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'Caixa de Evangelização': igreja que deve R$ 55 mi tem fundo para pastores

Top 5 entre as organizações religiosas que mais devem à União, em levantamento feito pelo UOL via Lei de Acesso à Informação, a Convenção das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus em Santa Catarina e Sudoeste do Paraná é um caso curioso.

Dona de uma dívida ativa de R$ 55 milhões, a convenção deixou de pagar contribuições empresa/empregador (o INSS patronal), mas há décadas administra um fundo pioneiro para pastores, que hoje conta mais de R$ 140 milhões.

Em outras palavras, não pagou tributos que iriam para o INSS para garantir a seguridade social de muitos, mas abriu uma caixa para a aposentadoria de poucos, os da igreja.

"Não é ilegal. Pela regulamentação, toda e qualquer entidade pode formar um grupo e ter uma previdência própria. Isso pode valer para um grupo ou uma empresa", diz Vitor Rhein Schirato, professor de direito administrativo da USP.

"É importante frisar que a previdência privada não elimina as obrigações da previdência pública."

Procurado por email e telefone mais de 15 vezes, o pastor Nilton dos Santos, presidente da convenção e da Assembleia de Deus de Blumenau (SC), não retornou aos pedidos de entrevista referentes à dívida ativa.

Previdência divina

Foi perto do porto de Itajaí, num domingo de março de 1931, que o pastor André Bernardino pregou para duas tias, pequeno culto considerado a pedra angular da chegada do maior movimento pentescostal a Santa Catarina.

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Dezessete anos depois, fundou a Convenção das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus em Santa Catarina e Sudoeste do Paraná. Hoje, segundo dados publicados pela própria organização, ela congrega 2.800 templos e 300 mil fiéis.

"Foram nossos pioneiros", conta ao UOL o pastor catarinense Eliel Batista, "que fizeram a Caixa de Evangelização".

Segundo Eliel, a Caixa de Evangelização, iniciada em 1976, é um braço da convenção que busca "cuidar" dos obreiros — na saúde e na doença, mas principalmente na doença, quando necessitam de assistência.

A lei brasileira que regulamentou a previdência privada complementar foi aprovada em 2001.

"Daí, em 2002, os congregados migraram para a previdência privada complementar da Caixa de Evangelização. Depois, em 2010, foi instituído o CIADPrev", conta o pastor, hoje gerente do Ceadescp (Caixa de Evangelização das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus de Santa Catarina e Sudoeste do Paraná).

Segundo o pastor, o CIADPrev foi instituído para dar assistência também a voluntários —"médicos, empresários e advogados que cooperam na igreja", exemplificou.

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'Bairrista'

Nas palavras de Eliel, a Caixa de Evangelização é mantida com "ajudas para socorro", não dízimos.

"A Assembleia de Deus de Santa Catarina é muito bairrista, no bom sentido, no sentido de focar muito onde está instalada. Onde está sempre tem um pastor, tem um obreiro. A comunidade vê, a comunidade valoriza o que o pastor está fazendo", diz.

Hoje, o benefício estimado de aposentadoria para os contribuintes do CIADPrev é de R$ 2.600 por mês, segundo o pastor.

Não é o único fundo voltado para religiosos. Em 2017, por exemplo, o Ibemp (Instituto Brasileiro Evangélico de Memória Pastoral) lançou o BemPrev, no Rio.

Do sul, o CIADPrev é voltado a "ministros religiosos da Assembleia de Deus", segundo diz a cartilha da Sul Previdência, operadora sediada em Florianópolis.

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Instituída em 2010, a Sul Previdência "nasceu devido à importância e necessidade de prevenção e preparação para um futuro mais tranquilo", diz o site oficial.

Até o fim de julho de 2023, o total de recursos do CIADPrev era de R$ 143 milhões.

Segundo o site oficial da Sul Previdência, que tem como parceiros titãs como o banco BTG Pactual e a seguradora Porto Seguros, a previdência complementar "pode ser definida como um sistema de acumulação de recursos para garantir uma aposentadoria ou renda extra no futuro".

Colaborou Marie Declercq, de São Paulo

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