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Funkeiro e confeiteiro: ele dança o batidão e mostra trabalho como boleiro

O boleiro e dançarino de funk Alexandre Marques Ferreira, de Goiânia - Arquivo pessoal
O boleiro e dançarino de funk Alexandre Marques Ferreira, de Goiânia Imagem: Arquivo pessoal

Natália Eiras

Colaboração para o TAB, de Lisboa

02/11/2020 04h00

No baile funk, Alexandre Marques Ferreira, 20, de Goiânia, é conhecido como Alexandre do Passinho. Antes da pandemia, dava fim de semana e passava mais tempo na festa do que em casa. Diz ao TAB que não consegue ficar parado, está sempre dançando. Na internet, no entanto, ele é conhecido por outro talento que vai além do passinho: a confeitaria.

Com mais de 140 mil seguidores no Tik Tok, Alexandre ficou famoso na plataforma e no Instagram por fazer desafios enquanto mostra seu trabalho como boleiro. Nos vídeos, ele curte hits como "1, 2, 3 e eu vou botar", do MC Niack, e "Ruivinha do Rabetão", do MC Lodovick, e divulga seus bolos com glacê e topos cujos temas vão desde o super-herói Hulk até a marca Oakley. "Juntei duas coisas que gosto muito de fazer: cozinhar e dançar."

No começo de 2019, Alexandre começou a vender brigadeiros para complementar a renda do seu trabalho no Tribunal de Justiça de Goiânia, onde ele ajudava a montar processos. Mais do que ganhar um dinheiro extra, o bico servia para colocar em prática tudo o que aprendia vendo receitas em canais como Tudo Gostoso, Receitas Gourmet e Receitas do Pai. "Sempre gostei de cozinhar, de ver esse tipo de vídeo no YouTube", afirma.

Quando percebeu que, além dos docinhos, poderia ganhar mais fazendo bolos, ele se jogou na aventura de aprender a ser confeiteiro. A primeira cliente foi uma amiga. "Ela mandou mensagem perguntando se eu fazia bolos decorados. Eu disse que não, mas que poderia tentar. O primeiro não deu muito certo (risos), mas eu não desisti e fui fazendo até conseguir". Foram cinco bolos para que ele pegasse o jeito do trabalho.

Apesar de sempre ter gostado de cozinhar, Alexandre não tinha planos de trabalhar com confeitaria. "Eu queria era ser jogador de futebol". Mas, com a mão na massa, percebeu que encontrou uma profissão pelo qual é apaixonado. "É algo que eu gosto e que me sinto bem fazendo. Mais para frente, quero me formar em gastronomia", fala. A paixão é tanta que os bolos que ele mais curte fazer são exatamente os mais trabalhosos. "Os meus favoritos são os bolos com flores, com pó de decoração", descreve. "A gente olha para ele e até sente orgulho do nosso trabalho." A voz de Alexandre se enche de emoção quando comenta de um bolo de dois andares, azul turquesa, que fez para a irmã. "Foi a primeira vez que fiz algo do tipo, sem nunca ter feito um curso, e de cara aprendi a fazer uma coisa dessas?", comenta.

E o tico teco?

Enquanto de dia confeitava bolo, à noite, Alexandre estava no bailão. O funk é seu gênero de música favorito. "Tuts Tuts quero Ver", do DJ Lucas Beat, e "Só colocadinha", da MC Drica, são as músicas prediletas. Na festa, o confeiteiro tinha até uma dancinha com os braços que era marca registrada. "Eu faço um passo com as mãos que eu sempre tinha que fazer", ri. O movimento foi incorporado aos vídeos que ele tem feito para o Tico Teco, como ele chama o TikTok.

A carreira na plataforma começou junto com a quarentena: Alexandre foi uma das 315 milhões de pessoas que fizeram o download do aplicativo no começo da pandemia de Covid-19. "Primeiro, fiz várias dancinhas, até que vi um menino que fez o challenge com um bolo". Ele percebeu que era a oportunidade de tirar uma onda e divulgar seus doces.

Ainda assim, o primeiro vídeo demorou a sair. "Fiquei prolongando demais, até que um dia decidi fazê-lo, mas ficou ruim", fala. Ele não quis publicá-lo e decidiu estudar um pouco mais a plataforma. "Vi vários vídeos de blogueiras e percebi que elas sempre tinham um cenário de fundo." Saiu de casa e foi comprar alguns metros de TNT preto para colar na parede da garagem da avó, com cola quente. "Eu faço os bolos na área de serviço e os vídeos na garagem, para que o fundo e a luz não mudem muito e as transições fiquem boas". Assim, ele gravou o desafio ao som de "Vai Segurando", do MC Dudu.

O vídeo que viralizou foi, no entanto, o ao som de "O Pai Tá OFF", do MC Teteu, com um bolo de chocolate e Alexandre munido de um boné laranja e o inseparável óculos modelo Juliet. "Eu só estava fazendo por fazer, minha família elogiava, mas não esperava nenhuma repercussão. De repente, eu estava na casa de uma amiga e começou a chegar um bocado de mensagens. Quando olhei no TikTok, o vídeo estava com mais de 500 mil visualizações". Além da plataforma, Alexandre também reuniu mais de 50 mil de docinhos, como chama seus seguidores, no Instagram.

Com muitas mensagens por conta das danças, o funkeiro-confeiteiro viu o número de pedidos crescer. Ele passa os sábados cozinhando para entregar bolos para as festas que acontecerão no fim de semana. "Meus amigos me chamam de famosinho, falam para eu não esquecer deles", brinca. O confeiteiro também mudou o estúdio de gravação: colou um TNT branco em cima do preto para mudar os ares. "Mas vou voltar para o preto, porque quero fazer um vídeo de Halloween".

Além de levar em consideração seu gosto musical, Alexandre também dança músicas que estão em alta -- e abriu o repertório para o arrocha e o brega. "No fim, fazer esses vídeos também se tornou uma maneira de matar a saudade do rolê", afirma. "A gente até faz algo entre a gente, aqui em casa. Fazemos tudo para não ficar parados."