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Angústia de trabalhadores mal pagos afeta toda a sociedade, diz pesquisador

Entregadores de aplicativos fazem segundo "breque dos apps", saindo da Torre de TV com destino ao Congresso Nacional, em Brasília - JACQUELINE LISBOA/ESTADÃO CONTEÚDO
Entregadores de aplicativos fazem segundo "breque dos apps", saindo da Torre de TV com destino ao Congresso Nacional, em Brasília Imagem: JACQUELINE LISBOA/ESTADÃO CONTEÚDO

Jacqueline Lafloufa

Colaboração para o TAB

31/10/2020 04h00

Para o holandês Niels van Doorn, que pesquisa o trabalho por plataformas, a população trabalhadora nunca teve que se preocupar tanto com a sobrevivência quanto agora. O mundo do trabalho sempre foi complexo, com uma profusão de forças que se alinhavam buscando algum equilíbrio. A situação, que nunca foi fácil, complicou ainda mais com a pandemia de Covid-19, que forçou a digitalização de atividades de forma apressada. Profissionais de todos os tipos precisaram acompanhar as mudanças em meio ao que o epidemiologista Michael T. Osterholm, autor do livro "Inimigo Mortal", elenca como o quarto evento com poder suficiente para afetar negativamente o planeta —- atrás apenas de uma guerra termonuclear generalizada, um choque de um asteroide com a Terra e as mudanças climáticas.

Só o fato de passar a lidar com novos aplicativos ou meios de trabalhar já geraria novos estados emocionais, explica Niels van Doorn, professor da Universidade de Amsterdam, que coordena uma pesquisa sobre trabalho de plataforma, e a Covid-19 só exacerba essas sensações. "Essas tecnologias estão cada vez mais envolvidas na estruturação de nossas agendas e na textura de nossa vida cotidiana. Trabalhamos em torno delas, com elas e por meio delas. Isso cria essa sensação temporal de confusão, de que o tempo passa rápido", analisa.

Essas novas emoções se intensificam também com o aumento do desemprego, reflexo da crise econômica decorrente da pandemia, que inunda as plataformas de trabalho (como os apps de entrega) de mão de obra que busca uma fonte de renda que permita, ao menos, manter a comida na mesa. Especialidade atual de Niels, o trabalho de plataforma foi o tema da sua palestra durante a Maratona Digilabour, evento realizado remotamente pela Unisinos, em meados de setembro, para discutir as múltiplas dimensões do trabalho digital.

Como também frisa Osterholm, a pandemia tem efeitos em cascata, e apesar de atingir primeiro os indivíduos, aos poucos desencadeia efeitos também nas autoridades civis, nos negócios e nos comércios, deixando todos em alerta e gerando um sofrimento generalizado. "Trabalhadores de diversos setores e classes estão começando a notar essa experiência existencial e afetiva de ansiedade que os trabalhadores de serviços de classes mais baixas e de baixa remuneração sempre sentiram", provoca van Doorn.

O TAB conversou com Niels van Doorn por videoconferência para entender como ele enxerga essas novas ansiedades e que opções éticas vê para que os serviços de entrega continuem existindo. As saídas, por enquanto, pressupõem mais envolvimento do Estado e mais regulamentação do trabalho, o que van Doorn não acredita que vá acontecer no curto prazo.

Niels van Doorn, professor da Universidade de Amsterdam, que coordena uma pesquisa sobre trabalho de plataforma - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Niels van Doorn, professor da Universidade de Amsterdam, que coordena uma pesquisa sobre trabalho de plataforma
Imagem: Arquivo pessoal

TAB: Durante a pandemia, foi estabelecida uma categoria de trabalhadores essenciais, que foram autorizados a continuar trabalhando com a adoção de medidas de segurança, como o uso de máscaras. Em geral, os entregadores foram listados entre esses trabalhadores essenciais. Você acha que existe alguma ironia em classificar como "trabalhador essencial" os profissionais que são apontados pelas plataformas como "fornecedores" ou "parceiros"?

Niels van Doorn: Se existe uma ironia, é essa classificação como essencial. Acho que essa categoria foi criada e mobilizada para objetivos nefastos. Você está certa quando me pergunta como podemos chamá-los de trabalhadores essenciais quando eles não são nem mesmo empregados como funcionários, sendo mais vistos como "parceiros". No entanto, ao mesmo tempo, eles estão trabalhando, e não vejo necessariamente uma ironia ali. São trabalhadores e estão fazendo algo essencial, faz sentido até esse ponto. Agora, se você for mais crítico, essa categoria foi criada para levar a uma situação em que esses trabalhadores pudessem ser individualmente sacrificados. Eles precisam sair e não apenas arriscar suas vidas como fazem normalmente, no trânsito, mas também se arriscar com a Covid-19. Ou seja, vejo como um sacrifício ter que sair de casa desprotegido, ao menos até que uma pressão do discurso público levasse as plataformas a distribuírem algum tipo de EPI. O ponto aqui é que os entregadores precisaram se virar para se proteger, e essa categoria essencial é um meio para um fim. O que é essencial é a oferta de trabalho, o suprimento de trabalhadores, que prestam serviço aos consumidores.

O serviço é visto como essencial, mas os trabalhadores individuais são vistos como descartáveis. E ambos são essenciais, não podemos ficar sem eles.

TAB: Antes da pandemia chegar ao Brasil, o TAB publicou um especial sobre o trabalho plataformizado online, que descreveu as formas pelas quais o trabalho por plataforma pode ser precarizado. Já era um cenário desafiador. A pandemia que se seguiu e a crise econômica que se desenha no horizonte podem piorar a situação?

NvD: Depende. Precisamos fazer a distinção entre os tipos de trabalhos e serviços de plataforma. Se você observar as plataformas de trabalho de limpeza doméstica, essa indústria colapsou completamente, ao menos no início da pandemia. Aos poucos, ela tem voltado ao normal, conforme vamos saindo da quarentena, e quem sabe nos aproximando da próxima? Algumas dessas indústrias eram muito sensíveis [ao distanciamento social], e por isso vemos uma dinâmica diferente das plataformas de entrega ou de qualquer outro serviço logístico. Então existem as pessoas que estão em uma situação pior, que não têm mais renda, e que precisam procurar por outras formas de renda ou se inscrever em algum programa de auxílio para desempregados, se é que eles têm direito a esses benefícios.

A situação é diferente se você é um entregador de comida. Isso vai soar horrível, mas inicialmente, em alguns mercados como em Nova Iorque, os entregadores estavam muito animados, porque tinham muito trabalho, as ruas de Manhattan, que costumavam ser muito perigosas, estavam especialmente vazias e as plataformas estavam oferecendo altas bonificações para levar os entregadores para as ruas. Afinal, como eles não são empregados, você não pode obrigá-los a trabalhar, mas para os mais corajosos, ou para os mais estúpidos, chame como quiser, eles estavam ganhando altas bonificações e fazendo um bom dinheiro.

É claro que em algum ponto também vimos muitas pessoas perderem seus trabalhos e serem dispensadas, e elas foram se juntando à massa de trabalhadores nas plataformas. E por que as plataformas estavam contratando enquanto tantas outras empresas estavam demitindo? Porque elas não devem nada a esses trabalhadores, não precisam pagá-los como um empregado tradicional, só se faz pagamentos quando eles fazem algum trabalho.

Com o tempo, as bonificações somem, porque não é mais preciso prover incentivos ou convencer os entregadores a trabalharem para efetivar todas aquelas entregas, já que há um retorno de uma massa de entregadores, que agora estão online. Finalmente, existe um suprimento de trabalhadores suficiente, de qualquer forma. Então se um entregador não pegar [uma entrega], algum outro vai fazê-lo. É a partir daí que você percebe uma queda nos valores pagos.

O que eu tenho observado em Amsterdã, Nova Iorque e Berlim é que para os trabalhadores de plataforma que continuaram atuando, e o maior desafio continuou sendo o desafio que eles já tinham em suas localidades. A Covid-19 apenas agravou a situação e fez com que o trabalho se tornasse ainda mais perigoso.

TAB: Há um discurso empreendedor que se relaciona com o trabalho plataformizado, com expressões como "seja seu próprio chefe", "trabalhe quando quiser", "seja pago pelas horas que você trabalha".... No entanto, esses trabalhadores costumam ganhar pouco e trabalhar por muitas horas. Você acha que essa poderia ser a "merda de trabalho" ("shit jobs") que David Graeber descreveu como o tipo de trabalho mal pago e pouco reconhecido que as pessoas não querem ter?

NvD: Faz muita diferença pensar sobre quem estamos falando, porque nem todos os trabalhadores de plataforma são precários ou mal pagos. Se esse trabalhador não depender da plataforma —- por exemplo, se tiver outra ocupação, se atuar assim enquanto está estudando, ou se conta com o apoio financeiro dos pais, de um parceiro ou de alguém com quem divide a casa. Nesses casos, ao atuar por meio período, você não terá um trabalho precário. Porém —- e esse é um grande porém! —- não é assim para todo mundo, e muitos trabalhadores de plataformas têm uma condição muito precária. E quanto mais você trabalha para as plataformas, mais precário esse trabalho se torna, mais você passa a depender dele como sua única fonte de renda, o que sempre complica a situação. Temos também que compreender de onde essas pessoas vêm. Se elas tiverem um histórico de atuação em "merdas de trabalhos", como nos bastidores de um restaurante, talvez por ser um imigrante ilegal, ou em uma função muito vigiada e oprimida pelos chefes, ou um trabalho em turnos em um ambiente muito exíguo, ou coisas do gênero, bom, nesse caso, ao trabalhar para um app, você vai mesmo decidir de alguma forma o próprio ritmo de trabalho, entende? Claro, existem as flutuações de mercado, mas para o trabalhador de plataformas, pode trazer uma sensação boa.

TAB: Durante a pandemia, os entregadores de apps organizaram duas greves, no chamado Breque dos Apps. Você acha que a seriedade da situação desses trabalhadores durante os tempos de pandemia foi um catalisador para esses protestos? Quer dizer, essa era uma crise anunciada?

NvD: Eu não acho que tenha sido uma coincidência, porque está ressurgindo um movimento de organização e resistência dos trabalhadores em defesa dos seus direitos em diversas partes do mundo, como na Nigéria, Índia, Itália e em outros países da América do Sul. Definitivamente, há um levante de manifestantes organizados, tanto entre os entregadores quanto entre os motoristas de apps. Aliás, é interessante como esses grupos conseguem ver uns aos outros nas ruas, e são geralmente homens, então existe uma dimensão de gênero aqui também. Raramente se ouve falar de greves de trabalhadores domésticos de apps, por exemplo, o que é algo que ainda me incomoda. [No caso do Breque dos Apps], eu diria que é um movimento parte de uma onda maior, que pode ter sim a ver com a pandemia, porque essa é uma situação excepcional. É um momento que pode ter levado as pessoas a refletir. É quase como se eles chegassem a uma conclusão do tipo: "Eita, nós pensamos que poderíamos lidar com tudo aquilo. Mas agora temos que lidar com isso também?" Eu diria que é algo como a última gota que transborda o copo.

TAB: Mesmo estando a um passo de uma crise econômica global, as plataformas ainda encontraram oportunidades de negócios. No Brasil, as entregas de comida aumentaram 77% durante a pandemia, o que mostra que esse é um serviço que as pessoas buscam ou precisam. Você enxerga alguma forma ética desses serviços continuarem existindo sem explorar os entregadores?

NvD: Qualquer crise ou pandemia como essa vai gerar uma demanda urgente. Não sou especialista em saúde pública, nem biólogo, nem nada, mas a expectativa é que assim que a pandemia acabar (se não tivermos outra onda), essa urgência e essa demanda vão cair, voltando aos números anteriores, em termos de pedidos. Mas, uma vez que o gênio esteja fora da garrafa, é difícil colocá-lo de volta. Então, digamos que exista essa necessidade real, que vá se manter mais ou menos contínua, não acho que exista uma maneira ética de atender a essa demanda. O trabalho de entrega sempre foi, antes mesmo das plataformas, mais marginal. Era uma indústria menor, mas sempre foi um trabalho meio precário, mal pago e perigoso. Nunca foi um emprego muito bem garantido, devidamente protegido e bem pago.

Quando as plataformas chegaram, era uma grande oportunidade [para os trabalhadores], porque os pagamentos eram subsidiados por muito capital de investimento de risco, que mantinha os preços artificialmente baixos para o consumidor. Ou seja, no início se pagava um valor alto para o entregador, mas esse não era um modelo de trabalho sustentável. Agora, uma das coisas que estão sendo feitas é diminuir o pagamento dos entregadores.

Portanto, para transformar esse trabalho em algo menos explorador, é preciso pagar melhor os entregadores, e para isso seria necessário aumentar os preços para o consumidor. Ou seja, você e eu precisamos estar dispostos a pagar mais, o que faria com que esse mercado voltasse ao que era antes, um artigo de luxo, algo que só as pessoas mais abastadas podiam pagar. Ou seja, precisaríamos que as plataformas eliminassem a dependência do capital de risco, e que nós eliminássemos a nossa dependência dessas entregas.

Mas vamos dizer que com a pandemia, as entregas não seriam mais um artigo de luxo, mas uma necessidade. Se for uma necessidade, precisamos estar dispostos a pagar por isso, e fazer o que qualquer governo redistributivo faria: quem pode pagar, paga preços mais altos, e aqueles que não podem pagar são subsidiados pelo governo. Só que nenhum governo quer fazer isso, obviamente. As alternativas sempre envolvem o estado, porque os estados e os governos supranacionais, as organizações e as instituições públicas são os únicos com influência institucional e regulatória suficiente para resistir ao poder da plataforma. No entanto, eles não estão fazendo isso, por vários motivos e em diferentes jurisdições.

TAB: Da noite para o dia, muitos trabalhadores precisaram se adaptar a uma configuração de home office, às vezes sem muita infraestrutura. Algumas pessoas não tinham cadeiras ou mesas apropriadas, outras não tinham nem mesmo a conexão necessária para realizar seus trabalhos. Você acredita que essa tensão sobre as formas um tanto precárias de se trabalhar a partir de casa e seus danos para a saúde dos trabalhadores pode levar as pessoas a compreenderem a necessidade de regulação e de regras para o trabalho em geral? Ou a crise econômica que está por vir pode deixar os trabalhadores ainda mais reféns de condições pouco ideais de trabalho?

NvD: Quanto mais as pessoas trabalharem em casa, a vida profissional e a vida privada se tornarão ainda mais misturadas. O trabalho remoto era muito mais discutido por legisladores e empresários, e agora fomos obrigados a fazer esse "experimento final". Estou dando aulas online, não fui ao Brasil me apresentar por lá [na Maratona Digilabour], e tenho feito tudo isso online.

E sabe de uma coisa? No final das contas, para muitas pessoas, tanto trabalhadores quanto chefes, empresas e CEOs, isso meio que funciona. Acho que muitas empresas e muitos setores onde existe a oportunidade de trabalho remoto vão realmente pressionar por mais disso, porque de muitas maneiras o trabalho remoto se tornou mais eficiente, especialmente da perspectiva da empresa.

Considerando isso, existem duas coisas super importantes. A primeira é a regulamentação sobre a infraestrutura, já que você precisa de telefones e de outros equipamentos. É algo que as empresas ficarão muito felizes em nos dar, e isso me preocupa, porque vai significar um novo tipo de aplicativo de extensão ou acréscimo ao aparelho de vigilância, de monitoramento do trabalho. Muitos colegas meus estão trabalhando nisso, observando o uso da Inteligência Artificial não apenas no recrutamento, mas na vigilância da forma como as pessoas conduzem seus trabalhos. Isso torna aplicativos como o Slack, o Microsoft Teams e até o Zoom, que estamos usando agora, muito interessantes para os investidores, mas também muito interessantes para agências de inteligência. Isso traz novos problemas com a vigilância e a captura de dados. E por outro lado, o que eu acho que também precisa ser regulamentado é a parte da reprodução social do trabalho, já que as pessoas precisam ser habilitadas a trabalhar em casa com conforto, mas também precisam da ajuda do Estado com responsabilidades de cuidados, tanto para crianças como para idosos. Mas, novamente, é preciso haver mais investimento governamental. E não acho que o governo está disposto a fazer isso. Portanto, não tenho certeza se veremos muitos benefícios, mas certamente veremos muitos riscos, especialmente na esfera doméstica e na vida cotidiana.

TAB: Com tantas pessoas trabalhando em ambientes digitais hoje, estamos vendo surgir uma série de novas expressões para se referir aos novos tipos de sofrimento do trabalho, especialmente relacionados ao home office. Uma dessas expressões é a "fadiga de Zoom", quando as pessoas se cansam de fazer videoconferências. Você acha que essa é uma nova emoção causada pelas interações digitais ou é a mesma fadiga que tínhamos no passado?

NvD: Qualquer tipo de novo aplicativo, plataforma ou meio exige coisas particulares de nós, especialmente quando somos obrigados a usá-los por tanto tempo. Isso vai gerar não só novas práticas de uso e tipos de dependência, mas também novos afetos, novos estados emocionais. A fadiga do Zoom é um exemplo disso. Também acho que existe algo relacionado à ansiedade e à compressão de tempo, e não só conectado às novas tecnologias, mas também com a Covid-19, que faz com que fiquemos em casa com essas tecnologias, que estão cada vez mais envolvidas na estruturação de nossas agendas e na textura de nossa vida cotidiana. Trabalhamos em torno delas, com elas e por meio delas. Isso cria essa sensação temporal de confusão, de que o tempo às vezes passa muito rápido.

TAB: Última pergunta: algumas empresas estão detectando um aumento de produtividade durante a pandemia. Mesmo com todos os desafios e tensões do momento, os trabalhadores estão alcançando as metas e entregando projetos. Esse crescimento da produtividade tem a ver com o fato das pessoas já terem se adaptado à trabalhar a partir de casa ou é um reflexo do desespero dos trabalhadores, que estão na expectativa de uma grande crise econômica nos próximos meses?

NvD: A resposta mais curta que eu poderia dar é que são as duas coisas. Por que você trabalha até a morte? Porque você precisa! Porque existe desespero, porque precisa comer. Os trabalhadores de diversos setores e de diversas classes estão começando a notar essa experiência existencial e afetiva de ansiedade que os trabalhadores de serviços de classes mais baixas e de baixa remuneração sempre sentiram. Eles trabalham o máximo que podem, em vários empregos, porque de outra forma não conseguirão comer. Agora, esse tipo de angústia existencial ou profissional se espalhou por outros setores e partes da população. A população trabalhadora nunca teve que se preocupar tanto com isso como agora.

Então, sim, as empresas, com todo esse movimento para o trabalho remoto, estão indo bem, porque podem ver a produtividade aumentar. E acho que em muitos casos os trabalhadores inicialmente também gostam, porque podem fazer mais coisas. No entanto, essa sensação vai depender de qual é a sua situação doméstica e de quanto tempo isso vai durar. Porque se for uma coisa permanente, podemos começar a ver algumas formas de fadiga que não são apenas fadiga do Zoom, mas cansaços mais extensos, que vão nos atingir um pouco mais adiante.

Isso acontece porque existe essa pressão por produtividade, e por que também temos que pensar: quais são as alternativas? Agora não é uma boa hora para estar desempregado. Então, se o seu chefe pede para você usar o WhatsApp [no trabalho], ou lhe dá outra tarefa, é mais provável que você diga sim, porque as alternativas são piores. É o que estávamos falando há pouco: por que é que as pessoas trabalham como entregadores de comida, se é tão ruim? Porque as alternativas são piores.

O que precisamos fazer, em toda a economia e em toda a sociedade, é dar às pessoas melhores alternativas, elevar o nível do trabalho de serviços de baixa remuneração. Precisamos criar melhores condições nas quais as pessoas possam trabalhar e melhores condições para a reprodução social do trabalho, de forma que as pessoas possam não apenas sobreviver, mas prosperar.

Mas para isso, é preciso vontade política. E a vontade política é muito influenciada pelos investidores e pela influência do capital. Enquanto a política e os políticos forem capturados pelo capital e pela indústria, não veremos nada mudar.