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Jovens aderem a câmeras antigas por nostalgia - e para evitar furtos em SP

Lorena Barros e Maria Theresa Reis no Lollapalooza, em São Paulo - Paola Churchill/UOL
Lorena Barros e Maria Theresa Reis no Lollapalooza, em São Paulo Imagem: Paola Churchill/UOL

Paola Churchill

Colaboração para o TAB, de São Paulo

30/03/2023 04h01

Estava no checklist das publicitárias Lorena Barros, 25, e Maria Theresa Reis, 25, para o Lollapalooza, no último fim de semana, em São Paulo: conferir os documentos, ajustar os últimos detalhes do look, checar se a bateria da câmera digital estava carregada e se o filme da analógica estava certo.

Nos últimos tempos, tendências dos anos 2000 voltaram com tudo e conquistaram a geração Z: além de gloss, calças de cintura baixa e croppeds de amarrar, as câmeras digitais e analógicas viraram febre na internet — e nos festivais.

Maria ficou tentada a adquirir uma cybershot da Sony depois de ver vídeos no TikTok, onde a hashtag #digitalcamera tem mais de 184 milhões de visualizações. "É uma maneira de as pessoas saírem das fotos 'perfeitas' de câmera profissional e celular", diz ela, que prefere imagens "imperfeitas".

Já Lorena tem uma analógica Olympus Trip 200. Ela conta que fica animada com a revelação das fotos, "aquele friozinho na barriga". O único porém é o preço do filme, que pode ser encontrado na internet por R$ 100, em média. "Tirar foto no celular é mais barato e mais prático, mas a analógica sempre me acompanha", relata a publicitária, que mora em Belo Horizonte, onde paga cerca de R$ 30 por filme. Depois, digitaliza todas as fotos, para compartilhar na internet.

Lorena Barros e Maria Theresa Reis no Lollapalooza - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
No último festival, Maria levou uma câmera digital das antigas, e Lorena, uma analógica
Imagem: Arquivo pessoal

Elas não eram as únicas no Lollapalooza que aderiram à tendência. Por todo o festival, era possível ver gente se divertindo com as máquinas antigas, com o conhecido barulhinho do obturador abrindo no momento da captura das imagens.

Para a jornalista Isabella Arouca, 29, a melhor parte era observar a reação da galera ao ver a câmera. "Pela nostalgia que esses equipamentos trazem, sempre tem alguém que vai se surpreender com o fato de vocês estar usando algo que remeta ao passado, que não é tão 'instantâneo' quanto o celular", diz.

Instantâneo não é, mas vai parar no Instagram: "Tem todo o processo de passar pro computador, escolher as melhores, passar pro celular para publicar nas redes sociais", cita. "Mas, de certa forma, é gratificante."

'Carinho investido'

Num tempo em que todo mundo posta o tempo todo, a sensação de "imediatismo" tomava tanto a jornalista Jaquelini Cornachioni, 28, que ela precisou de uma pausa. "Com um filme com 35 poses, por exemplo, você pensa um pouco mais antes de tirar a foto — até levar para revelar, pode demorar uns meses. E é sempre uma surpresa, porque às vezes você pode esquecer de uma foto que tirou."

Jaqueline conta que se sentia um pouco envergonhada de sair com a câmera analógica, mas notou que o item virou tendência, e agora leva o equipamento tranquilamente para todos os lados, principalmente para viagens e shows.

No Primavera Sound, porém, preferiu levar a cybershot, "para ter mais controle de como ficariam as fotos, e ter menos chance de ser assaltada" — no Carnaval de rua de São Paulo, muita gente também aderiu às antigas máquinas para escapar de furtos.

Jaquelini Cornachioni - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Jaquelini levou uma cybershot para o Primavera Sound: controle e chance menor de furto
Imagem: Arquivo pessoal

O estudante Igor Esteves, 29, se apaixonou pelo universo da fotografia em 2015, quando ia para todo canto com sua Instax, a instantânea da Fujifilm. Certa vez, uma amiga lhe emprestou uma lente Fisheye. Foi amor à primeira vista: ele passou a investir nos itens retrô de fotografia, como a Lomography.

"Sei que tudo que você obtém com as câmeras analógicas e as cybershots, você consegue obter com digitais profissionais, ou até com celular, é só saber editar. Mas a graça do analógico, no meu caso, é o carinho investido no processo."

Foi com câmeras analógicas que o estudante registrou os festivais que assistiu, desde o Rock in Rio de 2019. "Mas minhas favoritas são do Popload de 2019. Fui para ver Patti Smith. Levei um filme preto e branco e tentei tirar uma foto dela no palco", lembra. "Tirei. Dá pra ver que ela está ali? Não! Mas eu sei que é ela na foto", brinca.