'Jogos populares'? Franceses criticam preço e vendas casadas das Olimpíadas
A diretora de marketing Emilie P., 47, ficou feliz ao ser sorteada para ter acesso aos primeiros ingressos das Olimpíadas 2024 colocados à venda. Levar a família para ver as provas sem sair de Paris, onde mora, era uma oportunidade única. Mas a alegria acabou assim que ela descobriu os preços e as condições de venda.
Além de tarifas exorbitantes, o site da bilheteria exigia uma venda "casada" de ingressos para três modalidades.
"A organização passa a impressão de que você vai ter acesso a algo extraordinário", queixa-se Emilie. "Mas esse sorteio só te dá acesso a um ingresso caro", acrescenta, chamando o sistema de "armadilha".
O funcionário público Raphael Montejo, 45, que mora na capital francesa com a esposa e duas filhas pequenas, viveu o mesmo problema.
A alternativa mais barata para ele e sua família assistirem a uma prova de atletismo valendo medalha sairia por mais de 300 euros. Por causa da venda casada, ele teria que comprar ingressos para mais duas modalidades — significando um mínimo de 12 ingressos.
Embora a tabela oficial estipule ingressos com valor mínimo de 24 euros para cada modalidade, na hora da compra esses bilhetes não estavam disponíveis para boa parte das competições.
'Preços abusivos'
Entre as poucas opções a 24 euros encontrada pela reportagem, estava uma prova de vela em Marselha, a 775 km de Paris. E o ingresso mais barato disponível para as baterias de atletismo, que não valem medalha, custavam 90 euros. Alguns usuários encontraram ingressos para provas de atletismo com preço mínimo de 170 euros.
"Nessas condições, só os ricos irão aos jogos", reclama Montejo. De fato, com o salário mínimo francês a 1353 euros líquidos - e, segundo os dados de 2019 do INSEE (equivalente francês ao IBGE), mais de 50% dos franceses vivendo com cerca de 1836 euros por mês — fica difícil ver a competição de perto.
O humorista Olivier Perrin, 50, morador de La Garenne-Colombes, nos arredores de Paris, também se diz revoltado. "Essa era uma oportunidade de ver os Jogos Olímpicos em Paris, mas os preços são abusivos, não é normal".
Reclamações que se justificam uma vez que a propaganda dos Jogos Olímpicos de Paris enfatizava a realização de "jogos populares" e "acessíveis ao maior número".
"Não tem problema em cobrar ingressos caros, mas não divulgue que será um evento popular", afirma Perrin.
Tíquetes inflacionados
A realização de sorteios para compra de ingressos para as Olimpíadas é praxe, mas as condições mudam conforme a organização. Nos jogos de Londres, por exemplo, interessados podiam se inscrever e comprar qualquer ingresso — e um sorteio era organizado apenas para as modalidades em que a procura era maior que a oferta.
Nas Olimpíadas de Tóquio, o sorteio também foi feito posteriormente, uma vez definida a demanda para cada modalidade. Mas, por ocorrer em meio à pandemia de covid-19, foi uma competição atípica, em que apenas cidadãos japoneses e residentes no país podiam adquirir ingressos.
Na França, diante da enxurrada de críticas na imprensa e nas redes sociais, o presidente do Comitê de Organização, Tony Estanguet, ex-canoísta francês medalhista nas Olímpiadas de Sydney e Atenas, argumentou à rádio RTL que "ver campeões tem um custo".
Estanguet lembrou os bilhetes custando 24 euros em todos os esportes e justificou preços mais altos de alguma modalidades como atletismo e basquete dizendo que "alguns esportes são mais relevantes que outros".
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