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Militar veterano aguarda 10 horas na fila para ver caixão de Elizabeth 2ª

George Higgins, veterano da Scots Guards, perdeu a procissão mas foi o primeiro a ver o caixão da rainha na Catedral de St. Giles, em Edimburgo - Patrícia Dantas/UOL
George Higgins, veterano da Scots Guards, perdeu a procissão mas foi o primeiro a ver o caixão da rainha na Catedral de St. Giles, em Edimburgo Imagem: Patrícia Dantas/UOL

Patrícia Dantas

Colaboração para o TAB, de Edimburgo (Escócia)

13/09/2022 08h54

Uma multidão tomou conta de Edimburgo nesta segunda-feira (12) para se despedir da rainha Elizabeth 2ª. Pessoas vindas de diversas partes da Escócia e do Reino Unido chegaram cedo à Royal Mile, principal via da cidade, para acompanhar de perto o cortejo fúnebre do Palácio de Holyroodhouse rumo à Catedral de St. Giles, onde o corpo será velado por 24 horas.

Ao lado da esposa Heather, John Burleigh, 69, viajou da costa oeste da Escócia para prestar suas condolências.

"Ela era uma mulher incrível, exemplo pra todos nós, por causa de sua integridade, dignidade, carisma e humor. Tudo sobre ela é inabalável. Ela foi rainha por 70 anos e ajudou a tornar o Reino Unido uma grande nação. Por isso as pessoas querem vir aqui vê-la. Não é a monarquia, é uma família", disse Burleigh, vestido com o tradicional kilt.

Já as amigas Elaina Hall, 48, e Kim Sinclair, 60, pegaram um voo de Belfast, capital da Irlanda do Norte, para participar da ocasião.
"Chegamos ontem à noite e vamos pegar o voo hoje à noite de volta. Acordamos às 5 da manhã e chegamos aqui às 7h para pegar um lugar bem na frente da grade", contou Hall.

"Amamos a família real, especialmente a rainha. Ela fez tanto pelo nosso país. Viemos prestar nossas homenagens e ser parte da história. É muito bom estar aqui", acrescentou Sinclair.

Cadeiras, casacos, guarda-chuva, comida, água, sapatos confortáveis. Todo mundo veio preparado para aguentar várias horas de espera até o cortejo.

Enrolada em um cobertor, Marilyn MC Leear, 70, recordou com orgulho o dia em que conheceu a rainha.

"Era enfermeira de crianças. Há cinco anos fui convidada a uma festa nos jardins do Palácio de Holyroodhouse por meus serviços para o sistema de saúde nacional, antes de me aposentar. Apertei a mão da rainha. Foi um dia muito marcante", afirmou MC Leear, que viajou de Larkhall, cidade a 40 minutos de Glasgow.

John Burleigh e sua mulher, Heather, viajaram da costa oeste da Escócia para prestar condolências - Patrícia Dantas/UOL - Patrícia Dantas/UOL
John Burleigh e sua mulher, Heather, viajaram da costa oeste da Escócia para prestar condolências
Imagem: Patrícia Dantas/UOL

Melhor que sala de aula

A inglesa Katharine Caldwell, que mora na Escócia há 18 anos, não pensou duas vezes para deixar os quatro filhos "matarem aula" hoje para acompanhá-la.

"Sou de Londres, nasci perto de Windsor. E, claro, a família real sempre foi uma grande parte na minha vida. As crianças nasceram na Escócia. Eles deveriam ir à escola hoje, mas achei que seria mais importante elas estarem aqui. Queríamos prestar nossas homenagens e ser parte da história."

Uma de suas filhas, Charlotte, 9, veio com o kit completo para homenagear a rainha: um cão corgi, um ursinho Paddington, flores e uma carta.

Ann Fraser (à esq.) e sua neta Cara Macpherson - Patrícia Dantas/UOL - Patrícia Dantas/UOL
Ann Fraser (à esq.) e sua neta Cara Macpherson
Imagem: Patrícia Dantas/UOL

Todas as nacionalidades e idades

A americana Anna Cooper, 42, que mora em Edimburgo há dois anos, também levou as filhas Grace, 13, Maggie, 10, e Ellla, 5, e adotou a tática "lanches e tablets" para mantê-las entretidas durante a longa espera.

Cara Macpherson, 34, realizou o desejo de sua avó Ann Fraser, 80, quando sugeriu dirigir quatro horas do norte de Aberdeen até Edimburgo.

"Ela estava sentada ontem na mesa da cozinha acompanhando tudo pela TV e disse: 'Realmente gostaria de ir até lá.' Então decidi vir com ela. Nós respeitamos muito a rainha", contou Cara.

O que se notou entre todos os presentes foi um clima de generosidade. Idosos se alternando para sentar, pessoas oferecendo água, sanduíche ou salgadinhos umas às outras, adultos permitindo que crianças fossem à frente para obter uma visão melhor da procissão.

Quando o cortejo fúnebre finalmente passou pela multidão, no qual estavam presentes o rei Charles 3º, a princesa Anne, o príncipe Andrew e o príncipe Edward — os quatro filhos da rainha —, lágrimas escorreram no rosto de muitos enquanto a maioria tentava registrar o momento com seus celulares e câmeras.

"Você pode ver todo o respeito que ela recebeu pelo número de pessoas que compareceu na Escócia para prestar homenagens. Foi impressionante, toda a nação. Estou tão orgulhosa de ser escocesa, criamos algo marcante para manter de recordação da rainha", se emocionou Sarah Melville, 72, de Glasgow.

Fila para pegar a pulseira que dá entrada à Catedral de St. Giles, onde está sendo velado o corpo da rainha Elizabeth 2ª - Patrícia Dantas/UOL - Patrícia Dantas/UOL
Fila para pegar a pulseira que dá entrada à Catedral de St. Giles, onde está sendo velado o corpo da rainha Elizabeth 2ª
Imagem: Patrícia Dantas/UOL

Primeiro da fila

George Higgins, 61, veterano da Scots Guards, perdeu toda a procissão com os membros da família real britânica, mas foi o primeiro da fila para ver o caixão da rainha na Catedral de St. Giles. Ele esperou mais de 10 horas na fila.

"Cheguei às 6h45. Às 13h recebi a pulseirinha e viemos esperar aqui. Tive a sorte e o privilégio de ser o primeiro. Servi por 12 anos, estive em ação duas vezes na Irlanda do Norte", disse Higgins.

"Ela era minha chefe. Não é qualquer um que pode dizer isso. Eu e meus colegas podemos. Vim prestar as últimas homenagens, dizer adeus e agradecer Sua Majestade por tudo que ela fez por este país", acrescentou o ex-soldado.

Descrito por alguns dos presentes como "uma despedida mais intimista", o velório da rainha Elizabeth 2ª em Edimburgo vai até as 15h desta terça-feira (13). Às 17h, o corpo será transportado da Catedral de St. Giles até o aeroporto da cidade.

O caixão da monarca está previsto para deixar a Escócia em um voo às 18h rumo a Londres, na Inglaterra, onde seu funeral será realizado na Abadia de Westminster, na próxima segunda-feira (19). A data foi declarada feriado nacional no Reino Unido.