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Simplicidade a alto custo: minimalismo virou só estética de Instagram?

Unsplash/Bench Accounting
Imagem: Unsplash/Bench Accounting

13/12/2020 04h01

Ter menos coisas e abrir mais espaço para ser quem se é, sem se preocupar em mostrar valores materiais. Apesar de ter nascido com uma proposta de redução do consumo, o minimalismo é estética. Virou desejo, virou "tem que ter".

Será que essa filosofia de vida entrou em contradição? O antropólogo Michel Alcoforado reuniu sua trupe de pesquisadores no CAOScast para debater o tema no 5° episódio do podcast veiculado em TAB.

São mais de 2 milhões de posts no Instagram com a hashtag minimalismo, só em português. Com os termos em inglês minimalist e minimalism, são mais de 33 milhões. Os posts trazem ideias de cores, decoração, estilo de vida, mudança de pequenos hábitos. "Essa tendência propõe uma relação ética, mas também estética com o consumo. Quando a gente fala em ser minimalista nesse sentido da tendência, isso tem uma cara. É usar preto, branco, cores lidas no mundo ocidental como neutras (...) Às vezes, quando a gente pensa no minimalismo, está pensando numa estética europeia, ou, nesse caso, nórdica", observa a pesquisadora Rebeca de Moraes no podcast. "'Tem até mesmo uma pegada elitista que esse minimalismo apresenta" (ouça acima partir de 31:37).

CAOScast vai ao ar todas as quintas-feiras.

Nas mãos dos jovens e de toda uma indústria que não quer deixar de vender e produzir, adotar um estilo de vida com "menos" muitas vezes se transforma em um desejo de compra. Mas será que você precisa mesmo trocar o seu sofá, a sua estante da sala e o rack da televisão por móveis brancos? Renovar seu guarda-roupas com peças caras e em tons neutros ou se mudar para um trailer minúsculo — mas bem decorado?

Os millennials — sempre eles — acabaram descolando aspecto estético do minimalismo da ideia social por trás do termo, avalia Moraes, quando a busca deveria ser por um consumo mais consciente.

O caminho seria, portanto, consumir de acordo com nossos valores. Uma ideia meio Marie Kondo de comprar apenas aquilo que nos traz felicidade, mas com uma pitadinha de utilidade também.

"Esse papo de 'menos é mais' é muito bonito e soa politicamente correto, mas na prática a coisa é muito mais complexa. A gente também não está falando aqui daquele povo que se diz minimalista porque tem a casa toda branca escandinava e usa roupa de Steve Jobs. Aqui é mais sobre entender o que faz sentido para você, inclusive na sua casa, depois que você compra um objeto", afirma Marina Roale, head de pesquisa da Consumoteca (a partir de 26:36).

Se você se interessou sobre o tema e quer ajuda para fritar as ideias e repensar seus hábitos de consumo, conte com o CAOScast. Dá para ouvir o episódio completo no link acima.