Vikings, elfos e dragões: festival reúne fãs de 'Idade Média' no Rio
Ao som de música celta regida pela DJ Luna Queiroz, jovens e famílias inteiras, inclusive avós, se reuniram na Feira Medieval Midgard, um festival no Uptown, na Barra da Tijuca, com mais de 40 barracas, de armaduras a produtos esotéricos no sábado (17) de sol no Rio de Janeiro.
Muitos dos visitantes estavam vestidos com trajes tidos como típicos da Idade Média, com toda a licença poética que o imaginário da época permite: orelhas de elfo, máscara de dragão, chifres de demônios, asas de fada.
Teve até quem, apaixonado por esse tipo de encontro, passou meses pensando no figurino. Foi o caso dos jovens Emanuelle Marques, 20, e Lucas Flores, 20, que pareciam sair de um filme de fantasia. Ela, uma princesa elfa. Ele, um demônio. "A ideia é se divertir", conta a estudante.
Num dos cantos, um casal exibia animais exóticos, uma cobra enrolada no braço dela, duas corujas pousando no ombro dele.
O dramaturgo Marcelo de Barros conta que se inspirou em encontros europeus para idealizar a feira na Barra da Tijuca para "celebrar as eras medieval e viking" — a ideia surgiu em 2019 e a primeira ocorreu em 2021.
Autor de uma peça intitulada "Judas Iscariotes e sua reencarnação como Joana D'Arc", Marcelo é produtor cultural há 15 anos e se diz apaixonado por história. Entretanto, pontua: "Aqui não é uma representação histórica de nada, é apenas uma reunião de apaixonados como eu".
Tarô, taberna e 'tribal fusion'
"Midgard" faz referência à terra dos vikings — na mitologia nórdica, há nove mundos e Midgard é um deles.
Uma das tendas vendia reproduções de escudos vikings e outras armas. Ali foi fixado um alvo para a prática do arco e flecha, e os jovens gritavam animados a cada vez que uma amiga acertava uma sequência de três flechas. Do outro lado, oraculistas buscavam certo silêncio para suas cartas de tarô e de baralho cigano.
"Desejo encontrar caminhos possíveis para que o consulente entenda sua realidade. Não é sobre o futuro, mas sobre o presente", conta a estudante Arkana Preta, 39, que oferece consulta de cartas e baralhos (R$ 70 por 30 minutos; R$ 100 a hora).
Ao lado de Arkana, a artesã Claudia Castro, 51, vendia vestuários caprichados feitos à mão, de braceletes de couro a armaduras (de até R$ 1.800). O público, diz ela, é principalmente de diretores de arte.
Artesanal também era o chope das barracas, apinhadas de amigos que riam e relembravam as edições anteriores do festival. Como se estivessem prontos para beber em uma taberna, uma rodinha mesclou referências de filmes e séries.
Tais Serra, 31, se fantasiou de taberneira. De preto e pochete, Maiara Nóbrega, 28, incorporou uma "dark elfa". De vestido preto, cinto de couro e um chapéu de cone, Cristiane Gonçalves, 45, diz que se inspirou no universo da bruxaria e na série "Outlander". Diego Bassos, 39, se vestiu de "Blade", o caçador de vampiros.
"É nosso hobbie sofisticado há 15 anos", conta Cristiane. Diego e ela já viajaram a outros estados para participar de encontros assim — o último foi o Taberna Folk, em São Paulo.
Na arena de atrações, bailarinas dançaram estilos como "tribal fusion". A festa foi embalada por hidromel — as bancas da bebida alcóolica, considerada uma das mais antigas do mundo, ficaram lotadas do início ao fim do dia.
Anoitecia e o vento frio arrepiava quem não estava preparado para os últimos dias de inverno no Rio. Mas a feira seguiu a todo vapor. Enquanto o público "comum" aos poucos ia embora, os fantasiados dominaram a noite, com suas indumentárias especiais e esotéricas e espadas de guerra. Ficou difícil andar entre as barracas.
Beirando às 19h, o silêncio entre os espectadores indicava um suspense para o show mais esperado do dia: o gaitista Alex Navar, considerado como referência mundial de gaita de fole irlandesa pelos organizadores.
Foi assim, ao som de gaita e com doses generosas de hidromel em copos de chifre ou de madeira, que o público aproveitou o friozinho para, em terras tupiniquins, imaginar-se em uma Idade Média de dragões, guerreiros e taberneiros.
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