Sem conhecer saga, repórter assiste a último 'Star Wars': 'Quem é Yoda?'
Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante, um professor de física da oitava série (alerta de anúncio de idade) criou uma questão sobre a propagação do som em uma prova. Durante o nervoso causado pelas disciplinas exatas em minha pessoa, errei a pergunta, cuja resposta era que o som não se propaga no espaço e que, por isso, os filmes da saga Star Wars eram totalmente incoerentes com a física. Nunca mais esqueci a lição sobre o silêncio do Universo, mas ao invés de o ensinamento despertar meu interesse pelos filmes, peguei ranço.
No auge dos meus 26 anos, nunca assisti a um filme sequer da saga de NOVE títulos. Por mim passava batido qualquer piada envolvendo personagens como a Princesa Leia, Han Solo, Luke Skywalker e Darth Vader. Demorei um tempo para entender a referência em "Toy Story" de "I am your father" ("Eu sou seu pai"). Não sei exatamente de quem Darth Vader é pai, já que não sei muito bem quem é o Luke. Quando entendi mais ou menos, me perguntei se ele também é pai da Leia, já que dizem que eles são irmãos. Também demorei para entender a fantasia do Ross com a Princesa Leia de biquíni dourado, em "Friends". Ainda hoje não sei direito quem é Yoda. Ou seja, meu consumo de Star Wars era todo de segunda mão.
Fim de ano, porém, é quando todo mundo decide resolver pendências e correr para cumprir metas. Por isso, fui assistir ao filme mais recente da série, que estreia na quinta-feira (19), "Star Wars: A Ascensão Skywalker". Sentada na cadeira do cinema, deu para sentir um pouco a emoção que os verdadeiros fãs sentem com a clássica música de abertura. Vislumbrei olhinhos brilhando no escuro e a expectativa lá em cima. As minhas expectativas, sendo sincera, eram bem baixas nos primeiros minutos.
Alerta: como virgem de Star Wars, caro leitor, pode ser que eu dê spoilers a partir deste ponto do texto, já que não tenho como saber muito bem o que pode ser spoiler para quem realmente é fã da série. Que a Força esteja com vocês a partir deste parágrafo.
Apesar da pouca esperança de curtir o filme, fiquei feliz de ver a face do homem feio mais bonito do planeta, Adam Driver (ator indicado ao Globo de Ouro por "História de um Casamento", produzido pela Netflix). Percebi de cara que o neto de Darth Vader era o vilão, dando continuidade à bela tradição familiar. Mas depois de torcer por Driver em "História de um Casamento", fiquei torcendo por Kylo Ren o tempo todo.
Nesse núcleo, achei que Ren e Rey (Daisy Ridley) eram irmãos que seguiram caminhos diferentes até o fim. Descobri (ou prefiro acreditar) que não o são depois de uma cena específica, mas ainda me parece uma árvore genealógica complicada.
Mas, quando Rey surgiu na tela, percebi que seria a heroína e gostei de ver uma mulher protagonista num filme de aventura. E sem saias curtas ou corpetes colados (perdão, Mulher-Maravilha). De leituras e orelhadas, já sabia que Star Wars aprecia uma diversidade. Em trailers, já se viam muitos rostos femininos desde a época da Lucasfilm. Nas mãos da Disney, a produção da série trouxe também novos rostos negros, com mais destaque, como o personagem Finn (John Boyega).
Em 2015, quando o trailer de "O Despertar da Força" foi divulgado, a imagem que mais lembro de ter visto circulando na internet era de Finn, que eu não sabia que era um stormtrooper. Na realidade, durante "A Ascensão de Skywalker", pensava que stormtroopers eram robôs, já que o núcleo bonzinho do filme (que, pelo que entendi, são os Jedi) os mata aos montes e com facilidade. "Será que eles são robôs?" foi uma das primeiras perguntas que anotei no meu bloquinho.
Outro lembrete na caderneta: checar a data de morte da atriz Carrie Fisher — que sim, já sabia que era a Princesa Leia. Fisher morreu em 2016, mas a tecnologia a trouxe de volta à vida em "Os Últimos Jedi", em 2017. Neste episódio, a mágica acontece novamente e pela última vez. "A Ascensão de Skywalker", na verdade, é recheado de fan services desse tipo. O fantasma de Luke (Mark Hamill), que acho que morreu em algum outro filme, também reaparece e Harrison Ford tem seu momento como Han Solo. Um clássico é um clássico, então até dá pra entender a dificuldade de renovar o elenco e os personagens.
Mas o último episódio da saga resgata não somente os personagens icônicos como também a estética da ficção científica dos anos 1980, o que me lembrou fortemente o episódio "USS Callister", de "Black Mirror", que retoma a temática de "Star Trek". Por muito tempo, achei, inclusive, que era tudo a mesma coisa por causa dessa estética. Apesar de ser uma ficção científica, gênero marcado por tentativas de prever o futuro, me pareceu que Star Wars nunca chegou ao futuro de fato com seus tons pastel e robôs primitivos. Mas não deixa de ser uma boa história de aventura, que segue a clássica jornada do herói, com ótimos efeitos especiais desde sempre.
É possível compreender a fascinação dos fãs e a exigência da crítica sobre o final da saga. As primeiras impressões, dizem, apontam decepção. O filme chegou a ser comparado com o fim de Game of Thrones (esse sim tenho mais propriedade para falar) mas, em mim, despertou curiosidade. O mundo de Star Wars é realmente muito sedutor. A "Ascensão de Skywalker" é, teoricamente, o último filme da saga, e deve deixar os nerds com saudades. Em mim, despertou saudade do que não vivi e vontade de ver o resto. Como meta para 2020, quero maratonar o resto da saga e me juntar ao lado negro da Força. O problema agora é descobrir em qual ordem devo ver os episódios, já que isso continua confuso de entender.
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