'Terapia contra ansiedade': fãs de Taylor Swift trocam pulseiras da amizade
Quem gosta de Taylor Swift vive em sobressalto desde 2020, quando a turnê Lover Fest da cantora no Brasil foi cancelada por causa da pandemia de Covid. A ansiedade pelo show virou espera por algo que já não tinha mais data para ocorrer — até que, três anos depois, a produção da cantora divulgou que The Eras Tour viria ao país em 2023.
Aí, começou uma nova saga — quem tinha ingresso para o show que não aconteceu três anos antes recebeu um link de pré-venda que garantiria um lugar privilegiado na fila virtual de compra. A venda geral, que abriu dias depois, foi mais complicada.
"Uma amiga estava em número 7 mil na espera, mas esse número nunca chegava. Foi muito difícil comprar o ingresso. Havia fãs acampadas na frente no Alianz sofrendo ameaças dos cambistas para sair da fila, brigas de verdade...", conta a designer Isabella Pisaneski, 29, fã da cantora norte-americana desde 2007, quando escutou "Teardrops on my guitar".
Isabella conseguiu ingresso para o show de 2020 (quando fez a família toda fazer o cartão de um banco virtual para facilitar a compra) e ficou arrasada quando a turnê foi cancelada. Também já havia se esforçado para comprar ingresso para show nos EUA (só não conseguiu porque precisaria comprar uma linha telefônica de lá).
Passada essa agonia, com o novo ingresso na mão, foi a hora de Isabella e outras fãs respirarem aliviadas e começarem uma nova fase da espera: confeccionar pulseiras da amizade. "A melhor parte agora é fazer amizade com outras fãs", conta ela, que já fez 40 pulseiras, sempre duplicadas, já que vai nos dois shows da cantora em São Paulo.
Os "friendship bracelets" aparecem na música "You are on Your Own, Kid", do álbum "Midnights". Virou uma tradição Swiftie, como as fãs se chamam: fazer grandes quantidades da pulseira e trocar durante o show. "Acho que foi uma das coisas mais legais que já surgiram entre os fãs da Taylor", conta a figurinista Luiza Roithmann, 27, que foi na Reputation Tour em 2018, assistiu um show dela no Jingle Bell Ball, em 2019, e em maio desse ano viajou para Nova York para ir à Eras Tour.
"Nos EUA, a troca acontecia majoritariamente na parte de fora do estádio onde os fãs se encontravam, tiravam fotos e trocavam com as pessoas que estavam perto no show. Lá, com lugar marcado, ninguém precisa ficar acampado na fila e é mais fácil passear e encontrar pessoas para trocar", diz.
Viagem cheia de miçangas
A estudante de história Nathalia Cristina Calado Guimarães, 22, já fez mais de 140 pulseiras -- e está na dúvida se não deve fazer mais. Ela mora no Recife e vai ao Rio de Janeiro para assistir o show em novembro: "O processo é muito relaxante. Estava ansiosa para o show e acho que foi um jeito que encontrei de me distrair enquanto me sentia conectada com toda a experiência", conta.
Quem também deve viajar para assistir o "Eras", é Luiza Beatriz Prado Santa Maria, 23, de Porto Alegre.
Ela começou a fazer as pulseiras duas semanas depois de comprar os ingressos. "É quase uma terapia, sem regras", resume. "Coloco títulos de músicas, uma piada interna ou só miçangas coloridas para remeter a cada álbum."
Já Thaylis Nunes Cezar, 18, de Maraú, Rio Grande do Sul, já gastou R$ 200 em miçangas, com as quais confeccionou 50 pulseiras. "É uma mistura incrível de sensações porque lembra algo que eu fazia na infância apenas por diversão. Hoje sei que é por uma tradição da minha artista favorita."
A analista de mídias sociais Giuliana Maestrin, 24, tem uma história de família com a cantora. Em 2015, quando Taylor começou a turnê do disco "1989", ela pediu para os pais a levarem e eles prometeram que o fariam na próxima oportunidade. Porém, seu pai faleceu antes que o pedido pudesse ser realizado e Giu se voltou para os estudos e trabalho.
"Mas fui atrás dos meus sonhos", conta ela. "Quando vi o primeiro show dela, paguei com o seguro de vida dele. De maneira indireta, meu pai me ajudou. Foi um dos dias mais importantes da minha vida."
Para Giuliana, o mais legal do ritual das pulseiras é fazer algo que não exija ficar com a cara na tela. "É um novo hobby, muito divertido. Todo mundo elogia, as pulseiras unem as pessoas e cria um ambiente mais amigável", diz ela, de Los Angeles, onde assistiu o show de Taylor na sexta-feira (4). "Não tenho pressa de fazer os bracelets. Quero mesmo é relaxar: demoro quase meia hora em cada um e gastei pouco mais de R$ 100 em material. Só é difícil por causa do meu cachorro que reclama que não estou dando atenção para ele", ri.
Mensagem no MySpace
A designer Mariana Ferreira de Melo, 30, que começou a ouvir as músicas da Taylor em 2008, também tem uma história próxima para contar. "Love Story começou a impactar as rádios aqui do Brasil e eu mandei uma mensagem para ela no MySpace falando que eu estava feliz que ela estava tocando por aqui e que não via a hora dela trazer a turnê dela pro Brasil", conta a fã.
"Em janeiro de 2009, a Taylor respondeu minha mensagem e foi uma fofa. Me senti muito importante por ela ter me dado uns minutos de atenção", conta Mariana, que guarda a print até hoje.
Na expectativa para "Eras", ela começou a fazer pulseiras em junho e também vê o processo como terapêutico: "Tenho passado por uma fase difícil, com crises de ansiedade constantes. Ultimamente, fazer pulseiras tem sido um escape para que eu não recorra à medicação e tem funcionado", conta.
A designer já tem 345 pulseiras prontas. "Meus amigos estão pedindo para eu parar de investir em miçangas, já gastei mais de R$ 600!", diverte-se. Ela já esteve em show da Reputation em Miami, em 2018, e acredita que trocar pulseiras vai ser um pouco de troca de vivências. "Quem receber uma pulseira minha estará recebendo um pouquinho da Mariana naquele momento. Acho que é muito significativo, ainda mais após a pandemia. Foi uma frase despretensiosa em uma música que virou tradição."
'Ela me ajuda sem saber'
A história de Taylor também tocou a da designer Jéssica Berni, 34. "Eu diria que a Taylor, mesmo não me conhecendo, me ajudou em muitas fases da minha vida, escrevendo sobre os sentimentos dela e sendo verdadeira. Ela foi minha amiga quando eu não tinha muitos amigos e abriu a porta para que vários entrassem em minha vida. Sou muito grata por isso tudo", conta.
"You're on your own, kid" é sua música favorita: "Na letra, ela fala sobre todas as coisas que passou na vida e dá um empurrão: você está por sua conta, mas você consegue." Jéssica também se dedicou às pulseiras após garantir seus ingressos. "Tudo estava mais real, eu vou, eu consegui, a aflição passou e agora posso pensar na parte divertida. É um processo de criação de algo fofo e eu espero que a pessoa que use fique feliz", diz. "É simples, envolve carinho, capricho, dedicação e também nos traz uma ideia de infância novamente."
Luiza Roithmann, que falou sobre os shows do exterior no início dessa reportagem, diz que foi por ser fã de Taylor Swift que conseguiu fazer amizades genuínas, algumas que já duram mais de 10 anos. Por isso, resolveu fazer as pulseiras no inicio do ano. "Acho que a melhor parte é pensar nas músicas que amo, escolher as letras de que mais gosto e pensar quais cores e estilos combinam com elas", diz. Aí é só colocar a playlist da Taylor para inspirar e começar o trabalho.
"Fãs, e principalmente nós que somos mulheres, somos frequentemente vistas como histéricas ou loucas simplesmente por sermos apaixonadas por algo e enquanto homens são aplaudidos por fazer o mesmo com o futebol. Essa nova tradição das pulseiras tem uma energia muito feminina e, por isso, é vista por muitos como boba ou infantil. Porém, significa criar memórias que vão ser eternizadas em uma pulseira colorida", defende ela.
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