'Cosplay de Lampião' rouba cena e conquista fãs no Brazilian Day no Japão
Num fim de semana de calor intenso, um forrozeiro pernambucano andava a passos lentos nos arredores da estação de trem de Hamamatsu, no Japão. Não pelos 30ºC do dia ou pelo peso extra dos diversos apetrechos que carregava junto ao corpo, entre cantil, cartucheira e outros penduricalhos. É que Diego Silva Zabumbeiro, 45, mal conseguia andar 10 metros sem que fosse abordado por fãs pedindo uma selfie.
Diego dirigiu cerca de 80 km de Nishio (Aichi), onde vive, a Hamamatsu (Shizuoka), para participar do festival Brazilian Day, nos dias 3 e 4. A estrela era Toni Garrido, mas o "cosplay de Lampião" foi um dos mais celebrados — foi a primeira edição desde o início da pandemia e atraiu cerca de 25 mil visitantes; a maioria, já dispensando máscaras na festa que ocupou o equivalente a quatro quadras poliesportivas no entorno de um moderno shopping center. "Foi meu maior público", diz o forrozeiro.
Mais de 30 artistas ocuparam o palco ao longo do fim de semana, com samba, rock, rap, sertanejo e bossa nova, entre outros. Muitos deles trabalham em fábricas e, nas horas vagas, dedicam-se a seus talentos artísticos. Diego trabalha até 13 horas por dia como caminhoneiro. No tempo livre, é cantor de forró e se autointitula "embaixador" da cultura nordestina no arquipélago japonês.
No show de 40 minutos, cantou músicas próprias e covers de Luiz Gonzaga, Falamansa e Genival Lacerda. "É uma satisfação que esse nordestino arretado seja um embaixador da cultura nordestina não só no Japão, mas no mundo", comentou ao TAB João Lacerda, filho de Genival, em mensagem de áudio, feliz pelo sucesso de Diego em Hamamatsu, cidade com alta concentração de imigrantes brasileiros.
Ao descer do palco, o pernambucano posou para diversas fotos com o público, junto à amiga Ederly Tanabe, locutora de web-rádio, que incorporou Maria Bonita. "Para mim foi uma honra vestir esses trajes típicos. O peso da história que tudo isso carrega é deslumbrante", diz ela, que é paraense e está no Japão há 11 anos.
Entre estandes de agências de empregos e barraquinhas com quitutes como caipirinha, feijoada, baião de dois e açaí, eles foram tratados como celebridades. Foi uma surpresa para o forrozeiro novato, cuja carreira nos palcos começou há seis meses. "Cada vez mais convites começaram a aparecer, incluindo eventos japoneses, e não parei mais", conta. "Mas ainda não vivo da música."
O sertão é o mundo
Nascido na cidadezinha de Bom Jardim (PE), de 28 mil habitantes, Diego está há mais de duas décadas no Japão. "Saí do Nordeste, mas ele nunca vai sair de mim", define, com orgulho.
Assim como muitos conterrâneos, ele migrou para São Paulo na adolescência. Aos 20, conheceu uma paulista descendente de japoneses num baile de forró. Não muito tempo depois, eles se casaram e embarcaram na aventura "dekassegui", como são chamados os brasileiros que atravessam o mundo para trabalhar no Japão.
"Ia para bailes de forró todo final de semana e, no Japão, um país tão diferente, senti falta de ter onde curtir os sons da minha terra natal", lembra. Depois de seis meses no arquipélago, começou a dar aulas de dança para amigos interessados em aprender a malemolência dos ritmos nordestinos — também uma alternativa para amenizar a saudade das festas que frequentava no Brasil.
Trabalhando longas jornadas como operário, encontrou tempo também para apostar em outra iniciativa, o programa "Forró Sem Fronteiras", em uma rádio online, entre 2007 e 2010. Ainda que à distância, conseguiu se aproximar de agentes culturais e artistas brasileiros de forró e ritmos afins. O programa ficou fora do ar até 2019, quando Diego decidiu resgatá-lo e, para tanto, abriu sua própria rádio na internet, a Nagobraz.
Hoje, "Forró Sem Fronteiras" é retransmitido por outras 298 rádios (web e FM) espalhadas por 12 países, entre elas emissoras de Caxias (MA) e Caruaru (PE). Foi assim que surgiu, no fim de 2021, um convite para participar do 4º Encontro Nacional dos Forrozeiros, em João Pessoa, onde foi surpreendido por Geovane Júnior. O artista paraibano disse que tinha preparado uma música nova e convidou Diego para gravá-la junto num estúdio. "Não tive como dizer 'não'", lembra, rindo. "Nunca tinha cantado nem em karaokê."
"A experiência rendeu elogios de outros músicos e produtores, que agora têm apoiado a carreira de Diego: ele grava as vozes no Japão e as faixas são produzidas e finalizadas no Brasil. Doze já estão prontas e a ideia é que elas atravessem fronteiras. "O mundo mudou e se modernizou. E é muito bom podermos usar a tecnologia a nosso favor, mas para preservar nossas tradições."
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