegue vender por mais de R$ 20.

Famílias e grupos de amigos cariocas se vestem com a camisa e a cor de escola favorita para pular Carnaval na Sapucaí, no domingo (20) - Fabiana Batista/UOL - Fabiana Batista/UOL
Famílias e grupos de amigos cariocas se vestem com a camisa e a cor de escola favorita para pular Carnaval na Sapucaí, no domingo (19)
Imagem: Fabiana Batista/UOL

É proibida a presença de ambulantes na Sapucaí. As bebidas são vendidas a grito por contratados. Pizzas inteiras ou por fatia são vendidas em um trailer, que fez uma fila enorme. A pipoca também ajudava a forrar o estômago de quem não trouxe seu próprio lanche.

Com a madrugada chegando, ambulantes entravam com cervejas em quantidade e as vendiam a R$ 10, dois reais mais baratas que na venda oficial. Pipoca, pele ou batata eram vendidas a R$ 5.

Público nos setores mais baratos da Sapucaí - Fabiana Batista/UOL - Fabiana Batista/UOL
Imagem: Fabiana Batista/UOL

Levante o copo para o povo

A escola com favoritismo nos setores populares era a Grande Rio. Assim que os holofotes acenderam e a pontinha do desfile começou a aparecer, os populares se empolgaram. O ponto alto, que fez o chão tremer, foi a hora em que apareceu o carro alegórico com Zeca Pagodinho — 66 minutos após o início do desfile, já quase estourando o tempo regulamentar.

Todos levantaram o copo e gritavam para o homenageado. "Esse enredo é o melhor da noite", disse uma paulista à amiga carioca. Emocionada e focada no desfile, ela, assim como outros foliões, não deu bola para a reportagem do TAB. O portão da passarela fechou com 1h09 de defile e todos continuaram cantando o samba-enredo, até a voz coletiva perder força.

Depois da meia-noite, apesar de lotado, não para de chegar gente e a geral também é refúgio de quem desfilou. Ao longo da primeira noite do Grupo Especial, desfilaram Império Serrano, Grande Rio, Mocidade Independente de Padre Miguel, Unidos da Tijuca, Salgueiro e Mangueira.

Mocidade e Unidos da Tijuca fizeram os torcedores tremerem na base com a possibilidade de perder pontuação. Houve problemas com um carro alegórico ao sair da avenida.

Grudada na grade, uma torcedora da Mocidade entrou em desespero: "Menina do céu, cadê o bombeiro para puxar esse carro! Não podemos perder". Na arquibancada, a apreensão era tanta que quem assistia parou de cantar até a situação normalizar. Na geral, é possível ver tudo que acontece após a saída da avenida. Aliviados, a agitação voltou em dobro.

Às 3h, apesar de movimentada, a ocupação diminuiu. Ainda faltavam desfilar Salgueiro e Mangueira. O público raiz, vestido de vermelho, verde e rosa, coloria a madrugada. Cantaram e dançaram como se não estivessem há sete horas ali.

Às 5h, o céu clareava e as pessoas, eufóricas com o show na avenida, saíam da Sapucaí em busca de mais festa. Uns pararam nas barracas improvisadas nas calçadas, outros se despediam de quem ia em direção ao metrô. "Agora sim o Carnaval voltou", exclamou um pai para a filha.