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Conversas sobre comportamentos e tendências que fazem a cabeça dos brasileiros


Ostentação: você teve vergonha de postar algo nas redes durante a pandemia?

Unsplash/Gabriella Clare Marino
Imagem: Unsplash/Gabriella Clare Marino

Do TAB

31/01/2021 04h01

Onde foram parar todas as fotos de comidas bonitas em restaurantes da moda, drinques com os amigos, domingos na praia? O Instagram mudou muito neste quase um ano de pandemia de covid-19, e não são só os influenciadores digitais que precisaram repensar o que pega bem ou mal postar nas redes sociais.

É claro que tem gente vivendo como se não houvesse pandemia e faz questão de mostrar isso, mas não precisa nem ter reunido 15 amigos no Ano-Novo para ficar com vergonha de ostentar algum deslize no distanciamento social. Mesmo quem tem quebrado o isolamento aqui e ali pode se pegar pensando duas vezes antes de postar uma foto que, antes da covid-19, seria natural nas redes.

O pesquisador Tiago Faria, por exemplo, conta no episódio do CAOScast desta semana que ele mesmo já se perguntou se valia a pena postar determinadas coisas sob o risco de parecer insensível. Para Michel Alcoforado, antropólogo e colunista de TAB, isso vem se refletindo em uma mudança na forma com que encaramos as redes.

"O Instagram tinha um sentido muito grande na coisa do feed, nessa ostentação do estilo de vida que as pessoas tinham, e nesse jogo elas estavam ostentando em geral o lugar onde elas estavam comendo, ou dançando, ou viajando, ou trabalhando, ou com quem elas estavam. Nesse novo modelo de vida, onde você está preso dentro de casa, nessa quarentena meia-bomba, acontece que o contexto de vida é um só, é a sua casa. E aí eu brinco que falta cenário para você conseguir ostentar todo dia um feed maravilhoso", diz ele no podcast distribuído por TAB (ouça abaixo partir de 28:59).

Quem ganha com isso é o TikTok. Redes que dependem menos de contexto para os posts acabam conquistando espaço. Tanto faz se você gravou dezenas de posts no seu quarto ou um em cada canto do mundo, no TikTok o que importa é a musiquinha que você está dublando, a dancinha que está fazendo. E a necessidade de postar, consumir conteúdo e nos conectar continua grande. "57% dos brasileiros no nosso mapeamento estão preferindo consumir conteúdos dos seus amigos e familiares neste momento", diz Marina Roale, head de pesquisa da Consumoteca. "Até porque está todo mundo longe, a gente fica com menos interação, e fica interessado em saber como aquela pessoa, que normalmente era próxima de mim, está lidando com essa adaptação de rotina na pandemia" (a partir de 25:14).

No fim das contas, postar durante a pandemia exige um pouquinho de sensibilidade, e a atenção deve ser ainda maior quanto mais seguidores você tem — principalmente aqueles que não te conhecem e podem interpretar algum post como alienação. Romantizar a pandemia nunca vai pegar bem, mas os caóticos lembram que não é preciso sentir vergonha de estar pessoalmente realizado, desde que atento ao coletivo.

"Muita gente fala que está se sentindo bem por vários aspectos do seu privilégio nessa quarentena, e fala de ter vergonha disso. (...) Acho que de fato o isolamento social para quem tem uma boa condição pode ser muito legal, pode ter coisas muito interessantes para se pensar de estar em casa. (...) A gente está falando aqui de pessoas que colocam isso num lugar que é alienante", reflete a pesquisadora Rebeca de Moraes (a partir de 13:13).

Para se aprofundar no debate da semana e ainda ouvir dicas de como usar as redes de forma mais empática nesse momento, não perca o episódio completo de CAOScast acima.