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Nos EUA, mega fã de Trump puxa caravanas com candidato de papelão

O americano Bob Langdon ao lado do seu Trump de papelão, que ele comprou online. O mecânico de 71 anos faz pose em frente ao seu Trump-Mobile, um carro modificado de oito portas, estacionado na sua mecânica em Powell, cidade de 6 mil habitantes em Wyoming - Fernanda Ezabella
O americano Bob Langdon ao lado do seu Trump de papelão, que ele comprou online. O mecânico de 71 anos faz pose em frente ao seu Trump-Mobile, um carro modificado de oito portas, estacionado na sua mecânica em Powell, cidade de 6 mil habitantes em Wyoming Imagem: Fernanda Ezabella

Fernanda Ezabella

Colaboração para TAB de Powell, Wyoming (EUA)

04/11/2020 04h00

Enquanto Bob Langdon trabalha em sua oficina mecânica em Powell, cidade com 6 mil habitantes ao norte em Wyoming, seu Chevrolet Suburban 1982 amarelo está estacionado do lado de fora, na beira da avenida principal, ainda com a chave na ignição. Não é um carro qualquer — e dificilmente alguém vai levá-lo embora.

O veículo foi modificado e tem hoje quatro portas de cada lado, além de um gigantesco adesivo nas laterais, cartazes nas janelas e cinco bandeiras instaladas no topo. Langdon é um Trumper orgulhoso, inimigo do socialismo e transformou seu carro num "Trump-Mobile" para espalhar o evangelho sobre seu candidato.

"Acho que é muito importante que Trump seja reeleito. Ele é um salva-vidas para nosso país, sem dúvida. É o melhor presidente da minha vida", disse Langdon, 71, ao receber a reportagem na segunda-feira (02) em sua mecânica, que ele também transformou numa "Loja do Trump".

Entre pneus, ferramentas e garrafas de óleo, ele pendurou camisetas e cartazes que vende para os apoiadores do presidente americano. "O pastor da igreja ajudou a fazer o material, ele tem uma gráfica", explicou Langdon, vestido também a rigor, com boné e moletom da campanha Trump 2020. "Já vendi algumas centenas de dólares em camisetas."

Detalhe da mecânica de Bob Langdon, que transformou um canto da garagem numa "Loja do Trump" para vender camisetas e cartazes - Fernanda Ezabella - Fernanda Ezabella
Detalhe da mecânica de Bob Langdon, que transformou um canto da garagem numa "Loja do Trump" para vender camisetas e cartazes
Imagem: Fernanda Ezabella

"Trem do Trump"

O "Trump-Mobile", que ele comprou há 20 anos por mil dólares, é também conhecido como "Trem do Trump" por puxar caravanas de carros em comícios nas cidades da região. "Na primeira vez, reunimos 200 carros. Depois, 300. Foi muito divertido. Se fosse uma caravana para Biden, seriam quatro carros e uma reunião no Zoom", disse, sobre o candidato rival democrata.

Powell é uma cidade remota, baseada em agricultura e minério, perto da fronteira com Montana, e com 94% da população branca. É uma cidade republicana, num estado republicano. Pelas ruas, cartazes de Trump aparecem com frequência na frente das casas. Até uma bandeira dos Estados Confederados (polêmica por ser símbolo dos Estados do sul do país na Guerra Civil) foi vista hasteada numa casa na avenida principal.

Casa com a polêmica bandeira dos Estados Confederados na avenida principal de Powell, cidade em Wyoming com 6 mil habitantes - Fernanda Ezabella - Fernanda Ezabella
Casa com a polêmica bandeira dos Estados Confederados na avenida principal de Powell, cidade em Wyoming com 6 mil habitantes
Imagem: Fernanda Ezabella

A 200 km do parque nacional Yellowstone, Powell não é uma cidade turística, mas fica ao lado do museu Heart Mountain Interpretive Center, onde cerca de 14 mil japoneses — dois terços, com cidadania americana — foram obrigados a viver após o bombardeio de Pearl Harbor, em 1941.

Pela cidade, todos conhecem a carona de Langdon. Antes de Trump, o carro amarelo de oito portas era usado para transportar idosos de um centro da cidade e, mais recentemente, o grupo local de escoteiros. "Eles adoravam, achavam que estavam numa limusine", diz.

Na tentativa de ganhar mais adeptos para Trump, Langdon disse ao TAB que não entende por que muitas mulheres não gostam de seu candidato. "Se o país virar socialista, teremos a lei da Sharia, e as mulheres não têm direitos sob a lei da Sharia", disse, mesclando duas vertentes comuns de fake news (que os EUA vão adotar leis islâmicas e virar socialista com Biden).

Museu na região de Powell, Wyoming, sobre um dos dez campos onde mais de 120 mil japoneses foram obrigada a morar sob vigilância nos EUA após o bombardeio de Pearl Harbor em 1941. Aqui no Heart Mountain Relocation Center, moraram cerca de 14 mil japoneses, dois terços deles com cidadania americana - Fernanda Ezabella - Fernanda Ezabella
Museu na região de Powell, Wyoming, sobre um dos dez campos onde mais de 120 mil japoneses foram obrigada a morar sob vigilância nos EUA após o bombardeio de Pearl Harbor em 1941. Aqui no Heart Mountain Relocation Center, moraram cerca de 14 mil japoneses, dois terços deles com cidadania americana
Imagem: Fernanda Ezabella

Muito simpático e crente de suas ideias, Langdon também acrescentou: "Trump é o dono da franquia Miss Universo, como pode as mulheres não gostarem dele?"

Ainda que extremamente confiante nas chances de reeleição, o mecânico tem certeza que os democratas vão trapacear nas urnas. E, caso perca, o que ele duvida muito, Langdon pretende continuar dirigindo seu "Trump-mobile" pela cidade como um ato de resistência. "Mas talvez eu tire as bandeiras", concede.